terça-feira, 2 de junho de 2015

Mais um texto sobre as licenciaturas em Portugal...

Agora chamam-se "mestrados integrados", mas toda a gente sabe que vai dar ao mesmo. E vamos falar sobre isto porquê? Porque acho que é uma temática que ainda não foi debatida o suficiente (é favor ler esta frase com uma entoação irónica).
Apesar de ser um assunto mais conhecido que o tremoço, continua a não levantar tanto interesse como o campeonato de futebol ou os vestidos dos Globos de Ouro mas, fazer o quê, as coisas são mesmo assim. E é pena. É pena que sejamos uma geração que se indigna tanto e, por outro lado, tão pouco.

Ultimamente ouve-se muita gente dizer que Portugal tem licenciados a mais e, logo a seguir, muita gente a responder que não, que nunca podem ser a mais.

O que é que eu acho? 

Primeiro, acho que em Portugal há, claramente, a cultura do diploma e do "sô dotor" e do "sô engenheiro". Toda a gente acha que tem que tirar um curso. Um curso qualquer, pouco importa se gosta, se tem jeito, se vai ter emprego, o que importa é ter o curso, o diploma e um título. Continuamos a ser um país em que se dá mais valor a alguém com um curso superior que a uma empregada das limpezas. Esse é o primeiro ponto em que estamos tão estrondosamente errados. Todas as pessoas valem o mesmo como seres humanos, independentemente do que fazem para ganhar a vida (desde que não andem a roubar ou a matar, vamos manter-nos dentro da legalidade, vá). Não vai servir de muito um país cheio de doutores se depois não vamos conseguir encontrar ninguém que seja capaz de nos explicar porque é o carro está a fazer um barulho estranho ou substituir os azulejos da casa de banho. Toda a gente devia ter o direito a poder ter uma boa qualidade de vida, independentemente do que faz (ao contrário do que temos agora, em que, independentemente do que façamos, estamos sempre na merda e para não estarmos ou temos que ter cunhas, ou primos ou saber do segredo de alguém). Eram precisos salários mais justos, impostos mais baixos, era preciso darem pernas às pessoas e às famílias para elas poderem andar. Era preciso acabar com a cultura instalada dos estágios, essa praga, que não passa duma valente treta para nos dar a ilusão de que estamos a diminuir o desemprego. Era preciso acabar com a mentalidade de que "o que é bom é ter trabalhinho, mesmo que trabalhes 10 horas por dia, 6 dias por semana, para teres 500€ na conta ao fim do mês, porque mais vale isso do que estar em casa!". Nós queremos trabalho, não escravatura. Porque é que a senhora que nos limpa a casa não pode ter direito a ir passar uns dias ao Algarve com a família? Não trabalhou o ano inteiro? Pois então, tem tanto direito a descansar como qualquer outro. 

Segundo, Portugal tem, de facto, licenciados a mais. Mas também tem licenciados a menos. Passo a explicar. Na hora de decidir quantas vagas vão ser abertas para que cursos, é preciso ter em consideração as necessidades do país, no presente e no futuro, ou então dá cagada (como está a dar). Não se podem formar dentistas, enfermeiros, psicólogos, designers, entre tantos outros, aos pontapés, como se tem feito. Nem se podem continuar a deixar os médicos que trabalham no serviço nacional de saúde completamente sobrecarregados, como estão. É preciso fazer as coisas conscientemente. Portugal tem, neste momento, tantos licenciados a serem formados em algumas áreas que até para os mercados de trabalho estrangeiros começam a ser demais e as portas estão a fechar-se, cada vez fazem mais exigências e querem mais anos de experiência. É preciso reduzir drasticamente o número de vagas em muitas áreas e aumentar noutras. Lá está, é preciso fazer as coisas com cabeça e não aos pontapés e ao melhor estilo de República das Bananas, no qual somos verdadeiros especialistas.
Não tarda muito vamos ser o país onde se vai poder fazer uma sessão de psicoterapia enquanto se pagam as compras no hipermercado porque a menina da caixa vai ter uma licenciatura (mestrado integrado, desculpem!) em psicologia e depois vamos querer encontrar um serralheiro e vamos correr o país duma ponta a outra sem sermos capazes de encontrar nenhum que faça a mínima ideia do que está a fazer. 

7 comentários:

  1. Não poderia estar mais de acordo contigo! Infelizmente esta é a realidade de Portugal para além de ser o país dos papelinhos ainda há muito aquela mentalidade do "Sô dotor". E a questão dos licenciados é realmente um tema que me assusta. Estamos a formar pessoas a mais em áreas desnecessárias e depois quem sofre com isto tudo são os jovens que não conseguem arranjar um emprego na área de formação, nem cá, nem lá fora. Se por um lado o limite de vagas em determinadas áreas poderia ser uma solução para combater este "excedente" por outro lado tenho a certeza de que se iria estar a negar o direito à educação de jovens que querem/gostam/ têm realmente vocação para determinada área. E este é outro dos problemas: as pessoas inscrevem-se em cursos a pensar no futuro e no prestígio de que lhes poderão trazer, não interessando se têm vocação ou não, apenas interessando a média do secundário. É por isso que na maioria dos postos de trabalho as pessoas se sentem tão frustradas e infelizes, e isso, para mim, ainda é uma questão mais preocupante. Eu acredito que toda a gente deve ser livre de escolher no entanto acho que essa escolhas não deveriam castrar o futuro de outras pessoas apenas por uma questão de números...
    beijinhos e boa reflexão!
    http://direitoporlinhastortas-id.blogspot.pt/

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  2. R: É um macacão :)
    Gostei do blog!
    Beijinho*
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    http://andreiiaad.blogspot.pt/

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  3. Nao podia estar mais de acordo!!

    http://fashionwalkinbrussels.blogspot.com/

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  4. É realmente triste que em Portugal só se saiba dar valor aos "doutores" e desprezar outras profissões também válidas! Enfim...quero acreditar que ainda assim a mentalidade tem evoluído um pouco que seja. Não sei bem. Mas espero que sim.

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  5. Primeiro, acho que em Portugal há, claramente, a cultura do diploma e do "sô dotor" e do "sô engenheiro"
    Não podia concordar mais com isto

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  6. R: Muito obrigada querida!! :)
    Beijinho*
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