quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Mais um ano...

E, pronto, cá estou eu de volta a França, mas desta feita, com mais um anito em cima do lombo. 26. Já começa a parecer idade de pessoa adulta e (minimamente) responsável.
Só minimamente? Sim, só minimamente. E acho que isso se pode confirmar pelas peripécias que tive com esta minha mini-viagem a Portugal. 
Ora, no sábado saí eu muito contente do trabalho: era cedo, estava sol, ainda vim a casa almoçar, peguei na minha mala (que não iria pesada, não tivesse eu comprado mais de 30 tabletes de chocolate para distribuir pela família e amigos) e toca a marchar para a estação. Cheguei lá com mais de meia hora de antecedência e fui sentar-me no cubículo envidraçado sala de espera da Gare de Troyes com o meu livrito (em francês, para me misturar com os nativos). Cinco minutos depois, chega uma senhora com uma criancinha. A senhora senta-se, muito confortavelmente, e saca do telemóvel; a criança alapa-se num canto, com um ar muito amoroso. Estava eu, precisamente, a pensar no quão amoroso parecia o menino, quando ele desata a gritar a plenos pulmões "NE PAS TOUCHER" e outras frases em "criancês" que eu não consegui decifrar. E assim passou 20 minutos: aos gritos por razão nenhuma. E a mãe? Pois, a mãe estava ocupadíssima a jogar Candycrush e há que deixar o menino fazer o que quer: ele virou as malas das pessoas ao chão, gritou, deu murros às paredes, andou a correr por cima dos pés de toda a gente e a mãezinha? Era duma paz de alma que só visto. Houve uma senhora que, do alto dos seus cabelos brancos, ainda o mandou calar com um ar bastante ríspido, mas está bem, abelha. Isto da autoridade, claramente, era uma coisa que não assistia àquela criança. Já estava eu a ferver e com vontade de lhe dizer "havias de ser filho da minha mãe que tu vias já o que era bom para a tosse!" quando me resolvi a pegar na minha malita e a mudar de poiso. Entrei no comboio, tranquila da vida, com o tempo todo controlado, chego a Paris, marcho para a Gare du Nord (só o sítio mais detestável e mal cheiroso do mundo), entro no RER e suspiro de alívio: ia chegar cedo ao aeroporto. Era só tentar respirar o mínimo possível pelo nariz e tudo havia de correr bem. Pois. Nunca poderia ser assim tão fácil. O RER pára na primeira estação a seguir à Gare e soa um aviso de que a circulação tinha sido cortada nos dois sentidos e que não íamos voltar a andar durante, pelo menos, uma hora. Comecei a hiperventilar. Lá saí do RER, numa estação que não conhecia, com gente por todos os lados, pessoas a atropelarem-se umas às outras, a correrem para a superfície para apanharem um taxi. Lá tive eu que me arrastar a pé pelas escadas (a mim e à mala), que as escadas rolantes estavam avariadas e eu já não estava em condições psicológicas de procurar um elevador. Quando cheguei à rua, o meu coração parou de bater por segundos. Senhores, que aquilo parecia o Kosovo. Era gente por todo o lado, manifestação a decorrer mais ao fundo da rua, barulho, trânsito que não andava. Encontrei um polícia e pedi-lhe para me dizer onde podia apanhar um táxi: fosse isto em Portugal e o polícia chamava ele próprio um táxi, mas aqui não. Aqui, lá fui eu e a minha mala cor-de-laranja, rua fora à procura dum dito cujo. Todos ocupados. E parados no trânsito. Comecei a sentir-me mal, literalmente. No meio daquela multidão, do calor, da gente que se atropelava por todos os lados, comecei a ficar com falta de ar e a pensar que ia perder o voo. Bati à porta dum restaurante, que estava fechado, e o senhor que estava a limpar copos atrás do balcão veio abrir-me a porta. Mal ele pergunta se está tudo bem, começo eu a chorar como uma Madalena arrependida e a pedir-lhe para, por todos os santinhos, me chamar um táxi que eu só queria chegar a casa para me cantarem os parabéns. O senhor chamou-me um táxi, deixou-me ficar no restaurante à espera, chegou o táxi e, 50€ e 45 minutos mais tarde, já eu estava no aeroporto, a tempo de apanhar o meu voo.
Os dias em Portugal foram muito bons: só miminhos e comidas boas, prendas de anos (muita roupinha nova, que depois mostro, livros em português, tal como eu tinha pedido, e um super tablet que o meu namorado me deu), muito sol e esplanadas. Cada vez acho Portugal mais bonito. 
Como tudo o que é bom dura pouco, chegou rapidamente o dia de voltar, que foi hoje. Nada de dramas, nada de atrasos, tudo nos conformes. Mas, quando saiu da Gare du Nord para ir até à outra gare, onde apanha o comboio para Troyes, aqui a querida e fofa meteu-se por uma rua que não era a do costume. Eu achava que, mesmo assim, estava na direcção certa mas, como eu sou a desorientação em pessoa, decidi que era melhor perguntar a alguém. "Toda a gente nesta rua tem um ar um bocado esquisito", pensei eu, inocente. "É melhor entrar aqui no primeiro café que aparecer e perguntar." E entrei, toda senhora de mim mesma. Como trouxe uma mala pesadíssima (a minha mãe tem um dom para fazer malas. Cabe tudo e mais alguma coisa. Só que cabe tanta coisa que ela acha sempre que me vai dar jeito trazer mais isto e aquilo e, já agora, só mais um par de meias, que ainda tens aqui um espacinho, e eu que me lixe depois a carregar tudo), não olhei em volta para o café. Simplesmente baixei a cabeça para o chão e toca de erguer a mala com os dois braços a puxar em simultâneo para a fazer subir o degrau da entrada. Já lá dentro e a pensar "isto até correu bem" é que levantei a cabeça de repente e olhei à volta. "F***-**", foi a única coisa em que pensei. Estavam todos muito estupefactos a olhar para mim e eu muito estupefacta a olhar para eles. Onde é que eu estava? Numa casa de putas meninas, claro está, que isto comigo é assim, um sem fim de experiências. Respirei fundo e olha-que-se-lixe-agora-também-não-vou-perder-a-compostura. Lá perguntei o caminho, foram muito simpáticos e educados e eu voltei a fazer-me à estrada.
Desta feita, já estou em Troyes. E já chega de aventuras por uns tempos, que o meu pobre coração não aguenta tanta emoção junta.

7 comentários:

  1. Hahaha,bem...que aventura!

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  2. Sofia....foi uma excelente entrada nos 26 anos...n te esquecerás mais!!!!

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  3. Xiçaaaaaaaaaaa! Que AVENTURA. 26 aninhos em Grande.
    Também eu tenho a tua idade… Mas fiquei sempre nos 25.
    Toda as pessoas que me perguntam a idade respondo "25 anos".
    LOOOOOL :)

    Beijocas*

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  4. ahahahah Ai mulher, que barracada.

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  5. Pelo menos será memorável :)



    Sónia
    www.tarasemanias.pt

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  6. Uma nunca vem só, credo! :o
    Mas enfim, muitos parabéns e muitas felicidades! Esta foi uma aventura em tanto! Ao menos será para sempre memorável... eheh
    Espero que esta volta a França tenha custado menos :/

    Beijinhos xx

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  7. Nossa, tanta emoção! Ri-me tanto com a parte em que te enfiaste na casa de meninas ahah isso é que foi pontaria! :p

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