sábado, 16 de janeiro de 2016

Para quem está a ponderar emigrar...

Volta e meia recebo aqui no blogue perguntas sobre a minha experiência de emigrante, pelo que hoje decidi sentar-me um bocadinho e deixar aqui alguns conselhos que acho úteis.

Atenção, porque o que eu vou dizer aqui não são verdades absolutas. São coisas que aprendi com a minha experiência, com todas as situações com que me fui deparando e são coisas que para mim são válidas, mas para outra pessoa, que tenha tido uma experiência completamente diferente, podem não o ser. 

Em primeiro lugar, é preciso ter a certeza de que é isso que se quer. A vida longe de casa, da família e dos amigos, num país diferente, com pessoas e hábitos diferentes não é pêra doce, ao contrário do que muita gente pensa. Vão haver muitos momentos em que as saudades vão ser enormes, em que vão estar doentes e não vai estar lá ninguém para vos ajudar, em que as pessoas vão olhar para vocês de lado... Momentos em que, simplesmente, tudo corre mal. E, nesses momentos, até os mais decididos vão ter vontade de fazer as malas e voltar. Eu sei que já senti isso algumas vezes. Portanto, aquilo que eu acho é que, se não têm a certeza de que é o que querem, pensem bem, porque depois podem não aguentar. Claro que há sempre a opção de voltarem, ninguém vos vai amarrar com uma corda (à partida. Se o fizerem, chamem a polícia), mas emigrar é todo um processo burocrático complicado (pelo menos, o meu foi) e caro, por isso, é pena passarem por todo o trabalho para nada.

Outra coisa que acho muito importante é emigrar sim, mas com emprego garantido. Especialmente, numa época em que se começam a levantar pela Europa ondas de racismo e de xenofobia, não se metam a ir para lado nenhum se não têm trabalho, porque as dificuldades, que já são muitas, vão passar a ser imensas. E, por falar em dificuldades, quando decidirem sair do país, convém virem com algum dinheiro de lado para os primeiros tempos. A vida, em geral, é mais cara que em Portugal e não se recebe um salário logo no dia em que se chega. Eu tive muita sorte porque vim trabalhar para uma empresa que me disponibilizou um apartamento mobilado e equipado, onde passei os primeiros meses sem ter despesa nenhuma além da minha alimentação mas, se tivesse sido obrigada a alugar logo casa, teria sido muito mais complicado.

Por último, e sinto que já disse isto inúmeras vezes, mas nunca é demais repetir: Portugal não é um país perfeito. Não, sem sombra de dúvida que não e que, aliás, está muito longe disso, mas quando saímos, vimos sempre muito revoltados com o nosso país e, chegados cá fora, mais cedo ou mais tarde, percebemos que também não é assim tão mau. Quase toda a gente que conheço e que emigrou acaba por chegar à conclusão de que nos queixamos muito e que, afinal, há coisas que noutros países são ainda piores. E isto para não falar do clima, das paisagens, enfim, do país em si. Aquilo que, realmente, sentimos que melhorou bastante são as condições de trabalho, a remuneração e, consequentemente, as condições de vida. Isso e o facto de passarmos a ser respeitados no local de trabalho. Em Portugal havia dias em que me sentia completamente rebaixada, como se o único propósito da minha existência fosse estar 24 horas sobre 24 horas à disposição de patrões gananciosos e desumanos, vi muita gente a passar por experiências que nunca pensei que fossem possíveis de tão horríveis que foram, e tudo isto ao mesmo tempo que vivemos na corda bamba, sempre na expectativa de, de um momento para o outro, perdermos o emprego e de ficarmos sem nada. Uma das minhas maiores relutâncias em voltar para Portugal, é voltar a ter um patrão português. Fiquei muito mal impressionada e o pior é que todo o sistema está criado de maneira a que seja esse tipo de gente a sair sempre impune e isso repugna-me para lá do explicável. 

Bem, espero ter ajudado de alguma forma a tirar alguma dúvida que pudessem ter. Sintam-se à vontade para, a qualquer momento, me enviarem um mail a perguntar o que quiserem para cronicasdesaltosaltos@gmail.com , estou sempre à disposição (=

Bom fim-de-semana!!!





11 comentários:

  1. Essa possibilidade está cada vez mais perto e estou em pânico...

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    1. Não há razão para estar em pânico. Sendo o que tu queres e sendo para ir para melhor, é só questão de organizar tudo o melhor possível e com certeza que há-de correr bem!

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    2. Eu não tenho a certeza absoluta se quero. É para ir com emprego (estamos na fase de recutamento) mas a efetividade assusta-me, tendo cá o meu namorado. Ando tão confusa.

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    3. Tens que pensar que Portugal não vai sair do sítio, se não te sentires bem, és sempre livre de te despedires, fazes os meses que tiveres a fazer e vais embora... quanto ao teu namorado, eu também tenho o meu em Portugal, e é muito difícil, mas não é impossível e continuamos a querer estar juntos. Aliás, cada vez queremos mais e estamos a tentar arranjar uma solução. Tenho a certeza de que, se emigrares, tu e o teu namorado também vão conseguir arranjar solução (=

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  2. Para mim, só faz sentido emigrar se tiveres um emprego certo à tua espera. ;)

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    1. Infelizmente, há quem não pense assim e se atire de cabeça à aventura =P

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  3. Sofia, obrigada por este texto :) e também pela tua resposta às minhas questões que te coloquei ontem. És impecável!

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  4. Infelizmente a hipótese de imigrar e cada vez mais a realidade de muita gente.

    Isabel Sá
    http://brilhos-da-moda.blogspot.pt

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  5. Sofia,
    Concordo contigo quando falas do emprego e de dinheiro. Até para emigrar é preciso dinheiro ( no meu caso, foram as vacinas, medicamentos, documentação, fora a questão de me exigirem um saldo na conta bancária). Quem está com a "corda ao pescoço" pode ainda ficar em situação pior! Por isso, se está a pensar emigrar, tenha muito cuidado.
    Em lugar algum vamos estar 100% bem e com todas as condições que queremos!
    Eu não sou exemplo para ninguém pois o que me fez emigrar foi fazer o meu pé de meia e regressar, pelo que já sabia ser temporário. Ganhava muito acima da média, não tinha despesas, mas trabalhava muiiiiiiitoooo mais que em Portugal e não tinha qualidade de vida...!
    O dinheiro não é tudo e chega uma hora em que temos de fazer as nossas escolhas...!
    O meu maior conselho é que as pessoas se informem bem das regras, direitos, custo de vida para o País que vai. E que não acreditem em tudo o que os outros lhe dizem...! :)
    Beijinho
    MR💗
    @sagadaemigracao

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  6. É exatamente o que penso que são as motivações para emigrar. Tem tudo a ver com os problemas de Portugal, mas não em muitos sentidos de que nos queixamos sempre. O principal, o que motiva o acto, são as péssimas condições de trabalho, o facto de não existir segurança ou possibilidade de progredir. Sabemos que não. Não é porque os serviços são maus - porque são. Mas também o são noutros lugares. Não é porque os impostos são terríveis - porque são, mas também o são noutros lugares. É mesmo o que referes.

    Grande parte da nossa vida é passada no local de trabalho. São horas e horas diárias. Se as pessoas não se entendem, se tudo é desorganizado, se não se sente a produtividade, o respeito, a eficiência, não temos qualidade de vida que o dinheiro proporciona, não se pode ter melhores cuidados de saúde por causa disso, não se podem ter filhos por falta de dinheiro... Tudo o resto não é, mas até podia ser perfeito. Mas o que descrevi é o pilar da construção de uma vida satisfatória.

    Eu adoraria emigrar. Para um país nórdico. Mesmo só sabendo falar inglês e encontrar a língua como barreira e, claro, a xenofobia. Mas sinto que me ia ser tão benéfico lidar com outro tipo de postura no trabalho, uma forma social diferente de ser nesse sentido. Preciso disso. Não tenho é uma formação que permite emigrar e encontrar emprego com facilidade. Não sou enfermeira ou formada em tecnologias :D Podia ir para as limpezas? Se calhar até podia... mas não sou grande coisa com elas, já tive uma breve experiencia, rsss. Cuidar de idosos ou crianças? Já estou saturada... Ser au pair? Já foi chão que deu uvas... Não. Precisaria de algo assim como obtiveste. Estável. Daria o couro a trabalhar, mas sabia que tinha em troca essa estabilidade e segurança.

    Agora, sem dúvida que é importante saber como funciona o lugar onde se deseja ir. É vital. Já fui "sem planos", na realidade, estava a trabalhar fora e ao terminar o contrato decidi aventurar-me na busca de emprego. Acho que ia dar certo, apesar da dificuldade de estar registada. Mas em sete dias adoeci e acabei por retornar, pois, como bem dizes, não tinha casa própria, estava a dormir numa camarata e sem mais nem menos, a cama que julgava garantida com o pagamento diário foi cedida a outros... Doente e sem vagas noutros locais da movimentada cidade, como me disseram assim que cheguei, dificilmente ia conseguir prosseguir meus planos. Regressei com ideias de voltar mas quando aterrei aqui outras pessoas tinham ideias ainda mais fortes para não me deixar partir. Daí para a frente, nada de bom aconteceu. E é por isso que é desolador tentar viver aqui, só por isso.

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