terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Aquela idade

Há idades para todos os gostos. 

Há a idade da inocência, a idade dos porquês, a idade do armário, a idade da parvalheira, a idade da segunda infância enfim, é só escolherem.

E depois há "aquela idade" que, não tendo uma denominação específica, é temida por muita gente. Confesso que eu não a temia; felizmente, a minha família não é muito de se meter nestas coisas, cada um faz o que quer, quando quer e ninguém se chateia (pelo menos, não por causa destas coisas). E de que idade estou eu a falar? Da idade em que o mundo inteiro acorda e se lembra que vocês deviam casar e/ou ter filhos.

Com 28 anos já feitos e sem grandes pressões até hoje, começo a ver a coisa a mudar. Amigas e familiares grávidas têm abundado ultimamente e casórios também. Acho muito bonito (acho mesmo!), mas para quem quer. Se houve uma altura em que me imaginava a ser mãe, nos últimos anos a coisa tem mudado um bocado de figura e é uma coisa que, no momento actual, nem sequer me passa pela cabeça, por inúmeras razões. Pois que, entretanto, o mundo se uniu para me fazer sentir mal por isso. Desde mensagens de feliz ano novo que acabavam com "e então, vai ser em 2017 o bebé?" à cereja no topo do bolo, que foi o discurso que tive que ouvir nas minhas férias de Natal para me convencerem de que "a maternidade é a coisa mais bela que há no mundo", tudo isto num tom bastante recriminatório, como bom país católico que somos e que vive da culpabilização de tudo e mais alguma coisa.

Eu não quero casar. Não quero não casar, mas também não faço questão de o fazer. E não quero ter filhos. Porque tenho medo, porque não sou a maior fã de crianças que há no mundo, porque não tenho paciência, porque gosto muito do meu corpo como ele é, porque gosto de acordar à hora que quero e fazer o que quero, quando quero, porque gosto de comer fora e porque gosto de ir de férias, porque se há coisa que me tira do sério é ouvir crianças aos berros mas, essencialmente, porque não quero. Não me sinto capaz e acho preferível dizer que não estou para aí virada, do que ter um filho e fazer um péssimo trabalho a criá-lo. E acho que ninguém tem nada a ver com isto. 

Cheira-me que ainda vou ter que ouvir muitos discursos inflamados sobre as maravilhas da maternidade. Poupem-me, a sério. Eu sou uma pessoa muito pouco romântica, muito pouco dada a mariquices, gosto de ver o lado realista e prático das coisas e, embora não tenha dúvidas de que deva ser algo de fantástico, é algo que, no preciso momento da minha vida em que me encontro, me parece ter muitos mais aspectos negativos do que positivos. Um dia, talvez, venha a querer ter filhos. Não ponho a hipótese completamente de lado. Mas, até esse dia chegar, deixem-me sossegada, pode ser? Agradecida.

10 comentários:

  1. Percebo-te perfeitamente. Sinto exactamente o mesmo porque amo demasiado a minha independência. A maternidade é uma coisa bonita? É sim senhora, mas não podemos esperar que a nossa vida seja igual - com todas as liberdades - como dantes. É como tu dizes, cada um sabe de si e aquilo que deseja :)

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  2. As pessoas têm de compreender que tudo tem o seu momento certo. É natural que o de muitas pessoas seja antes dessa idade ou nessa idade. Mas há tantas outras que vão ultrapassar.

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  3. Ainda não tive direito a discurso mas a verdade é que já sou "relembrada" de vez em quando, e não é da parte da família.
    Concordo a 100% com o que dizes, mais vale não ter do que ter e não dar à criança tudo aquilo que ela merece.

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  4. Estás no teu direito e as pessoas julgam que sabem o que é melhor para os outros e em que altura da vida dos outros. É normal quererem saber e meter a colher, mas não ligues, cada um tem direito às suas escolhas e ponto final :)

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  5. Felizmente ainda não ouvi desses discursos mas penso exactamente como tu e dúvido bastante que a minha vontade mude com o passar dos anos!
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  6. Welcome to the club... eu nao quero ter filhos, o meu namorido também nao, toda a gente sabe disso e mesmo assim tou sempre a ouvir com "entao e o bébé?Olha que depois mudas de ideias e é tarde demais..."

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  7. Sabes, as pessoas gostam de mandar bitaites sobre a vida dos outros. Eu estou a viver com o namorido há 4 anos (que é, basicamente, o mesmo que estar casada, não fizemos foi a festa ainda :P) e tenho um filho de 8. Podia dizer-te como é maravilhoso e como tudo na maternidade compensa largamente as mudanças que isso acarreta. Podia fazê-lo. Porque é assim que eu penso. Mas, felizmente, não faço parte da brigada das mamãs. Sempre odiei sentir-me pressionada fosse pelo que fosse. E, embora EU ache que não há nada melhor do que ser mãe, também sei que por muito que argumente, não vou mudar a forma de pensar de alguém que discorda. Porquê essa luta de querer que os outros ajam como nós? Eu não tenho paciência nenhuma para essa malta e, por isso, muitas vezes, ficam ofendidos porque lhes respondo torto (família ou não...). Mas tb te digo que é da maneira que deixam de chatear ;)

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  8. A pressão que existe nesse sentido é incrível, e pelos exemplos que deste no texto a partir de certa altura passa a ser completamente descarada (a sério, fiquei sem acreditar nessa mensagem de ano novo). Fazes bem em manter a tua posição, ninguém sabe o que queres para a tua vida melhor que tu :)

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  9. Cada um sabe da sua vida e da forma como quer vivê-la. Não é por haver quem case e tenha filhos que toda a gente tem que o fazer. A nossa vida tem que ser muito bem pensada, ainda mais nos tempos que correm, e não tem mal nenhum não querer as coisas que os outros querem só para não ficar atrás de ninguém. Pelo contrário, são decisões muito importantes que implicam a vida de terceiros e, se não queremos essas responsabilidades, não as devemos assumir. Simples. Ninguém tem nada que se meter ou fazer pressão.

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