sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Essa coisa de trabalhar demais

No outro dia li esta notícia e, não podendo dizer que fiquei surpreendida, admito que fiquei desiludida.

Já vai para mais de dois anos que deixei Portugal. As notícias vão chegando de que as coisas estão a melhorar, de que o país já saiu do vermelho, e uma pessoa sabe que não é verdade e que ainda há um longo caminho a percorrer. Nomeadamente, nesta coisa que aborrece muita gente e que se chama "direitos dos trabalhadores". Porque, em Portugal, ainda há muito a mentalidade do "tens a sorte de ter um emprego, por isso cala-te e trabalha". E é o que as pessoas fazem: calam-se e trabalham. Baixam a cabeça e continuam a ser exploradas. 

Quantas horas extraordinárias se fazem todos os dias que ficam por pagar? Quantos dias de folga e de férias se perdem todos os anos? Quantas pessoas nem se atrevem a meter baixa, porque os contratos (quando existem) não oferecem segurança nenhuma? 

E ai de quem se queixar. Porque as respostas são, invariavelmente, coisas como "se não tens tempo para comer, come menos" (true story). 

Eu sei que há quem não tenha outra hipótese a não ser "aguentar". Porque há empréstimos para pagar e filhos para criar. Mas, aos que tiverem a sorte de poder dizer que não, digam que não. Não aceitem ser humilhados nem escravizados. Não aceitem trabalhar por menos daquilo que merecem. Eu também aceitei, durante algum tempo. Mas, cansei-me e vim-me embora. E foi o melhor que fiz. Não quero com isto dizer que emigrar seja a solução para toda a gente, porque cada caso é um caso. Mas a vida tem-me ensinado que saber dizer não é extremamente importante.

10 comentários:

  1. Se houvessem mais pessoas com a tua coragem talvez as coisas fossem diferentes!

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  2. Não poderia estar mais de acordo contigo! O problema é que as empresas exploram o desespero e necessidade das pessoas ao máximo! Para teres uma ideia do rídiculo eu cheguei a ir a uma entrevista de emprego para uma instituição bancária portuguesa. Para a função em questão (recepcionista) teríamos de ter disponibilidade total de horários entre as 8 e as 23 (porque poderia haver uma urgência e ter que substituir alguém mesmo após as 8 horas de trabalho) e "ofereciam" a fantástica remuneração de 2€/hora! Isto é desumano e eu fiquei bastante revoltada na altura e disse mesmo que não estava interessada e que ninguém deveria trabalhar naquelas condições!
    beijinhos
    https://direitoporlinhastortas-id.blogspot.pt/

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  3. Infelizmente esta é a realidade de muitas pessoas e dificilmente vai ser alterada. Embora não trabalhe mais que o limite de horas semanais, o meu patrão é do género "eu mando e tu fazes tudo". Escusado será dizer que a coisa nem sempre corre bem, tanto que penso que quando terminar o meu contrato, não será renovado por esse motivo e não por ser mau profissional. Enfim.

    Ricardo, The Ghostly Walker.

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  4. olha, eu sempre soube na minha vida que eu não iria ficar dando horas para uma empresa, então fui buscando alternativas que me fizerem ficar livre de um escritório e ponto.
    a vida segue e estou gostando das escolhas que estou fazendo.

    abraço profundo.

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  5. Ainda estou na faculdade, mas tenho consciência dessa realidade. E é uma realidade que dificilmente vai ser alterada, porque muitas pessoas as aceitam, ou porque têm filhos para manter, ou porque pensam " já tenho sorte em ter um emprego".
    Se eu, um dia, arranjar trabalho aqui e for explorada, e tiver oportunidade de ter uma melhor vida no estrangeiro, provavelmente emigro.
    Beijinhos,
    Cherry
    Blog: Life of Cherry

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  6. É extremamente ridículo para todas as profissões! E das coisads mais ridículas é que depois as pessoas ficam muito ofendidas quando se emigra, principalmente se formos médicos, porque "fizemos o curso com dinheiro dos seus impostos", porque o país precisa, mas nao percebem que neste momento as condições são más, nós precisamos de condições para aprender e não as temos.
    Por onde anda a Sofia?

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  7. Infelizmente há muito mais disso do que podemos imaginar. As pessoas têm medo, os contratos não favorecem os trabalhadores e hoje despede-se facilmente por dá cá aquela palha... As pessoas precisam dos empregos e não se podem dar ao luxo de o perderem. É um ciclo vicioso.

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  8. Infelizmente, o problema é mesmo a necessidade das pessoas e as empresas/patrões aproveitam-se disso. À grande. Estou numa empresa há 4 anos à base de contratos semanais, de onde já saí e entrei várias vezes conforme a necessidade de funcionários. Eles chamam e mandam embora as pessoas a seu bel-prazer, conforme são precisas. E, para meu descontentamento, com contas a pagar e um filho para criar, não posso recusar. É triste e tens toda a razão. Mas sabes o que nos respondem se levantamos muito a crista? "Não queres o trabalho, há 100 ali à porta à espera de preencher o lugar". As pessoas são completamente descartáveis...

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  9. Totalmente de acordo! Foi esse um dos motivos que me levou a emigrar também!
    Mas também compreendo quem fica e quem se vê obrigado a baixar a cabeça, por achar que não há outra solução...
    No entanto, sou apologista de que a mudança começa em nós; vamos lutar e vencer!
    (é o que tenho tentado fazer desde que voltei ao nosso lindo Portugal! )

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  10. É mesmo terrível... O pior é que, como disseste, muitas vezes há a pressão da necessidade e as pessoas vêem-se obrigadas a aceitar, mesmo sabendo que as condições são ridículas. Esperemos que isto melhore...

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