terça-feira, 22 de abril de 2014

Bienvenus à Troyes

Ontem foi o grande dia. Bem, não propriamente porque este fim-de-semana ainda volto a Portugal para o baptizado da minha irmã/afilhada, mas ontem de madrugada já tive que me pôr a caminho de França.
Custou muito. Especialmente, quando a minha mãe se foi pôr a tomar banho às 3 da manhã porque cismou que havia de me levar ao aeroporto e depois se pôs a chorar quando eu não quis. Não quis despedidas desta vez porque, se me pusesse com choradeiras ontem, como é que ia ser quando, para a semana, eu efectivamente me mudar para cá sem data prevista para voltar a casa? Assim, é como se tivesse vindo passar uma semanita de férias... quase, vá. 
Bem, e lá fui eu para o aeroporto, de madrugada, com zero horas de sono, o estômago às voltas, as pernas a ficarem sem força e eu a pensar "não vou ser capaz, não consigo fazer isto. Vou mas é voltar para casa e fazer de conta que isto nunca aconteceu". Mas lá fui. Aterrei em Paris, sozinha, com 20 e muitos quilos para arrastar até à Gare de l'Est, exausta, acordada há mais de 24 horas, com frio e com medo (odeio andar em Paris, para quem não sabe). Tive que pedir ajuda várias vezes para não me perder, fui convidada para tomar café por um canadiano que me ajudou a encontrar a rua certa para ir da Gare du Nord à Gare de l'Est (no ano passado, o recepcionista do hotel onde fiquei também perguntou se me podia dar um abraço, logo a mim, que adoro essas coisas. Paris faz muito mal à cabecinha das pessoas, é só o que eu tenho a dizer) e, mal me sentei dentro do comboio que me ia trazer a Troyes, aterrei profundamente (durante 1 horita e pouco, que é o tempo da viagem). Aqui, em Troyes, já tinha a minha amiga, que cá está há dois anos, à minha espera e isso deu-me algum ânimo. Saber que não estou sozinha. Saber que ela está muito bem aqui e que, por conseguinte, eu também tenho hipótese de ficar bem.
Hoje acordei com a sensação de ter sido atropelada por um camião. Doem-me os braços, as costas, o pescoço... Malditas malas. E acordei com saudades dos meus gatos, gorduchos, que me dão tantas turras de manhã e a pensar que são os únicos que não vão conseguir perceber a minha ausência . Acordei com muitas saudades do meu namorado, que minutos antes de embarcar se lembrou de me pedir para não vir (boa maneira de me deixar mais calma, obrigadinha. Mas eu não podia não vir e tu sabes bem disso. Ia viver de quê? Tens é que vir para cá também, mexe-te lá a tratar das coisas, que senão vou aí buscar-te e arrasto-te até cá por uma orelha). Da minha mãe, do meu pai, dos meus irmãos e irmãs, avós, enfim, de toda a gente. 
Quando me andei a informar sobre emigração, via muita coisa sobre documentos, cursos de línguas, como arranjar emprego, diferenças salariais, enfim, todo um mundo burocrático. De vez em quando, lá aparece uma referência à parte emocional da coisa, mas muito breve. Do género "ah, pois, já me ia esquecendo de dizer, mas é muito triste emigrar. Têm que pensar bem", e ficavam-se por ali. Agora já percebi que ninguém se alonga muito sobre o assunto porque é uma dor tão imensa que, se uma pessoa se põe a explorá-la, o resultado inevitável é uma depressão profunda, mas daquelas de andar às cabeçadas às paredes. Já dei por mim quase a chorar várias vezes mas, para já, as lágrimas ainda não ganharam (é como eu estava a dizer, o truque é não pensar muito tempo no assunto).

6 comentários:

  1. Porque dizes que Paris faz mal à cabeça das pessoas?Eu gosto tanto da cidade...tenho a certeza que vais dar-te bem nessa aventura...Muita coragem!!!

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    1. Paris é uma cidade muito bonita para se visitar, mas depois de passares lá algum tempo começas a perceber que é uma cidade com um ritmo alucinante... para mim, não dá. E as pessoas são doidas =P ou então eu atraio doidos, que também é uma hipótese.
      Obrigada pela força (=

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    2. Mas também acho isso de Lisboa...não?

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    3. Ah, isso não sei. Não conheço assim tão bem Lisboa... mas vou acreditar (;

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