domingo, 13 de abril de 2014

Engolir em seco

Bolas, que isto têm sido uns dias difíceis como o catano. 
Depois de, na quinta-feira, me terem dito quando é que tenho que estar em França (e que é, tipo, para a semana... nada em cima do acontecimento, portanto) comecei a avisar as pessoas de que me ia embora. Normalmente, a conversa desenrola-se assim:

Eu: Já tenho data para ir embora.
Pessoas: A sério? E então?
Eu: Vou dia 21...
Pessoas: De Maio? Fixe, ainda tens algum tempo.
Eu: Não, de Abril.
Pessoas: O QUÊ??? Temos que combinar alguma coisa.

Eu gostava muito de conseguir combinar alguma coisa com toda a gente mas, como já foi referido, só tenho meia dúzia de dias... Entre organizar as coisas para ir, despedir-me de dezenas e dezenas de pessoas e, ainda, marcar presença nos aniversários da minha irmã e do  meu pai, não sobra tempo nem para eu me coçar, e cheira-me que não vou conseguir despedir-me de toda a gente. Mas, fica a intenção, ok? E eu volto. Prometo que volto.

Entretanto, ontem os meus irmãos mais novos resolveram tirar o dia para me partirem o coração. Começou com a cachopa mais pequena a perguntar se eu ia poder vir cá no seu aniversário... "É numa segunda", disse ela, muito esperançosa. Lá tive eu que engolir em seco e dizer-lhe que se calhar não, não ia poder estar aqui mesmo no dia, mas que a compensava depois e que vinha logo que pudesse blá-blá-blá-whiskas-saquetas. Ela calou-se e dava para perceber que estava a tentar não chorar. Pouco depois, estava eu a chegar a casa do meu pai e vem o meu irmão mais novo dar-me um bocado de cartolina azul, enrolado à volta dum pauzinho de gelado pintado, onde se podia ler "Ó Sofia, quero que te lembres sempre de mim. Beijinhos do teu irmão, João". O meu pai explicou-me que, pelos vistos, o grande medo da vida dele é que eu me esqueça que ele existe. Como se isso fosse possível. Deixar aqui os meus quatro irmãos é deixar aqui quatro pedaços da minha alma. Não pude chorar, porque na minha família não há cá sentimentalismos, mas fiquei com um nó na garganta durante umas horas. Mas, a vida é assim. No fundo, eles entendem. Não entendem a crise nem toda a profundidade da questão, mas percebem que eu vou porque tenho que ir, porque é a minha hipótese de poder ter uma vida melhor. Mas continua a ser doloroso. Para mim e, o que me custa mais, para eles.

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