quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Ter um bebé longe de casa

Desde que saí de Portugal (já lá vão quase 5 anos!) que vivo constantemente a sentir-me culpada. Culpada de ter deixado tudo e todos para trás para fazer pela vida, culpada de não estar perto das minhas pessoas e poder partilhar a vida diária com elas. Mas há que ser racional: eu sentia-me miseravelmente em baixo quando estava em Portugal. A minha situação profissional era tão instável, para não falar do abuso e do desrespeito geral em relação a quem trabalha, que andava sempre demasiado cansada (e falida!) para aproveitar o que quer que fosse, com quem quer que fosse. Gostava muito de poder ter ficado em Portugal, mas na situação em que estava não era possível. Nunca fui pessoa de me conformar e, por isso mesmo, fez todo o sentido deixar o país.

Agora com a minha filha, sinto-me culpada ao cubo. Sinto-me culpada pelas nossas famílias, que têm de se contentar com fotografias, chamadas de video e as visitas esporádicas e sinto-me culpada pela minha filha, que vai crescer tão longe da família, só podendo desfrutar da companhia deles algumas vezes por ano. 

Além da culpa, dou muitas vezes por mim a pensar em como era bom ter alguém por perto para me dar uma ajuda durante o dia, alguém que pudesse pegar nela para eu ter meia hora para mim de vez em quando, ou alguém que me fizesse o almoço quando ela só quer estar ao colo (não me venham sugerir o baby carrier porque já tenho um, que uso bastante, mas não consigo cozinhar com ela ali, ia estar sempre com medo que lhe saltasse para cima alguma coisa a ferver). 

Mas, mais uma vez, há que ser racional. Se vivesse em Portugal numa cidade que não a minha, se calhar ainda ia menos vezes a casa do que vou agora (até porque isso chegou a acontecer). Se vivesse em Portugal, não ia poder estar tanto tempo em casa com a minha bebé, porque a licença de maternidade é uma anedota e não chega nem para cobrir o tempo recomendado pela OMS para a amamentação exclusiva. Se vivesse em Portugal, não teria a possibilidade de dar à minha filha a vida que lhe posso dar estando fora. Se vivesse em Portugal, a minha filha provavelmente nem ia existir, porque eu não a ia poder ter. Este ultimo ponto é o que mais me põe a alma em descanso, porque é verdade. E não me venham com o "tudo se cria" e "onde comem 2, comem 3", porque eu não concordo em nada com isso e sei bem que nunca teria sido mãe nas condições em que estava. 

Ninguém pode adivinhar o futuro e, como tal, não tenho como saber se o meu passa por voltar para Portugal ou por ficar aqui (ou noutro lado qualquer). Por agora, contento-me em saber que tenho uma bebé feliz, que é tudo o que quero para ela.

13 comentários:

  1. Admiro a tua coragem e tenho a certeza que um dia a tua bebe também vai admirar :)

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  2. Tudo vai correr bem! ❤ E, a tua filha tem a mãe, e isso é o mais importante. :)

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  3. Hum... Falta-te um tiozinho talvez? Que diga-se de passagem também sente a tua falta e da bébé com quem ainda não esteve 😢 E que como tu, teve que sair de Portugal e sente tudo isso que descreves tão bem...

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  4. Sofia na realidade essa culpa acho que vais carregar para sempre. Uma mão é verdade que faz falta. Uns braços amigos ou de mãe que vem e dá uma ajuda. Uma ajuda com a bebé com a casa ou simplesmente uma palavra e um abraço de conforto. Mas fora de Portugal podes dar, ter e ser o que em Portugal nunca poderias. Ela vai ser muito feliz e amada esteja onde estiver. Beijinhos força nisso. Sara Morais

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  5. Acredito que seja mesmo complicado gerir todo este lado emocional, mas não te culpes, porque foste lutar por ti, pela tua vida e por um futuro melhor. E isso exige muita coragem!

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  6. Ai disseste tudo nesse post e tocaste em todos os meus receios! Se bem que a vontade de ter um bebé, mesmo que longe da minha cidade é cada vez maior! Acho que tudo se supera e o importante é mesmo viver um dia de cada vez!
    beijinhos
    https://direitoporlinhastortas-id.blogspot.com/

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  7. Mesmo sem ser mãe ainda, percebo-te tão bem.
    Quanto à parte da ajuda, muito provavelmente se eu não tivesse a minha família a 900km de distância já teria um filho (ou mais, quem sabe), mas estando nós sozinhos a decisão não é tão fácil. Mas com vontade tudo se faz. E é como dizes, se a criança estiver feliz, é meio caminho andado para pais e restante família também estarem.

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  8. Acho que isto é ser mãe... saber onde ficar para lhe poder dar melhor. Eu também tive muita pena das minhas sobrinhas terem crescido longe, mas sei que onde estão têm uma melhor qualidade de vida!!!

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  9. A emigração é sempre um assunto difícil. Custa tanto ter os meus primos longe. Custa tanto não pegar os bebes no colo...ai ai

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  10. Sofia, podia ter sido eu a escrever isto, palavra a palavra. Há dias em que custa "ser racional" mas dou comigo a relembrar-me desses mesmos argumentos muitas vezes. No meu caso, estou na Suécia, que provavelmente é um dos melhores países do mundo para constituir família. Mas a sensação de culpa está sempre comigo. Beijinhos

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  11. Fazes o melhor que podes pela tua família e deves sentir-te orgulhosa disso. Eu, pessoalmente, apesar de sentir que a vida profissional em Portugal é uma merda, falando bem e depressa, não seria capaz de fazer o mesmo que tu. Tenho um filho com 10 anos e uma filha com 3 meses e a ajuda dos meus pais é tão mas tão preciosa. Bem como o convívio que eles têm com os meninos. Acho que não seria capaz de os afastar da família! Não é uma crítica, atenção, pelo contrário. Admiro muito essa tua decisão na busca por uma qualidade de vida melhor :)

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  12. Apesar de não ser mãe e não saber o que é ter esse sentimento de culpa ao cubo, percebo-te tão bem. 6 anos fora de Portugal e continuo a sentir-me culpada por ter deixado a minha família e amigos para trás. O que é uma estupidez, porque eu não deixei nada ninguém para trás, a minha família continua a ser a minha família assim como os meus amigos. Quando é preciso, como já foi, vou lá de urgência para dar apoio. Falo todos os dias com a minha mãe nem que seja só para saber se estão todos bem.
    Mas falta aquele abraço mais frequente (eu vivia a 3 minutos dos meus pais) e há um mar a separar-nos.
    Mesmo assim, acho que voltaria a tomar as mesmas decisões. Aqui tenho uma qualidade de vida que não tinha em Portugal. Tenho mais portas abertas, outras oportunidades já para não falar no enriquecimento que é lidar com outras culturas.
    Mas bolas, custa. E pronto, é isto, é viver nesta dualidade.
    Nini

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  13. Só li agora este teu post e identifiquei-me tanto contigo, não por ter uma filha, porque não é essa a questão em que me identifico, mas sim pela carga de trabalho, pelo respeito e falta dele e pela remuneração que depois de anos em investir numa licenciatura e mestrado, são valores ridículos. Ganhava mais a limpar casas (não estou a desvalorizar esta profissão de doméstica, muito pelo contrário... sei que têm também de fazer e aturar muita coisa, apenas o utilizo como termo de comparação com um curso superior) do que a fazer aquilo por que estudei. É desmotivante e quase humilhante. Estudar ou não estudar, parece que desvalorizamos rapidamente o árduo trabalho que tivémos, durante 4, 5 ou 6 anos...
    Enfim, lá fora, tudo é diferente... e vontade para sair de Portugal não me falta, apesar de nunca ter pensado nisso antes de terminar o curso, mas da maneira como me ando a sentir, parece-me uma solução muito tentadora, especialmente em França, no caso da minha profissão!
    Um beijinho*

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