Hoje estou com a telha. Estou com a neura, com os azeites, com o que lhe quiserem chamar. Só sei que estou com uma boa disposição tal, que nem vale a pena falarem comigo ou vão provocar-me a arrancar-vos a cabeça à dentada. Nem sequer sei muito bem porque é que estou assim. Não foi dia de pagar a segurança social, não aconteceu nada de mau nem de grave... A não ser este temporal desgraçado, que deita abaixo qualquer um que tenha que tirar o rabo da cama para ir trabalhar.
Mas, apesar de ter sido um dia minimamente tranquilo, hoje estive o tempo todo com esta sensação de apatia melancólica. Sentia a respiração mais pesada, uma ansiedade miudinha a apoderar-se de mim. Gostava de conseguir ter um ataque de choro, já sei que me sentia logo melhor. Só que não consigo. Acho que já chorei tanto, especialmente desde que entrei no mundo da escravidão do trabalho português que o meu corpo esgotou o stock de lágrimas e está a ver-se à rasca para o repor. E como já não consigo nem chorar e também não podia propriamente passar o dia deitada com pena de mim mesma, não me restou alternativa a não ser arrastar-me para fora da cama, enfiar um iogurte no bucho e enfrentar a intempérie para ir trabalhar. À hora de almoço resolvi que ia oferecer a mim mesma um chávena de chocolate quente e senti-me ligeiramente melhor durante uns míseros 10 minutos. Acho que teria dado para me sentir bem uma meia hora, pelo menos, se não tivesse sido logo acometida pela culpa de ter estragado a dieta. Ora bolas, que se lixe. Pois, pois, que se lixe, mas a culpa cá fica e amanhã de manhã vou ter que me vingar no ginásio. A única parte produtiva de hoje foi lá conseguir reunir força de vontade suficiente para praticar o meu francês mais um bocadinho. Sim, sim, que eu estava a falar muito a sério quando disse que este ano vou ter que fugir daqui. Para verem como estou a falar a sério, deixo-vos aqui a prova. A prova do meu chocolate pecaminoso e dos meus apontamentos de francês (sim, sim, tenho apontamentos e tudo. Eu cá gosto de fazer tudo à séria).
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