terça-feira, 4 de abril de 2017

Perguntas de salto e respostas de alto #7

Pois bem, há pouco tempo era eu a entrevistada e agora mudei para o papel de entrevistadora. Hoje, nesta rubrica (que tem estado adormecida, mas nunca esquecida) trago-vos uma entrevista à Tiffany, do blog Ukuhamba (se ainda não seguem, toca a tratar disso!).

A Tiffany deve ser das pessoas mais simpáticas e prestáveis que alguma vez "conheci". As aspas estão ali porque só a conheço deste mundo dos blogs, mas já me sinto à vontade para dizer que a conheço. Pessoas, estamos a falar de alguém que, quando lhe pedi ajuda para planear as minhas férias, chegou a casa à noite e andou a fotografar, página a página, o guia de viagem que tinha sobre o destino em questão para me mandar. E, entretanto, eu tive que mudar os planos, mas já fiquei com informação suficiente para quando realmente lá for!

E porque é que eu lhe pedi ajuda com o tópico das férias? Porque aqui a nossa amiga já trabalhou como hospedeira de bordo e, claro, tem o bichinho das viagens (e já fez bastantes!).

A Tiffany foi hospedeira de bordo durante 2 anos, sendo que durante esse tempo viveu em Doha, no Qatar. Sim, leram bem, no Qatar. Diz que não passava lá muito tempo, mas que conhece de cor a cidade e que se habituou aos seus costumes. Apesar de adorar a sua (ex-)profissão, acabou por voltar para Portugal,a pedido do namorado e porque as saudades eram muitas.

Vamos à entrevista? 'Bora lá.

1 - Quando é que saíste de Portugal? E quando é que voltaste?

Na verdade, se remontarmos à minha infância, eu não saí de Portugal para voltar! Eu vim para Portugal! Passo a explicar: para além de emigrante, eu sou filha de emigrante.
Nasci em França e vim para Portugal quando tinha 5 anos. No fundo, foi a vida que assim o ditou; porque voltar para Portugal, naquela altura, não foi uma decisão pensada dos meus pais: o meu avô faleceu e a família decidiu voltar toda para Portugal.
Talvez seja este o motivo pelo qual eu sempre disse que não me importava de emigrar, mas que assim que os meus filhos tivessem 5/6 anos, queria voltar. Isto porquê? Porque adoro o nosso país e porque sou da opinião que não há melhor sitio para educar os nossos filhos do que aqui.
Respondendo, finalmente, à questão: saí de Portugal em Março de 2013 e voltei em Dezembro de 2015. Não cheguei a estar fora 2 anos; mas foram uns quase 2 anos muito intensos, de muita saudade e muita aprendizagem.

2 - O que te levou a tomar a decisão de sair?

Na altura a minha vida estava de pernas para o ar: o meu contrato terminara e as ofertas que me apareciam eram muito abaixo do valor a que estava habituada (bem sei, a crise… mas eu não estava com vontade de renunciar à minha qualidade de vida!) e, mais ou menos na mesma altura, a minha relação terminou. Portanto, eu vi-me num daqueles momentos em que precisamos de uma mudança radical. Sair do país sempre foi uma hipótese para mim e nunca vi isso com maus olhos.
Portanto, uma noite, a mãe de uma amiga minha disse “Porque não concorres a hospedeira de bordo? És gira, falas várias línguas e tens disponibilidade para sair da tua zona de conforto!”
Isto podia ter sido apenas uma frase, mas a verdade é que cravou uma semente dentro de mim! E assim foi: procurei companhias aéreas, enviei o CV e fui à entrevista. E… o resto já vocês perceberam! 

3 - A saber o que sabes hoje, voltavas a tomar a mesma decisão?


Sem dúvida! Aliás, se soubesse o que sei hoje teria ido assim que saí  da universidade. Quando as meninas me perguntam, eu digo sempre “ser hospedeira de bordo não é um emprego para a vida, mas é uma experiência para a vida”. Portanto teria ido imediatamente a seguir à universidade, teria passado talvez uns 10 anos a trabalhar como hospedeira de bordo. Os primeiros 5, se calhar, a aproveitar para visitar e conhecer o mundo inteiro e os restantes a poupar para voltar para o meu lindo país. Mas esta é a minha forma de ver as coisas.

4 - Descreve a tua experiência no estrangeiro em 5 palavras:

Aprendizagem; Auto-conhecimento; Cultura (diferença cultural); Comida; Experiência (muito positiva)


5 - 3 coisas (coisas, não pessoas) que terias levado de Portugal, se pudesses:

Teria? Mas eu levei! :P
1.   A minha foto de quando era bébé: pode parecer egocêntrico (e se calhar é), mas onde eu estou, essa foto está. Gosto de pensar que é para me lembrar de quem sou na realidade!
2.      Um álbum de fotos da minha família e amigos mais chegados
3.      Bacalhau! Quer dizer, eu cheguei a levar bacalhau numa das vezes que vim cá, mas a minha mala ficou a feder durante tanto tempo, que não voltei a repetir a brincadeira! 

6 - Em que é que sentiste que a tua vida mudou, para melhor e para pior, com a mudança? E com o regresso para Portugal?

Obviamente, a minha vida mudou radicalmente. Fui viver para um país completamente diferente, com um clima rigoroso (50ºC é dose!). Saí uma única vez com essa temperatura e pensava eu que ia à lavandaria, que era a 300 metros, se tanto. Pois, só que não! Assim que cheguei ao portão do condomínio voltei para trás! Estava bem vestida, coberta, mas com roupa fresca (sempre fui muito discreta e respeitei os hábitos e costumes locais) e com chapéu de abas mas, mesmo assim, senti o corpo todo a arder e o início de uma dor de cabeça! Percebi que para fazer 50 metros precisava de um táxi! 
Portanto, estava eu a dizer que fui viver para o Médio Oriente: clima, cultura, hábitos e costumes, tudo diferente! Se a minha vida mudou? Radicalmente! Se me adaptei? Perfeitamente.
Claro que eu não passava muito tempo em Doha; porque andava sempre a viajar, mas gostava muito da cidade.
Mudança para pior? O pior mesmo eram as saudades, o saber que aos domingos a minha família estava toda junta e eu não estava aqui para assistir, para rir e para brincar com eles. O saber que (principalmente) os meus pais estavam a sofrer com a minha ausência e que, apesar de estarmos sempre em contacto, eles viviam preocupados!
E, também, pelo simples facto de não ver os meus pequeninos (primos) a crescer cada centímetro! Mesmo estando cá, não estou com eles tanto quanto gostaria, mas se há coisa que me apaixona, é olhar para eles de semana a semana ou, às vezes, mais e ver diferenças (na altura, no cabelo, nos dentes, na evolução, na forma de pensar, em tudo!).
Ah e claro… os meus bichinhos! Na altura, era “só” o Spy (o meu cão) e as gatinhas! Claro que falava de vez em quando com o Spy pelo Skype… mas não era a mesma coisa!

Desde que voltei? Bem, a minha vida mudou, novamente, de forma radical! Voltei para casa dos meus pais, com os prós e os contras que isso acarreta! E, atenção, dou-me imensamente bem com eles, mas… quem é extremamente independente precisa, sem dúvida, do seu espaço! Adoro a minha mãe, mas até a forma como lavamos a loiça é diferente

E, claro, em termos profissionais a minha vida também mudou muito! Abracei um novo projecto, numa área totalmente diferente, e a verdade é que estou a adorar!
E iniciei também o blogue que, mais que um projecto, é um bébé! Que vejo a crescer de dia para dia, o que me delicia e deixa maravilhada!
O pior? Bem, o pior mesmo é já não ganhar tanto como estava habituada… ups! E sinto falta das viagens; de estar em constante movimento e aprendizagem.


7 - Um conselho que darias a ti própria, se pudesses voltar atrás no tempo:

Acabei por responder a esta questão, na pergunta numero 3 : Ir mais cedo. Terminar a universidade e ir logo! 

8 - Um conselho para a nossa geração ( e para as futuras) dentro e fora de Portugal:

Posso dar 2?
Para todas as pessoas em geral: sejam mais tolerantes e menos preconceituosos, respeitem as diferenças e respeitem cada individuo. O mundo é pequeno, mas cabemos cá todos!

Para a nossa geração (num âmbito mais profissional): Não se foquem tanto na vossa área de formação. Abram asas e abram horizontes. Saiam da vossa zona de conforto, quer a nível de área de estudo/trabalho, quer em termos de mudança de país!

9 - O que achas essencial mudar em Portugal?

Mentalidades!
Somos um povo magnífico, grandioso. Somos considerados por esse mundo fora como trabalhadores, honestos e, acima de tudo, desenrascados! (Também sabem que somos forretas e olhem que eu adorava isso, porque jogava muito a meu favor em mercados árabes!)
É verdade, somos mesmo grandiosos!!!
O que eu proponho é que nos foquemos mais no que podemos e conseguimos, do que no que não temos ou não podemos!

10 - Onde te vês daqui a 5 anos? E daqui a 10?

Em Portugal!
Em Portugal!
Sou empreendedora, voltei para batalhar. Se tenho a sorte de poder investir? Não! Tenho a força e a coragem de ter ido para fora para poder voltar mais forte, mais estruturada e com vontade de lutar!
Não é sorte ter emigrado! Foi vontade de vencer!
Não é sorte poder criar a minha empresa! É vontade de fazer mais!
E, já agora... também não é azar quando bato com a cara na parede, quando o cliente não quer, quando o orçamento é elevado demais, ou até quando perco horas e horas a aprender algo que, se calhar, outra pessoa faria em 10 minutos! É apenas a vida a mostrar-me que tenho de continuar a batalhar. E assim farei!

E, agora, para acabar a entrevista, deixo-vos a pequena nota final, da autoria da Tiffany:

Sofia e leitores, desculpem se esta entrevista foi “filosófica”. Sou, sim, uma romântica, recheada de sonhos e esperanças. Mas, sou também uma batalhadora armada com valores  e ideologias. E, à medida que fui respondendo às tuas questões, fui transparente e sincera. Sei, também, que mostrei muito mais do que a Tiffany que mostro no blogue! Mas... às vezes faz falta despir-mo-nos das nossas máscaras e personagens e ter uma conversa séria! J Não que a maquilhagem não seja um assunto sério! :P

Um beijinho grande e obrigada pela oportunidade.

Ora essa, eu é que agradeço! Foi uma grande entrevista, que adorei ler e escrever e que tenho a certeza que quem está desse lado a ler, também vai adorar! Agora, deixo-vos com as fotos de Doha, que a Tiffany me mandou e que me surpreenderam, porque não era de todo o que eu estava à espera! Podem ler mais sobre a cidade aqui e aqui.














15 comentários:

  1. Tenho uma amiga que trabalha no dubai para a emirates Airlines e diz o mesmo, a vida como hospedeira de bordo é super intensa, mas no meu ver é a aventura de uma vida,muitos paises, muitas cidades novas, muita viagem. Adorei a cronica como sempre Sofia, beijinho da sara Morais

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  2. Que bela entrevista. É bom conhecer pessoas que vêem sempre o lado bom das coisas.

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  3. Adorei a entrevista! Não conheço o blog e a Tiffany, consequentemente, mas vou conhecer agora. Adorei!

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  4. Adorei! :D
    Tenho que ir cuscar :3
    Beijinhos,
    www.pirilamposemarte.com

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  5. Gostei da entrevista :) o blog já conheço, há pouco tempo, comecei a acompanhar por tua causa, por acaso. Mencionaste aqui e fiquei curiosa. E gostei do que li por lá :)

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    1. Olha, ainda bem (= e fico contente por teres gostado!

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  6. Não conhecia o blog da Tiffany mas fiquei rendida! É bom haver gente com tanto amor pelo nosso país, mesmo já tento estado em vários :)
    Kiss, Mariana Dezolt
    Messy Hair, Don’t Care

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    1. Sinceramente, quanto mais se conhecem outros países, mais se gosta do nosso (;

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  7. Sofia, no primeiro paragrafo já eu estava rendida!
    Nunca pensei que fosses dizer que eu tirei fotos (terriveis por sinal, mal tiradas e á pressa)!! Mas sim, tenho-te mesmo como uma amiga e não me custa nada ajudar! Faço-o com o coraçao! :)
    Muito obrigada pelas palavras doces e gostei mesmo muito de dar esta entrevista! :)
    Um beijinho muito grande,
    Tiff

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  8. Ahahah, sabes que és portuguesa a sério quando levas bacalhau contigo para o estrangeiro! :D
    LA VEINE

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    1. Ninguém imagina a quantidade e a qualidade do "contrabando" de comida que se faz de Portugal para o estrangeiro! =p mas é como eu costumo dizer, não tenho culpa que a nossa comida seja melhor que a dos outros!

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