domingo, 29 de junho de 2014

Chegaram as lágrimas

Esta semana, recebi uma carta da Ordem com a distribuição de quem vai trabalhar em que feriado e em que domingo. Calhou-me o 25 de Dezembro. Nem quis acreditar. Fiquei em choque, com imagens a passarem na minha cabeça de cenários muito tristes em que estava completamente sozinha e a chorar baba e ranho na noite de 24. Porque o Natal é família e a minha família não está em França nem pode cá vir. O Natal é a minha festa preferida no ano inteiro e o meu estava, oficialmente, arruinado. Todos os amigos que tenho aqui são portugueses e espanhóis e, obviamente, vão a casa no Natal. Portanto, só sobrava eu, destinada a passar o Natal mais deprimente da minha vida. Depois, veio a revolta. Mas porque é que são sempre os estrangeiros, ano após ano, pelo que já ouvi, a terem que trabalhar no 25 de Dezembro, 1 de Janeiro e domingo de Páscoa? Não me parece que seja uma coincidência, mas isso já são outras histórias que, de momento, não quero desenvolver. Senti logo o nó a formar-se na garganta, mas pensei para mim mesma: "agora, vais aguentar até casa". Assim que me vi sozinha, longe de olhares alheios, chorei. Chorei pelas saudades que tenho de casa, chorei pelos meses que passo sem ver a minha família e os meus amigos, chorei pela falta que sinto de ver o mar, chorei pela indiferença (e ligeiro desprezo) com que nos (a nós, emigrantes) brindam aqui diariamente e chorei por um Natal que, embora ainda esteja longe, já se adivinhava muito triste. Foi a primeira vez em que realmente me fui abaixo desde que cá cheguei.
Depois, respirei fundo e comecei a pensar no que podia fazer para minimizar o desastre. Não foi preciso pensar muito. O meu namorado querido e fofo prontificou-se logo a vir passar o Natal comigo e a minha assistente (a minha super assistente, a única francesa de quem gosto genuinamente) e a minha Isabel disseram que vamos arranjar uma solução. A solução vai ser essa, passar um Natal sem família, mas com o meu amor. Talvez com bacalhau, mas sem rabanadas, sem filhoses e sem bolo rei. Com prendinhas, mas sem os meus queridos irmãos. E, depois, passo a semana da passagem de ano em Portugal. Não vai ser a mesma coisa, mas a vida é assim. Agora que já passaram alguns dias, até penso que pode ser giro ter o meu primeiro Natal a dois com o meu namorado. Ainda não disse à minha mãe nem à minha avó, porque sei que a reacção não vai ser a melhor. Vão tentar conformar-se a elas próprias e a mim, mas não vai ser sincero. Só contei ao meu pai que, como pessoa fria e prática que é, me disse o que eu estava a precisar de ouvir e que foi qualquer coisa do género: "Isso não é uma má notícia, é a vida que é assim.". Às vezes, preciso de uma dose extra de frieza para me lembrar de que sou mais forte do que tudo. Já passei por tanto. Não vão ser meia dúzia de franceses que me vão estragar o meu Natal.

6 comentários:

  1. Que texto triste... emigrar já é um sacrifício, então assim... :/
    Boa sorte e que tudo corra bem! Não te deixes ir abaixo!

    Beijinhos xx

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  2. Oh Querida realmente... situação mais chata :(
    Mas Força ok? ;)

    Sónia
    Taras e Manias

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  3. Vai ser diferente, mas vai ser bom na mesma :)

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  4. Ui, eu sou uma pessoa que vibra com o Natal, associo-me à tua dor. Força.

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  5. Não conhecia o teu blog mas já dei uma vistas de olhos e agradou-me bastante :) obrigada pelos comentários no meu. Em relação à "triste" notícia, tenho a certeza que irás ultrapassar isso e vais ver que nem tudo será assim tao mau :)
    Beijinhos***

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  6. foi um gesto mesmo bonito pela parte dele :)

    http://venus-fleurs.blogspot.pt/

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