terça-feira, 19 de maio de 2015

Já agora, também tenho uma opinião a dar

Ora bem, parece que o facto do nosso Presidente da República ter dito que eram precisas medidas para fazer com que os nossos jovens emigrantes voltem está a criar uma onda de indignação. Eu também tenho uma ou duas coisas a dizer sobre o assunto.

Primeiro: não estou indignada. Acho, no mínimo, normal (e, até, inteligente) que queiram que a gente volte. Dum momento para o outro, o país vê-se a ficar sem uma geração extremamente importante: a geração que estudou. que trabalha, que paga impostos, que faz descontos para a Segurança Social e que, consequentemente, assegura as reformas de muita gente e, a cereja no topo do bolo, que tem filhos para que sejam eles, um dia, a assegurar tudo isto. Portugal está a ficar um país de velhos, a taxa de natalidade a descer, cada vez mais e mais jovens a virem embora porque a nossa casa não nos oferece condições decentes.

Segundo: eu adorava voltar.
Agora, vamos explorar um bocado esta parte da questão. Não vou perder tempo a descrever a minha situação em Portugal durante os dois anos e meio em que aí estive depois de sair da faculdade. Já todos estamos cansados de ouvir falar de recibos verdes, descontos absurdos para impostos e segurança social, de horas de trabalho que nunca chegam ao fim (mas alguém se fica, realmente, pelas 40 horas semanais?), de folgas que não são respeitadas e férias que nunca chegamos a ver e do dinheiro, que tem que ser muito bem partido, repartido e esticado para chegar ao fim do mês com as contas todas pagas e sem passar fome. Vamos, antes, analisar a minha vida em França:
Trabalho 35 horas por semana, maravilhosamente repartidas em 3 dias em meio. Ora, para que fique tudo muito bem explicado, isso faz 3 dias e meio de trabalho e 3 dias e meio de descanso por semana. Sim, eu estou de folga durante metade da semana e trabalho a tempo inteiro. Tenho um mês e meio de férias por ano, além das já mencionadas folgas, férias essas que são remuneradas e, mais importante ainda, respeitadas. Se precisar de pedir para trocar dias de trabalho, sair mais cedo ou entrar mais tarde, não preciso de sofrer por antecipação, transpirar e ter pesadelos nos quais sou imediatamente despedida só por ter tido a "audácia" de pedir um favor. E o meu salário? Bem, nem vamos entrar por aí. Em Portugal, apesar de ter que fazer alguma ginástica e uma vida minimamente regrada, já ganhava aquilo que se considera como "não é mau" (adoro esta expressão, vocês não? Ninguém quer "não estar mal", nós queremos estar bem), mas aqui nunca tenho que me preocupar se vou ter dinheiro que chegue para a renda, para o supermercado, para comprar os voos para ir a casa. Claro que não posso comprar tudo o que me aparece à frente, mas faço aquilo a que se pode chamar uma vida "desafogada", sem grandes preocupações ou contas de maior, posso ir comer fora, posso ir ao cinema, posso fazer compras, posso viajar e ainda me sobra dinheiro. Aliás, espantam-me imenso os maus resultados a matemática em Portugal, porque desde que cá estou que me apercebi que se há país onde uma pessoa é obrigada a fazer contas é o nosso, chega a ser mesmo uma questão de sobrevivência. Não quero com isto dizer que a minha vida seja perfeita. É muito difícil estar longe de tudo e de todos. Não há adjectivos, lágrimas ou tentativas de descrição suficientes, só quem passa por isso é que sabe como é. Deixei os meus irmãos, os meus pais, os meus avós, o meu namorado, os meus amigos, o meu país, a minha praia, as meias de leite e as torradas, os pastéis de nata e as francesinhas, o meu rio Douro e as minhas esplanadas à beira-mar. Para vir viver sozinha, a mais de 1000 km de tudo e todos que alguma vez conheci.
E agora querem que eu volte? Então arranjem-me estas condições no meu país. Vá, já não vou ser assim exigente, posso ceder no horário de trabalho que com 40 horas também ninguém morre (mas são 40 e não 50, está bem?) e aceito uma ligeira redução no ordenado. Fica assim combinado e vou já fazer as malas. Ah, mesmo assim não vão conseguir proporcionar-me isto tudo? Então lamento, mas não vai dar.

5 comentários:

  1. Compreendo perfeitamente o que aqui dizes e apesar de nunca ter trabalho fora de Portugal, compreendo-te e dou-te razão. É isso mesmo...infelizmente.

    Mas falando do lado positivo, ainda bem que actualmente estás numa situação melhor! Isso é muito bom.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigada (=

      E, quem sabe, pode ser que um dia até dê mesmo para voltar...

      Eliminar
  2. O que fazes em França, por curiosidade? :) (área de trabalho)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. O mesmo que fazia em Portugal: sou dentista, Mas aqui sim, vale a pena ser dentista

      Eliminar