Down...

Há dias em que uma pessoa não devia sair da cama. Nem ligar o telemóvel, nem ir trabalhar, nem ter qualquer tipo de contacto com o mundo exterior. Porque há dias em que estamos sensíveis e em baixo e cansados e fartos do trabalho. Há dias em que dormimos pouco, em que temos saudades de casa e em que não nos sabemos exprimir (ou os outros não nos sabem entender) e a coisa dá para o torto. 

Há dias em que a assistente substituta da nossa super-assistente-que-está-de-férias nos irrita particularmente: aquela maneira de arrastar os pés (e arrastar tudo, em geral, que energia e vitalidade não são para ali chamadas), aquela maneira de ficar a olhar para nós depois de já lhe termos dito 30 vezes o que é que queremos que faça e que, obviamente, vamos ter que ser nós a fazer.

Há dias em que o namorado está particularmente picuinhas, porque também dormiu mal, porque acordou com vontade de perseguir uma carreira nas artes dramáticas, vá-se lá saber o que passa pela cabeça destes homens, e em que toda e qualquer tentativa de estabelecer um diálogo acaba, inevitavelmente, mal.

Há dias em que só nos apetece estar na cama, ver filmes lamechas e ter uma overdose de açúcar. Por isso mesmo, há dias em que é particularmente doloroso estar a mais de 1000km de casa. Porque não há espaço para dias assim. Porque é preciso levar a roupa à lavandaria, porque é preciso ir ao supermercado, porque é preciso ir aos correios, porque não há mais ninguém aqui para fazer estas coisas por nós. Porque ficar na cama nem sequer é uma opção quando estamos num apartamento emprestado, com um colchão de 30 anos e que nos rendeu umas contraturas novas nas costas. 

Há dias em que é particularmente difícil chegar a casa e não termos ninguém para nos ouvir, nem para nos limpar as lágrimas. Há dias em que o silêncio é tudo, menos o nosso melhor amigo.