Desde que a Leonor nasceu, que eu andava a temer o dia de ir ao Consulado registá-la. Já tinha ouvido e lido muitos relatos de pessoas que passaram o cabo dos trabalhos com o nosso Consulado e uma pesquisa no Google pelo consulado (só queria a morada e o número de telefone deles) revelou centenas de comentários muito negativos.
Uma vez que não vivemos em Londres e tínhamos de lá ir de propósito (o que implica o homem perder um dia de trabalho, pagar bilhetes de comboio, etc.) queria ir lá com a certeza do que era preciso. Sendo assim, decidi tentar telefonar-lhes. Tenho a dizer que não percebo sequer para que é que aqueles senhores precisam dum telefone, porque depois de mais de uma semana passada a tentar ligar para lá todos os dias, várias vezes por dia, acabei por desistir, pois ficou claro que nunca me iriam atender e que tínhamos mesmo de lá ir pessoalmente.
Assim sendo, na passada segunda-feira agarrámos em nós e na miúda e lá fomos todos de comboio para Londres. A inscrição consular é dos poucos atos consulares que não precisam de marcação, por isso decidimos que íamos já tratar disso, para irmos fazer algo mais do que pedir informações. Chegados à morada do Consulado, demos de caras com uma fila enorme de gente, que começava na porta do consulado e dobrava a esquina. Quando o homem me disse que aquilo era a fila para entrar no consulado, eu recusei-me a acreditar e tive de ir verificar eu mesma. Mas o homem tinha razão, claro, e lá tivemos de ir para a fila, que mais parecia a fila para a sopa dos pobres. Chocou-me ver várias pessoas com carrinhos de bebé na fila (estava frio e a chover) e felizmente fomos os dois, assim deu para eu ficar na fila (o homem já estava a deitar fumo, pelo que mandá-lo embora foi também uma medida de segurança pública) e o homem foi abrigar-se com a bebé.
Depois de mais de uma hora na fila, lá me consegui aproximar da porta, mandei mensagem ao homem para vir e o porteiro (que não falava uma palavra de português - sendo que até o ouvi a perguntar a uma senhora "Mas porque é que quer falar com alguém que fale português?", hmm assim de repente eu sei lá, talvez porque estamos no Consulado Português) deixou-nos entrar para saírmos da chuva com a bebé. Neste momento, o meu coração parou de bater, porque a única maneira de entrar no Consulado é subindo meia dúzia de degraus e o meu homem teve de carregar o carrinho nos braços - eu entrei em pânico porque visualizei-me a escorregar nos degraus molhados e a matar a criança, por isso não fui capaz de o ajudar. Mal acabámos de entrar no edifício, tiveram de fazer sair um senhor numa cadeira de rodas e que vergonha senti do meu país naquele momento, senhores, que vergonha. Pegaram numa rampa desdobrável, que tinha um ar tão robusto quanto uma folha de cartolina, puseram-na em cima das escadas e lá foram, o senhor da cadeira de rodas na rampa, o senhor da recepção a segurar a cadeira de rodas e um segundo funcionário a segurar o desgraçado do recepcionista - dava para rir, se não fosse tão triste. Com os degraus molhados, foi uma sorte não se terem pregado aos tombos por ali abaixo.
Finalmente, chegou a altura do recepcionista se ocupar de nós. Perguntou ao que vínhamos, eu disse que era para a inscrição consular, e já conseguia sentir o homem a espumar de raiva atrás de mim quando se apercebeu que o recepcionista não falava bem português. Numa tentativa de evitar homicídios num dia que já estava aa ser bastante mau, eu mantive o meu melhor sorriso amarelo e tentei ser eu a conduzir sempre a conversa. Quando o senhor me diz que o serviço tinha fechado e que tínhamos de voltar às 14h, fui eu que quase o matei. Não podiam ter dito isso antes de nos fazerem subir as escadas com o carrinho ao colo? Mas enfim. Voltámos a descer, enquanto eu rezava a Nossa Sra de Fátima para não caírmos com a bebé, e fomos almoçar.
Às 14h, lá estávamos outra vez à porta (desta vez disseram-nos que não precisávamos de voltar para o fim da fila, que era ainda maior que de manhã). Estávamos mais calmos, de barriga cheia, a Leonor incluída (felizmente ela adora andar na rua, pelo que dormiu pacificamente este tempo todo) e voltámos a explicar ao que vínhamos.
Ainda consigo ver a cara do desgraçado do recepcionista a dizer-me "o serviço não vai abrir mais hoje, vão ter voltar noutro dia". Pronto, foi a gota de água para mim e disse que com certeza, mas que antes de me ir embora, queria o livro de reclamações.
Como eu pedi o livro de reclamações, lá nos deixaram entrar no edifício e, pasmem-se, disseram-me que tinha de esperar porque estava outra senhora a escrever uma reclamação. O nosso consulado funciona tão bem que até para usar o livro de reclamações há fila de espera! Bravo, senhores, uma salva de palmas para vocês. Mas eu esperei, que sou um poço sem fundo de paciência (not), e escrevi a minha reclamação. Quando fui devolver o livro, o homem decidiu perguntar qual era o melhor dia para irmos fazer a inscrição consular, ao que o funcionário nos responde "Inscrição consular? Isso podem fazer já, é só entregarem-me o formulário e os documentos". COMO ASSIM, podemos fazer JÁ, se o seu colega nos mandou embora e disse que tínhamos de voltar outro dia? "Ah, deve ter percebido mal. ". Claro que percebeu mal, puseram-me um caramelo à porta que não fala nem bem português, nem bem inglês, como é que ele não ia perceber mal? Ainda bem que eu pedi para reclamar e ainda bem que o homem decidiu ir perguntar como era para a inscrição, ou tínhamos mesmo vindo embora porque alguém "percebeu mal" o que nós queríamos. Adiante.
Inscrição consular feita, consegui também o que queria: que me explicassem como registar a minha filha. Explicaram-me que tinha de agendar no site, agendamento esse que tem de ser feito entre as 16h e as 17h (não me perguntem porquê, mas foi o que me disseram) e que já só há vagas para daqui a 3 meses, mas que se tivermos uma prova de viagem em como precisamos de ir a Portugal mais cedo e a enviarmos por email, nos tentavam atender com mais urgência.
Lá viemos para casa, mais contentes por saber o que fazer (e óbvio que vamos mandar a prova de viagem, só quero registar a minha filha e pedir o documento único para poder viajar com ela e a tirar deste país - os documentos vamos fazer em Portugal, que ninguém merece ter de lidar com este consulado para mais que o estritamente necessário).
Pois que, chegadas as 16h do dia seguinte, lá fomos para o site, eu em casa e o homem no trabalho, tentar fazer o agendamento. Passámos a hora toda a fazer refresh à página e o resultado era sempre o mesmo "não há vagas disponíveis, por favor tente mais tarde". Mais tarde quando, minhas almas, se só se pode tentar até às 17h??? Enfim.
Pois que, chegadas as 16h do dia seguinte, lá fomos para o site, eu em casa e o homem no trabalho, tentar fazer o agendamento. Passámos a hora toda a fazer refresh à página e o resultado era sempre o mesmo "não há vagas disponíveis, por favor tente mais tarde". Mais tarde quando, minhas almas, se só se pode tentar até às 17h??? Enfim.
E nisto cá estamos, a entupir a caixa de entrada do email do Consulado a ver se alguém nos ajuda - porque telefonar para lá não serve de nada e não me apetece ir a Londres outra vez sem o agendamento feito. Entretanto, decidi pedir ajuda num grupo de facebook de portuguesas no UK e choveram comentários. Houve pessoas que só conseguiram os documentos dos filhos mais de 1 ano depois de eles terem nascido! Mas disseram-me para tentar mandar mensagem ao consulado pelo facebook - aparentemente eles por lá respondem. Não percebo esta dualidade de critério - há tempo para responder a mensagens de facebook, mas levantar o auscultador do telefone é demasiado?
Posto isto, estamos longe de termos o nosso problema resolvido. Fiquem por aí para os próximos episódios, que cheira-me que ainda hão-de rolar cabeças!
txi. que filme. meu deus. odeio serviços que envolvam burocracias em qualquer parte de mundo.
ResponderEliminarboa sorte!
TheNotSoGirlyGirl // Instagram // Facebook
Beeemmmm, parece que o consulado em Uk funciona ainda pior que o da Irlanda. Não que eu tenha razões de queixa, as poucas vezes que tive de lá ir, fui bem atendida e consegui marcação com pouco tempo de antecedência mas há quem fale mal. E pelo menos as pessoas que me apareciam à frente, falavam todas português correcto.
ResponderEliminarMedo! Aqui em Estocolmo também é uma desgraça, da última vez que lá fui perdi meio dia de trabalho em vão porque só fazem marcações a horas mirabolantes e porque não se dignaram a dar-me a informação necessária apesar de contacto anterior via email. Não trabalham, nem deixam os outros trabalhar...
ResponderEliminarBoa sorte com esse filme!
Se toda esta situação não fosse tão surreal, até podia ter graça! Realmente, não há limites para a incompetência :o
ResponderEliminarDesesperante!!
ResponderEliminarCoragem