domingo, 31 de maio de 2015

Gente rara

A minha vizinha do apartamento em frente é um ser estranho. 
Alta, magrinha que até mete nojo, de piercing por cima do lábio (aqui há uns anos, em Portugal, faziam-se sinais com um eyeliner preto, aqui põem-se bolinhas de metal ou plástico pretas que, no fundo, fazem o mesmo efeito, mas deixam cicatriz) e louca, a sua melhor característica. 
Não contente com fumar nos corredores do prédio e os deixar irrespiráveis e de ter sempre uma caixa de plástico transparente vazia ao lado da porta, Senhora Dona Minha Vizinha sofre de sérios transtornos psicológicos e distúrbios de personalidade. 
Com o cheiro a cigarros e as discussões com o namorado nas escadas eu podia bem, nem sequer me importo com a música da Adele religiosamente todas as manhãs antes de eu ir trabalhar, agora era preciso volta e meia pôr-se entre as nossas duas portas em altos prantos (por favor, ter em conta que o espaço entre a minha porta e a dela são cerca de 60 cm)? Eu acho que não, que era dispensável e podíamos todos continuar a viver as nossas vidinhas tranquilamente e em paz.
Menina, eu não sei do que está à espera. Dum abraço amigo? É raro eu abraçar até os meus amigos, quanto mais os meus vizinhos. A menos que fosse minha vizinha e minha amiga, aí já poderia ponderar, mas tinha que ser uma coisa mesmo muito grave, nada menos do que precisar dum rim ou estar a ser ameaçada pela máfia russa. Já pensei em deixar uma embalagem de Kleenex na soleira da porta, uma espécie de "Estou contigo" sem ter que realmente estar com ela, mas o desespero parece tanto que eu acho que não ia ganhar para lenços. 
Custava muito entrar em casa antes de começar a chorar? Aguenta-se tão bem enquanto sobe a pé os três andares de escadas assassinas do prédio, porquê, porque é que não aguenta mais 30 segundos até abrir a porta? Eu entendo, respirar e chorar ao mesmo tempo enquanto se chega cá acima deve ser complicado, eu própria pondero seriamente mudar de casa de cada vez que venho carregada de compras. A primeira vez que isto aconteceu estava com o meu namorado, descansados a ver televisão quando começou a choradeira. Pensei que fosse uma coisa pontual, pronto, todos temos os nossos dias maus e direito a fazer figuras tristes. Mas uma vez era mais que suficiente. Entretanto, acho que a miúda (miúda? Se calhar é mais velha que eu) fritou a pipoca e que a perdemos de vez para o lado das trevas. Mesmo assim, gostava de lhe pedir: vamos tentar manter a calma, sim?
Merci.

1 comentário:

  1. Não sei se tenho mais pena de ti ou da tua vizinha!
    Que se tão escandaloso! Quanto aos piercings... é verdade que deixam cicatriz mas um adorno que fica bem a muita gente e que muita gente gosta! Eu, por exemplo :)

    Beijinhos xx

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