quinta-feira, 21 de julho de 2016

Falando de coisas sérias

Esta época é marcada, essencialmente, por duas coisas: pessoas de férias e que passam o tempo a partilhar fotografias de praias e paisagens maravilhosas, para darem raiva a quem ainda está a trabalhar (tipo eu) e as míticas conversas sobre o acesso ao ensino superior. Também eu passei um verão angustiada, entre exames nacionais (e problemas pessoais), mas isso já foi há 10 anos atrás (literalmente... nossa, como o tempo voa) e, desde aí, é uma questão que me passa um bocado ao lado.

Mas, hoje vi uma notícia com um título fantástico, que me chamou a atenção e que dizia que alguns dos cursos com mais taxa de desemprego em Portugal mantiveram o mesmo número de vagas. Mas estamos a brincar ou quê?

Já falei sobre este tema inúmeras vezes e, antes que me soltem os cães e me venham com conversas de activistas de esquerda sobre o facto de todos termos direito às mesmas oportunidades, eu aproveito para deixar bem claro que eu também concordo que devemos todos ter direito à oportunidade de ingressar no ensino superior, se for essa a nossa vontade. Com o que eu não concordo, e podem vir com quantos discursos quiserem, é com a mentalidade que se criou de que toda a gente tem que ter um curso, independentemente de ter vocação ou vontade. Já ouvi muita gente dizer "eu só tenho que tirar um curso qualquer" ou "só preciso do diploma para fazer a vontade aos meus pais". Isto, aliado ao facto de se abrirem vagas indiscriminadamente, sem a mínima consideração pelas necessidades reais do país, foi (e continua a ser) a receita para o desastre. Somos um país cheio de doutores, parte dos quais acabam a arrumar prateleiras no IKEA, outra parte arranja emprego em condições deploráveis (e chegam a ter inveja dos que ficaram no IKEA) e outra parte faz as malas e emigra (como eu). 

E tudo isto tem por base um problema social ainda mais grave, que é a idolatração do estatuto de "doutor" ou "engenheiro" ou "arquitecto", porque só esses é que têm direito a salários decentes e a melhores condições de vida, o que é patético. Ninguém devia precisar dum título para ter direito a uma vida digna. E, agora, já nem o título é garantia de nada.

Até quando é que isto vai continuar?

26 comentários:

  1. Eu poderia ter escrito este post, porque tenho exatamente a mesma opinião que tu! Pior, é fazerem reportagens sobre a "empregabilidade" dos cursos nos 0% iludindo as pessoas a acharem que ha lugar garantido para todos, quando na verdade não é bem assim.
    Por onde anda a Sofia?

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    1. E mesmo em cursos que já se sabe que não dão emprego a ninguém, continuam a inscrever-se centenas de pessoas todos os anos! É uma autêntica loucura...

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  2. Um dos grandes problemas do nosso sistema de ensino é a obsessão por cursos e canudos e um desprezo total pelas profissões.
    A verdade é que qualquer um tem um curso. Não é algo que difere inteligentes de burros. Agora a maioria nunca será bom numa profissão.
    É necessário mudar, não só o modelo mas também a mentalidade e perceber que os dons e aptidões são muito mais importantes que qualquer curso superior.

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    1. Exacto! Concordo plenamente (=

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    2. Não podia concordar mais!

      Portuguese Girl with American Dreams
      http://fromportugaltonyc.blogspot.com/

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  3. Eu concordo em parte com o teu ponto de vista, mas há que manter os cursos abertos. As pessoas não têm de escolher outro curso se não têm vocação. Se estão conscientes que dá desemprego e entram é porque realmente é o que querem/ambicionam.

    Beijinho

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    1. Isso é desperdício de dinheiro público... Não faz sentido gastar dinheiro na formação de alguém que vai para o desemprego ou que vai emigrar. E eu não sugiro fechar cursos, mas há cursos em que é urgente reduzir vagas... E depois se for uma questão realmente de vocação, ok, até posso estar de acordo. Mas 90% das vezes é só "porque sim"

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  4. É uma situação complicada de facto, eu acho que temos mesmo que simplificar e descomplicar, devemos seguir é o que gostamos de fazer e o que fazemos melhor independentemente de todo o resto! Se for o que gostamos mesmo de fazer as chances de falhar são sempre menores :)
    Bj S

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  5. Acho que os problemas não são tanto as vagas, mas sim haver muita gente a tirar "só porque sim" como tu dizes. As vagas não seriam um problema, se as pessoas não fossem tirar cursos só porque acham que é o que devem fazer, sem qualquer vontade nem motivação. Porque acho injusto reduzirem-se vagas pelo facto de que ainda há gente que escolhe os cursos porque gostam da área. E a parte de que já nem os cursos valem de nada... é bem verdade e já tanto falei disso que já cansei. É uma tristeza e está cada vez pior.

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    1. As vagas continuam a ser um problema... Por exemplo, na minha área, as vagas são claramente um problema. Já temos dentistas suficientes para os próximos 20 anos e continuam a ser formados o mesmo número de dentistas todos os anos. Para quê? Para depois emigrarem? Até em França já gozam connosco, porque como é que um país de 11 milhões de pessoas forma tantos dentistas por ano que um país de 60 milhões?

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  6. A mania dos doutores é muito irritante e já estava na hora de desenvolvermos nesse aspecto.

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    1. Já passou da hora, é preciso ultrapassar isso para ontem!

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  7. Concordo plenamente contigo! Acho que felizmente começa a mudar com as novas gerações...
    Beijinhos*

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    1. Eu ainda não sinto diferença nenhuma, mas espero que tenhas razão e que comece a mudar =\

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  8. Subscrevo tudinho!
    beijinhos
    https://direitoporlinhastortas-id.blogspot.pt/

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  9. Hey, querida! :)
    Espero que estejas bem!
    Tive IMENSAS saudades de visitar o teu cantinho! :)
    Concordo plenamente contigo! Conheço imensas pessoas que ingressaram ou querem ingressar no Ensino Superior somente porque querem satisfazer os seus pais ou porque acham que os cursos profissionais ou profissões mais práticas não os levarão a lado nenhum. Muitas vezes, os cursos não lhes correm nada bem e desistem ou então andam desmotivados a pensar naquilo que seguirão. Enfim! :(
    Beijinhos e bom fim de semana!

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  10. Eu sou de esquerda (sou até filiada num partido, ahah) e, talvez devido a isso e à minha formação académica, tenho uma visão um bocadinho diferente. Por um lado concordo absolutamente contigo: não, não é obrigatório termos todos cursos superiores. Mas não acho que as vagas devam ser ajustadas às necessidades do país, porque acho que um curso superior não deve ter em vista apenas a empregabilidade. Claro que depende dos cursos, mas eu acredito que a principal função das universidades é formar cidadãos pensantes, não trabalhadores. Enfim, acho que as universidades e os cursos não devem responder às leis do mercado de trabalho.

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    1. Isso seria muito bonito num mundo ideal, em que depois toda a gente tivesse direito a condições de vida decentes, mesmo que não arranjasse emprego na área, o que não acontece. Andamos a formar escravos, que se sujeitam a condições de trabalho degradantes, e andamos a formar emigrantes. Acho que tens razão quando dizes que as universidades devem formar cidadãos pensantes, mas se não há emprego, depois são outros países que vão beneficiar desses mesmos cidadãos pensantes.

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    2. Mas cidadãos pensantes (e não estou a dizer que quem não frequenta um curso superior é ignorante, mas muitos cursos dão ferramentas intelectuais e sociais que dificilmente encontrariamos de outra forma) opõem-se mais veementemente às más condições de trabalho. Eu prefiro ser um cientista social a saltar de bolsa em bolsa que uma pessoa precária com o 12º ano. E prefiro ser uma cientista social emigrada que ser uma trabalhadora não qualificada no meu país. Será justo uma pessoa com potencial não ter acesso ao ensino superior porque as perspetivas não são animadoras ao nível do emprego? Quem sabe o que essa pessoa poderá fazer depois? Pode até não encontrar vaga na sua área de formação e aplicar os seus conhecimentos de outra forma. Não acho que seja uma ideia idealista, felizmente é isto que se passa no nosso país - toda a gente, desde que tenha média, pode fazer o curso que quer. No meu curso havia uma turma de pós-laboral, de adultos (alguns deles com outros cursos superiores) que tinham os seus empregos e decidiram frequentar Antropologia. A maioria dessas pessoas não vai ser antropóloga, mas o conhecimento que adquiriram, as pessoas que vão influenciar no seu dia-a-dia, etc., não são coisas traduzíveis em leis de mercado e somas monetárias. E ainda bem.

      Mas lá está, não vamos concordar porque eu não acho que as universidades devam estar formatadas para o mercado de trabalho.

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    3. Mas isso é uma escolha pessoal, quereres fazer um curso porque, mesmo não sendo uma coisa em que queiras forçosamente trabalhar, seja algo que te interessa, parece-me óptimo e lá está, vai de acordo ao que digo de que todos devem ter a oportunidade de ingressar no ensino superior, se for essa a sua vontade. Não digo que se deva barrar o acesso ao ensino superior, nunca disse isso. Mas para quê formar 600 dentistas por ano, quando passávamos bem com 200? Ou menos, neste momento. E quem diz dentistas, diz outras coisas. Um médico dentista é uma pessoa com uma formação muito específica e que só vai dar para fazer aquilo (ou para trabalhar como caixa no supermercado, como já há alguns). E mais de metade desses 600 dentistas nem sequer queria ser dentista, só queriam tirar um curso e, olha, calhou aquele, porque tinham média e haviam vagas

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    4. Além de que 90% se mete num curso a pensar numa profissão, numa coisa que vai fazer para o resto da vida, portanto, a questão da empregabilidade é importante. Depois se preferem andar a saltar de bolsa em bolsa (e acredita que te vais fartar disso em três tempos), é a escolha de cada um. Mas é impossível dissociar o ensino universitário de empregabilidade

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  11. Percebo a indignação. Realmente há muitas coisas que não batem certo. Há tantas coisas a precisarem de ser mudadas. Principalmente as mentalidades. Não devíamos querer ser um país de doutores... Devíamos querer ser um país competitivo... Gostei do texto.
    Um beijo.

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  12. Isso de fazer o curso por causa dos pais dá mesmo muito mau resultado... mas há muitos casos assim, sem dúvida! Uma bela porcaria!

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  13. Concordo com o que dizes. Formação e educação, tudo bem, e é bastante necessário para o desenvolvimento de um país. Agora tinha é que haver uma reestruturação dos cursos que existem e adequar a oferta à procura.
    Porque é tudo muito lindo mas cada aluno no Superior custa dinheiro ao Estado (e quando digo Estado, digo nós, todos os contribuintes). E andar a gastar dinheiro para, por exemplo, outros países, aproveitarem o conhecimento é pôr dinheiro fora. É desperdício de recursos.
    E sim, Portugal ainda é muito pequenino de mentalidades, pois tem que se ser doutor ou engenheiro para se ter valor. É triste ainda se ter este tipo de mentalidade :(
    Boa semana!

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  14. Faço das tuas minhas palavras. E fico chocada com a quantidade de doutores e engenheiros por aí que se gabam do seu canudo, que se acham melhores que eu porque apenas tenho o 12º ano, a darem erros nas redes sociais nas palavras mais básicas como por exemplo trocar o s pelo z e coisas deploráveis dessas... Não tenho nada contra os licenciados, eu sempre quis tirar um curso superior apenas não tive hipótese financeira, mas tenho sim em contra a quantidade de gente que só quer um diploma na mão para se apelidar de doutor ou engenheiro e não sabe porra nenhuma do que fazer, são péssimos profissionais, nem sequer gostam da área que estudaram e nem português sabem escrever... Enfim...
    Beijinhos

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