França é um país de grandes contradições. É um país rico, mas que tem uma segurança social que esbanja milhões. É um país avançado, mas em que metade das pessoas que trabalham não fazem a mínima ideia do que está a fazer. É um país que defende veementemente a liberdade e os direitos iguais para toda a gente, um país que recebe emigrantes de todos os cantos do mundo, mas que depois nos fazem sentir um pouco menos que seres humanos. Não me interpretem mal... ninguém nos anda a insultar na rua, nem ninguém nos atira pedras, nem ninguém nos trata mal. Mas, também não estejam à espera de fazer muitos amigos (franceses). Desde que cá estou que os únicos franceses que nos tratam com genuína simpatia são um professor do ginásio e os que são obrigados a trabalhar connosco. Se gosto? Não. Mas também não consigo dizer coisas como as espanholas, do género: "sempre que a França jogar no mundial, vou apoiar a outra equipa!". Não sou contra França. França é o país que me acolheu, que me deixou vir para cá viver, trabalhar e ganhar dinheiro. Ganhar mais dinheiro do que muitos franceses estão a ganhar. Portanto, como é que eu posso ser contra França?
Agora, se gosto que me tratem com uma pontinha de desprezo muito bem disfarçada de cada vez que se apercebem de que sou estrangeira? Não. Mas, sinceramente, não posso dizer que também não os compreenda. Com os milhares e milhares de emigrantes que têm aqui (milhões, até? Não sei bem.) acabam por ter de tudo... Emigrantes que vieram para trabalhar e pagar impostos e emigrantes que vieram para viver à custa da segurança social (que, efectivamente, é para lá de espectacular e eu não consigo perceber como é que é possível sustentar uma segurança social assim). Há emigrantes que aceitam os costumes do país para onde vieram (que não é mais do que a nossa obrigação) e emigrantes que se acham no direito de querer mudar o país que não é o deles. Não faz sentido irem fazer queixa à SNCF (o equivalente à CP, mas em França) porque ia um senhor na vossa carruagem a comer uma sandes de porco e a vossa religião não vos permite comer porco. Não faz sentido a vossa selecção ganhar um jogo no mundial e irem para a rua incendiar carros.
Quase todos os dias, ouço algum francês queixar-se de que às vezes acha que já nem vive em França, que já não sabe o que é França. E, tendo isto em conta, não terão um pouco de razão em estarem a começar a ficar fartos de emigrantes? É certo que paga o justo pelo pecador... Mas não consigo deixar de lhes dar um bocadinho de razão.
Concordo contigo...há emigrantes e emigrantes...tu de certeza que és uma das emigrantes que eles gostam...
ResponderEliminarAcho que esse "mal-trato" se deve a um sentimento de invasão de território, como sentissem que lhes estão a roubar a identidade - verdade seja dita, França sempre foi um país muito aliciante para emigrar, já desde dos anos 60.
ResponderEliminarSinceramente, não sei que dizer pois compreendo a situação de ambos e acho que nenhuma é fácil... :/
Beijinhos xx
França sempre foi um país bastante atrativo para os emigrantes de portugal continental, digo desta forma porque os madeirenses não emigravam muito para França. A escolha era África do Sul, Venezuela, Canadá, Jersey, Austrália... Já os açorianos preferiam EUA, Canadá, ...
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O mal realmente é como em tudo, pagarem uns pelos outros
ResponderEliminarSónia
Taras e Manias
Nasci e vivi em França até decidir emigrar de vez para Portugal, com 19 anos. Nunca tive problemas em fazer amigos franceses, apesar de ser filha de emigrantes. Claro que há sempre aqueles que nos julgam porque a nossa mãe é porteira e o nosso pai mecânico, mas de um modo geral, os portugueses são muito bem vistos em França. A minha família continua em Paris, vou lá frequentemente e não sinto essa animosidade. Agora que os franceses já não gramam os magrebinos e qualquer um que seja um pouco mais escuro de pele ou seja muçulmano, isso sim, vê-se bem, acontece mesmo. Não sei como são as pessoas em Troyes, mas em Paris, cidade cosmopolita e multicultural por excelência, tenho a certeza que farias muitos amigos, franceses ou não. O francês é bastante nacionalista (le français chauvin), mas gosta muito do português. Já vi que estás de volta à terra por uns dias, aproveita bem! Beijinho.
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