segunda-feira, 13 de março de 2017

La vie en France | A viagem de táxi mais épica da minha vida

À medida que se aproxima o dia em que vou deixar França, vou começando a ficar mais e mais nostálgica. Vivi muitas aventuras durante os meus 3 anos aqui e até mesmo os momentos mais desagradáveis estão a conseguir ganhar algum encanto (ou alguma piada, pelo menos).

Um desses muitos momentos aconteceu há coisa de um ano e meio. 

Todos os anos, em Novembro, há um congresso em Paris para os médicos dentistas. Todos os anos, nós vamos, que uma pessoa tem de se manter actualizada. Pois que, em Novembro de 2015, no nosso último dia de congresso, carregados com malas e com sacos e mais sacos de amostras e panfletos e de tudo e mais alguma coisa, decidimos que seria melhor apanharmos um táxi. A viagem dali à estação de comboio costuma ser cerca de 18€ e nós éramos 4, portanto ficava super em conta e ia ser muito mais confortável que ir apertado no metro em hora de ponta. 

Combinámos que nos íamos todos encontrar na zona da entrada, ao fim do dia, e assim foi. Todos contentes, porque até nem estava a chover muito, decidimos que era o momento para sair. Meus amigos, foi só cruzarmos a porta do edifício que o céu explodiu numa tempestade digna duma cena de fim do mundo, qual filme de Hollywood, qual quê. Levantou-se uma ventania horrível e começou a cair uma chuva impiedosa, o que é absolutamente maravilhoso para quem está carregado até às orelhas e de saltos altos. Nos 300 metros que separavam a porta do Palácio dos Congressos da praça de táxis, ficámos encharcados. Só me lembro de estar à espera para atravessar a rua e olhar para o lado, para o meu colega, o único homem e, por conseguinte, o único que conseguiu pegar no guarda-chuva (nós estávamos demasiado ocupadas a carregar tudo e a segurar os vestidos para eles não levantarem voo) e de me desmanchar a rir com a cena: todo um temporal e o desgraçado de guarda-chuva orgulhosamente em riste, guarda-chuva esse que estava completamente desfeito por cima da cabeça dele, a molhar mais do que a proteger, mas ele impávido e sereno, muito sério por entre os pingos de chuva, sem ceder, qual herói que sabe que foi derrotado, mas que se recusa a desistir. 

Entrámos no táxi. Dissemos ao senhor para onde queríamos ir e ele arrancou. Desconfiámos desde o início do taxista, que deu logo a impressão de olhar para nós e de pensar "4 dentistas, ainda por cima estrangeiros, nem devem conhecer nada disto, 'bora lá aproveitar, que já ganhei o dia". Se ele fosse um desenho animado, ter-se-iam visto os cifrões a aparecer nos olhos. Como já estávamos por tudo e só queríamos era apanhar o comboio, nem estivemos para nos chatear com mais nada. 

Senhor taxista estava com saudades de climas mais tropicais e tinha a temperatura do carro a parecer um deserto em África, pelo que tivemos que abrir as janelas, ou então era só regarem-nos com um bocadinho de azeite, um cheirinho de sal e alecrim e tinham a janta feita. Abrir as janelas revelou-se uma grande asneira. Porquê? Porque senhor taxista claramente não conhecia o código da estrada e, ainda por cima, devia ser daltónico, porque semáforo vermelho ou verde, para ele, eram a mesma coisa. Estão familiarizados com a hora de ponta no centro de Paris? Se não, nem queiram e se sim, os meus pêsames. É uma multidão de gente, de carros, autocarros, peões, bicicletas e vale tudo, minha gente. É o "cada um por si". A dada altura, demos por nós no meio duma multidão de pessoas que queria atravessar a rua e que o nosso taxista ia alegremente atropelar, porque ignorou os semáforos. Resultado: não parou no semáforo, mas também não avançou muito, e ficou mesmo em cima da passadeira, porque o trânsito estava completamente parado. Esse foi o belo momento em que eu acreditei que estava no meio duma cena de The Walking Dead: só via pessoas, vindas de todos os lados, a rodearem o carro, com cara de poucos amigos, a protestarem (e com razão) e tão próximos de nós que pedi para fecharmos todos as janelas, porque mais valia sermos cozinhados em lume brando do que correr o risco de termos um transeunte enfurecido a dar-nos um murro no meio dos olhos. 

Nisto, já tínhamos a certeza absoluta de que, além de estarmos a correr perigo de vida dentro daquele carro, estávamos a fazer um tour turístico por Paris porque, como disse a Cláudia e muito bem, o homem estava "a comer-nos em molho de cebolada". 

Já perto da gare, ainda decidiu passar mais um vermelho (vermelho, verde, vai dar tudo ao mesmo pá, não sejam picuinhas) e foi bater numa mota, deitando a mota e o respectivo condutor ao chão. A primeira coisa que pensei foi "pronto, matou o homem", o que teria sido o final "perfeito" para aquela viagem. O mais incrível é que o taxista nem pestanejou e só se prontificou a sair do carro quando viu que nós é que já estávamos a tirar os cintos de segurança para lá irmos. Felizmente, o condutor da mota estava bem e pudemos seguir caminho. 

Conclusão: perdemos o comboio, pagámos uma fortuna e pensámos várias vezes que íamos morrer ou matar alguém. Mas, pronto, ganhámos (mais) uma história para contar e que agora nos faz rir até nos doer a barriga. 

32 comentários:

  1. Fez o meu dia ehehe gostei particularmente da parte "Esse foi o belo momento em que eu acreditei que estava no meio duma cena de The Walkind Dead" e imaginei como ficaria em pânico também. Que bela história tens tu para contar eheheh
    Beijinho,
    Sofia

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  2. Compreendo perfeitamente a nostalgia, é nestes instante em que começamos a reviver momentos, especiais, e neste caso, uma história bem divertida! =)
    Beijinhos

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  3. Mas que aventura! E muito bem narrada.
    Uma boa semana.
    Beijos.

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  4. Eu, como alguém que anda de mota, matava o condutor se não parasse para prestar auxilio!!

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    1. Nunca mais o apanhavas =p nós é que fizemos questão de prestar auxílio, senão ele tinha seguido

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  5. Bem mas que aventura!!! Esses taxistas sem princípios irritam-me tanto....
    beijinhos
    https://direitoporlinhastortas-id.blogspot.pt/

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  6. Se não me engano acho que me lembro de teres contado por alto este episódio no ano passado. Continua a ser hilariante, se bem que na altura calculo que tenha sido tudo menos isso. É como dizes, ganharam uma história para contar aos netos haha.

    Ricardo, The Ghostly Walker.

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    1. Muito bem, senhor Ricardo, és um leitor muito atento! Sim, eu já tinha falado neste episódio na altura em que aconteceu =p

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  7. Ahahah, realmente... na altura, deve ter sido o caos! Mas agora dá para te rires :)

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  8. Ri-me imenso porque estou a imaginar tudo a decorrer. Paris é louco em hora de ponta e com um taxista ainda mais louco deve ter sido uma experiência para guardar para a vida =)

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  9. Mas que viagem caricata ahahha para não repetir! x

    E. ♥ Meet me for Breakfast

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    1. Não que o meu coração não aguenta tantas emoções fortes =P

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  10. Poxa! É bem verdade que o transito em Paris é o caos, mas com um condutor assim até numa aldeia em transmontana o seria... :P
    Pobre de ti
    Last Post: Maquilhagem | PRESENTE DIA DOS NAMORADOS: SEMI-SWEET CHOCOLATE BAR DA TOO FACED
    Ukuhamba

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  11. Uma pessoa tem de levar com cada maluco! :)

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