terça-feira, 15 de setembro de 2015

La vie en France #8

Hoje vamos falar de coisas sérias. De coisas sérias que se passam pelo mundo fora, não só em França, mas este episódio fantástico, infelizmente, passou-se aqui e em pleno século XXI.

Ontem à noite, estava eu descansada da vida no sofá, depois dum dia de trabalho e duma corrida ao final da tarde que me soube pela vida, quando passa na televisão uma notícia sobre duas feministas que interromperam uma conferência muçulmana que estava a decorrer em Paris. A notícia foi acompanhada de filmagens que registaram o momento e lá aparecem as duas em topless, muito revoltadas e a interromperem a dita cuja da conferência, onde o tema da discussão era "bater ou não nas mulheres". PÁRA TUDO. 

Fiquei tão doente com esta notícia que quase que se me dava uma coisinha má, meus senhores. Já toda a gente sabe que a violência contra as mulheres existe e que, obviamente, não são só os muçulmanos que a praticam. Agora, que eu saiba. essa mesma violência é crime. Pelo menos, aqui em França (e em Portugal também, assim como em muitos outros países, mas vamos manter-nos dentro do tópico). A minha pergunta é: como é que é possível que se faça uma conferência para debater se se deve ou não praticar um crime? Mas anda toda a gente parva ou quê? Quais vão ser os tópicos das próximas conferências? Assim de repente, ocorrem-me alguns temas engraçados:

  • Deixar ou não deixar os idosos morrerem à fome
  • Violar ou não violar crianças e adolescentes
  • Matar para roubar ou roubar sem matar

Enfim, há todo um rol de possibilidades extremamente interessantes e pedagógicas. E, já agora, em vez da pastinha de qualidade dúbia com os folhetos publicitários, o bloco de notas e a esferográfica que normalmente se oferecem nas conferências, sugiro que ofereçam um rolo da massa e uma chibata, que se é para bater, ao menos que o façam em grande. Ah, pensando bem, o rolo da massa é capaz de não ser boa ideia, não é muito másculo.

Este mundo entristece-me. E revolta-me. 

Ainda no domingo tinha estado à conversa com amigas e das 5 que estávamos presentes, todas tínhamos pelo menos um episódio na nossa vida em que tínhamos tido medo de alguém, sempre um homem, que nos fez sentir medo simplesmente por sermos mulheres e termo-nos cruzado com ele no dia errado à hora errada. Um episódio? Só eu, de repente, consigo lembrar-me de vários. Claro que, felizmente, nunca chegou a acontecer nada a nenhuma de nós (já outras não têm a mesma sorte), mas continua a ser horrível uma pessoa sujeitar-se aos comentários e aos avanços e às perseguições só porque nascemos como seres do sexo feminino. E, como nós, todas as mulheres por esse mundo fora hão-de ter uma história para contar, muitas delas sem final feliz. As nossas mães (a minha quando era mais nova enfiou um estalo a um parvalhão na paragem de autocarro, só por causa das coisas), as nossas amigas, as nossas conhecidas. E penso que um dia as minhas irmãs também vão passar pelo mesmo. Quem sabe, um dia, se não terei filhas e elas também passarão pelo mesmo, porque é inevitável, porque o mundo em que vivemos é assim, e sofro por antecipação. Felizmente, vivemos numa sociedade que ainda consegue ser minimamente civilizada (às vezes são níveis mesmo muito mínimos), mas há quem não tenha a mesma sorte. Há quem seja atacada com ácido por recusar um pedido de casamento, há mutilações genitais, há espancamentos e violações que não são puníveis pela lei. Tudo castigos pelo crime de ser mulher.

E pronto, a conclusão da notícia de ontem foi, como seria de esperar, as duas raparigas atiradas ao chão e a serem pontapeadas por alguns dos homens que lá estavam. Parabéns, meus senhores, uma salva de palmas à vossa mediocridade.

5 comentários:

  1. O mundo está doente, aliás, o mundo É doente porque infelizmente é uma condição permanente. E ainda há tanto mas tanto a fazer no que diz respeito aos direitos das mulheres... Ainda no outro dia vi um documentário sobre a mutilação genital e fiquei literalmente com vontade de vomitar, é um sofrimento atroz ao qual a grande maioria das mulheres na Somália é submetida apenas para manter o seu desejo sexual sob controlo. Espero que um dia as coisas andem em frente mas vai demorar o seu tempo...

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    1. Acho que eu e tu nos devíamos candidatar às próximas eleições ;P para as de Outubro já não vamos a tempo, é pena hehe.

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  2. Percebo-te perfeitamente... às vezes este mundo repugna-me. E esses homens... nem tenho palavras para os definir.

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    1. Eu tenho várias, mas o blog não tem bolinha vermelha no canto =P

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