Na passada sexta-feira, foi o meu jantar de despedida com alguns amigos. Foi divertidíssimo, estava toda a gente animada, a comida era boa, a bebida era melhor. Gargalhadas e música ao vivo como ruído de fundo, a coisa estava a correr bem.
E foi então que, no meio de muitos copos de sangria (muitos, muitos copos de sangria) me começou, lentamente, a cair a ficha de que vou embora. Foi uma coisa assim mesmo muito subtil... Começou com um nervoso miudinho no fundo do estômago, que depois passou para uma sensação de "alguma coisa não está bem" e depois acabou com um estrondoso "eu vou deixar esta gente toda para trás". Não fiquei muito deprimida, porque a sangria não deixou, mas a ideia ficou lá latente e atacou em força no dia seguinte e cá permanece até hoje. Eu vou deixar toda a gente que conheço para trás. Não vou ver os meus irmãos a crescer, não vou estar aqui quando forem as festas da escola, nem os espectáculos de ballet, nem quando saírem da faculdade (para quem estiver com dificuldades em situar-se no tempo, eu tenho irmãos que vão desde os 7 aos 20 anos e não, não somos uma família de coelhos. Somos uma família de divórcios e não, não é tão dramático como parece).
Não vou ter os meus amigos... Os meus amigos que estiveram comigo durante mais de metade da minha vida, com quem ri e chorei e passei os melhores e os piores momentos da minha existência. Não sei como é para a maior parte das pessoas que estão na mesma situação, mas eu não queria realmente ir embora, eu tenho que ir embora. Porque se ficar aqui, vou ter que desistir de todos os meus sonhos, vou ter que desistir de ter uma família só minha. E depois começam a surgir as dúvidas: e se os meus amigos se afastarem de mim? E se toda a gente se habituar tanto à minha ausência, que a dada altura eu não seja mais do que uma memória distante? E se durante o tempo em que eu for e o meu namorado ficar, as coisas não resultarem? E se, e se, e se? São muitas perguntas duma só vez e no meio de toda a ansiedade que é preparar tudo para a partida, entre documentos, filas e horas de espera na loja do cidadão (uma pessoa pensa que um serviço de triagem fosse agilizar a coisa, mas não) e aulas de francês tornam tudo muito mais stressante. Mas tenho que me animar e de me encher de coragem para poder aproveitar cá os dias da despedida antes da partida.
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