sábado, 14 de outubro de 2017

Life in the UK #3 | A minha experiência com o IELTS

Este post tem estado a marinar na pasta dos "Rascunhos" desde há uns bons 2 meses. Escrevi o título e, de repente, dei por mim a viver outra vez o dia fatídico em que fui fazer o IELTS e não fui capaz de escrever nem mais uma linha sobre este assunto. 

Mas, nos dias que correm, e com tanta malta que continua a querer emigrar, falar sobre esta experiência acho que faz todo o sentido. 

Para começar, o que é o IELTS? É o International English Language Testing System e é um exame que é pedido a muita gente que quer trabalhar em países de língua inglesa. Nem todas as profissões precisam disto (o meu namorado é de engenharia e não teve de o fazer), mas há algumas para as quais é obrigatório, nomeadamente, as profissões da área da saúde. No meu caso, não só era obrigatório, como havia uma nota mínima que tinha de tirar. O exame tem 4 componentes: Listening, Reading, Writing e Speaking, cada uma dessas 4 componentes tem uma nota, de 0 a 9, cuja média vos dá a vossa nota geral. Era-me exigido uma classificação geral de 7.0 e não podia tirar menos de 6.5 a cada uma das componentes (pequeno interregno para me gabar: tive mais que isso). 

Há 2 versões do IELTS: o General Training e o Academic. Eu tive de fazer o Académico, portanto, é sobre esse que vou falar. 

Tive muito pouco tempo para me preparar e o meu conselho para quem está a estudar para o teste é: tentem encontrar alguns exercícios-tipo do exame, para se habituarem a controlar o tempo que demoram a responder, à estrutura do exame e àquilo que é esperado de vocês em termos técnicos (especialmente, para o Writing. Além de saberem escrever, têm de dar as vossas respostas seguindo um esquema bem específico), mas não se prendam demasiado a pormenores de gramática e ortografia. A gramática e a ortografia também contam, claro, mas este exame é essencialmente para ver se vocês são fluentes em inglês ou não. Vejam muita televisão em inglês, programas de todos os tipos,  e leiam muito, muito, muito em inglês. Qualquer tema pode ser abordado no exame, portanto, quanto mais à vontade estiverem com a língua, melhor. Por exemplo, no meu exame tive exercícios sobre uma coisa tão banal como compras online, como tive um exercício que consistia numa descrição detalhada duma espécie de rã. 

Não achei o exame particularmente difícil, estava à espera de bem pior, confesso. Então, porque é que o dia foi assim tão fatídico para mim? Ora bem, vamos começar pelo início. 

Inscrevi-me para fazer o exame no centro de Londres, perto de Covent Garden. Como tinha de lá estar de manhã cedo, acordei com bastante antecedência, para ter a certeza de que chegava lá a horas. Tive de levar comigo o passaporte (podia ter levado só o cartão de cidadão, mas dei o número do passaporte quando me inscrevi), 2 canetas, 2 lápis, 1 borracha e 1 garrafa de água, transparente e sem rótulo (tudo isto foram exigências que me foram enviadas por email uns dias antes do exame). Já no local do exame, por volta das 9 horas veio um senhor ter connosco e começou a levar-nos para fazer o registo, em grupos de 10 pessoas. Não sem antes me perguntar se tinha levado a autorização assinada pelos meus pais para fazer o exame (ainda pensei que ele estava a brincar, mas não. Uma pessoa tem quase 30 anos e é isto.). O registo consistiu em mostrar o passaporte a umas senhoras, deixar todos os meus pertences com elas (a única coisa que podem levar convosco para a sala é a vossa identificação e a lista de material que já mencionei aqui), fazer o registo da impressão digital (não, não estou a gozar) e depois recebem um papelucho com o vosso número e as horas a que vão fazer o Speaking (se fizerem no mesmo dia que o resto). 

A seguir ao registo, pude ir para a sala de exame, onde tive de esperar que viesse alguém verificar pela milésima vez o meu passaporte e onde fui acompanhada até à secretária que me tinha sido atribuída. Éramos mais de 60 pessoas para fazer o exame, portanto, como podem imaginar, esta brincadeira de entrar um a um, com escolta até à secretária demorou cerca de 1 hora. Acrescento ainda que, a partir do momento em que entrámos na sala, estávamos terminantemente proibidos de falar uns com os outros, portanto, uma animação.

Já passava das 10 quando começámos, finalmente, o exame. 

Primeira parte: Listening. Não é difícil, sinceramente. Só é preciso estarem bem concentrados, porque a gravação só passa uma vez e têm de ir respondendo a tudo enquanto ouvem. Tive 9.0, by the way, e fiquei muito orgulhosa. O Listening dura 40 minutos (e é mesmo só esse tempo que têm, quando mandam pousar os lápis, têm mesmo de os pousar. À conta disto, ainda assisti a uma cena bem desagradável.)

Segunda parte: Reading. Também é fácil. Consiste em lerem textos e responderem a perguntas sobre os textos que leram. A única coisa que acho que pode ser mais difícil é que há grupos de perguntas de verdadeiro/falso em que, além da opção verdadeiro e falso, têm uma opção que é a "not given" e que pode ser confundida com o falso. Mas, faz-se bem. Têm 1 hora para esta parte e é mais do que suficiente. 

Chegada a esta altura, o meu estômago começou a roncar. Estava sem comer desde as 7h da manhã, era quase meio-dia, e só tinha uma infeliz duma garrafa de água para me fazer companhia. Dei por mim a pensar "porra, se tenho de repetir o exame, encho a garrafa de açúcar". Para quem não sabe, eu tenho uma tensão muito baixa e lido muito mal com longos períodos em jejum: fico sem força nas pernas, a cabeça começa a andar à roda, começa a doer-me o estômago, a enxaqueca ataca, enfim, todo um desastre. Nisto, também já estava aflita para fazer xixi (porque não há intervalos entre as 3 primeiras componentes do exame), mas ir à casa-de-banho era toda uma complexidade, que implicava levantar o braço e esperar que alguém viesse ter connosco, para verificar o passaporte e nos acompanhar até à porta da casa-de-banho, literalmente. Portanto, apertei a bexiga. Também já só faltava o Writing.

Terceira parte: Writing. Aqui é que a coisa se complicou. As perguntas são só 2, mas têm de escrever bastantes palavras para cada uma e têm de seguir um modelo de resposta específico. Não é difícil, têm 1 hora para o fazer e convém treinarem em casa a questão da rapidez, para terem a certeza de que, no fim, ainda conseguem reler e contar as palavras que escreveram. O meu problema foi que, por esta altura, estava a concentrar todas as minhas energias em respirar e não desmaiar. Não estava a sentir-me mesmo nada bem e entreguei o exame sem ter bem a certeza do que tinha escrito. Precisava desesperadamente de ir comer e custou-me imenso aguentar até ao fim. 

Chegados ao fim do Writing, tivemos de esperar que todos os exames fossem recolhidos e que nos dessem autorização para sair da sala. Eu só pensava em ir à casa-de-banho e comer. Já passava das 13h. Antes de nos deixarem sair, uma das vigilantes diz "Pedimos às pessoas que têm exame oral às 14h e às 14h20 que não saiam do edifício". E então, conseguem adivinhar a que horas era o meu exame oral? Às 14h20. Mal podia acreditar. Por sorte, tinha enfiado um bocado de chocolate na carteira, que fui logo buscar, mas não fez muito por mim.

Antes do Speaking tivemos de fazer um novo registo, durante o qual nos tiraram uma fotografia, assim muito ao estilo de recluso, e, a seguir, mandaram-nos para uma zona de espera onde, mais uma vez, não podíamos falar uns com os outros.

Quarta (e última parte): Speaking. facílimo. Esta parte dura cerca de 20 minutos e saí de lá plenamente consciente de que tinha corrido tudo bem. Único problema: estava quase a desfalecer. 

Quando, finalmente, saí do edifício, já mal me segurava nas pernas. E não, não estou a exagerar. Atravessei a rua e fui almoçar ao primeiro sítio que me apareceu (que, por acaso, nem era mau. Ou, então, era eu que já estava com tanta fome que marchava tudo). Mas o estrago já tinha sido feito, a sensação de que tinha um martelo pneumático a trabalhar dentro do meu crânio ficou, continuei com falta de ar e ainda fiz um esforço para ir dar uma volta a pé por Covent Garden, mas acabei por desistir e voltei para casa, onde me atirei para a cama e passei o resto do dia assim, a desfalecer. 

Moral da história, quando me perguntavam "Que tal correu o exame?", eu não sabia muito bem o que responder, porque uma grande parte do exame era um buraco negro na minha memória. Só me lembrava do mal estar e da vontade de me atirar para o chão e não me voltar a mexer. 

Algumas semanas depois, saíram as notas e tinha conseguido não só a nota mínima exigida, como consideravelmente mais. 

Portanto, conselho para vocês, se forem fazer o IELTS: pratiquem, estudem, leiam e conversem em inglês e, sobretudo, encham a vossa garrafa de água (transparente e sem rótulo) com açúcar!

17 comentários:

  1. Eu tive de fazer o IELTS para me candidatar a estudos universitários na Suécia e no dia do exame estava meia febril (e cheia de fome também). As minhas memórias desse exame não são as melhores ;)) Mas acabou por correr bem e tive boa nota.

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    1. Não fazia ideia que pediam isso na Suécia (= bem, fico contente por não ter sido a única a ter fome xD

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  2. Antes de mais muitos parabéns pelo resultado final. Acho que essas pessoas deviam aplicar alguma coisa a esse exame que permitisse as pessoas, pelo menos, terem acesso a algum tipo de snack... Estão a brincar com a saúde das pessoas! Beijinhos*

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    1. Por acaso também acho que deviam rever o método de exame, porque passar tantas horas sem comer e sob stress, a ser examinado não é fácil =P

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  3. Estou a ver que foi mesmo um dia complicado, mas o que compensa é que correu tudo bem e conseguiste passar no exame :)

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  4. Em primeiro lugar, parabéns!! Muito bem, mesmo :) Agora o resto... Fogo! Isso é desumano. Eu percebo todas as exigências, de acompanharem as pessoas e etc., mas tanto tempo seguido, sem intervalo para nada, não é saudável para ninguém.

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    1. Obrigada! Sim, também acho muito pouco saudável... mas, felizmente, para mim já passou! =P

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  5. Que situação :/ vá lá que ao menos a nota compensou e passaste no exame. Mas suportar essas fases nesse estado não facilitou nada a tarefa, dá para perceber.

    r: Aqui nem por isso, mas gulosa como sou não me importava nada de beber já um :p

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    1. Sim, compensou, mas foi um dia que gostava de esquecer =P

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  6. Pronto, temos uma crominha da língua de Shakespeare! Já podes ir para dentro =P Brincadeira ;) Parabéns e obrigado pelas indicações úteis ;)

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  7. Passou mal, mas felizmente compensou. Muitos parabéns! Estou na área das línguas e o inglês para mim sempre foi dor de cabeça na escrita!
    Beijos

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  8. Alô :)
    Opáááá assustaste-me... Pelo início pensei que tinha corrido tudo mal.
    PARABÉNS por teres conseguido uma nota considerável e por teres passado esse stress (e fome) todo .) Beijinho grande

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    1. Obrigada =D Opá, nem gosto de me lembrar da fome que tive xD mas já passou!

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