quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Consulado Português em Londres (ou o meu pior pesadelo)

Desde que a Leonor nasceu, que eu andava a temer o dia de ir ao Consulado registá-la. Já tinha ouvido e lido muitos relatos de pessoas que passaram o cabo dos trabalhos com o nosso Consulado e uma pesquisa no Google pelo consulado (só queria a morada e o número de telefone deles) revelou centenas de comentários muito negativos. 

Uma vez que não vivemos em Londres e tínhamos de lá ir de propósito (o que implica o homem perder um dia de trabalho, pagar bilhetes de comboio, etc.) queria ir lá com a certeza do que era preciso. Sendo assim, decidi tentar telefonar-lhes. Tenho a dizer que não percebo sequer para que é que aqueles senhores precisam dum telefone, porque depois de mais de uma semana passada a tentar ligar para lá todos os dias, várias vezes por dia, acabei por desistir, pois ficou claro que nunca me iriam atender e que tínhamos mesmo de lá ir pessoalmente.

Assim sendo, na passada segunda-feira agarrámos em nós e na miúda e lá fomos todos de comboio para Londres. A inscrição consular é dos poucos atos consulares que não precisam de marcação, por isso decidimos que íamos já tratar disso, para irmos fazer algo mais do que pedir informações. Chegados à morada do Consulado, demos de caras com uma fila enorme de gente, que começava na porta do consulado e dobrava a esquina. Quando o homem me disse que aquilo era a fila para entrar no consulado, eu recusei-me a acreditar e tive de ir verificar eu mesma. Mas o homem tinha razão, claro, e lá tivemos de ir para a fila, que mais parecia a fila para a sopa dos pobres. Chocou-me ver várias pessoas com carrinhos de bebé na fila (estava frio e a chover) e felizmente fomos os dois, assim deu para eu ficar na fila (o homem já estava a deitar fumo, pelo que mandá-lo embora foi também uma medida de segurança pública) e o homem foi abrigar-se com a bebé.

Depois de mais de uma hora na fila, lá me consegui aproximar da porta, mandei mensagem ao homem para vir e o porteiro (que não falava uma palavra de português - sendo que até o ouvi a perguntar a uma senhora "Mas porque é que quer falar com alguém que fale português?", hmm assim de repente eu sei lá, talvez porque estamos no Consulado Português) deixou-nos entrar para saírmos da chuva com a bebé. Neste momento, o meu coração parou de bater, porque a única maneira de entrar no Consulado é subindo meia dúzia de degraus e o meu homem teve de carregar o carrinho nos braços - eu entrei em pânico porque visualizei-me a escorregar nos degraus molhados e a matar a criança, por isso não fui capaz de o ajudar. Mal acabámos de entrar no edifício, tiveram de fazer sair um senhor numa cadeira de rodas e que vergonha senti do meu país naquele momento, senhores, que vergonha. Pegaram numa rampa desdobrável, que tinha um ar tão robusto quanto uma folha de cartolina, puseram-na em cima das escadas e lá foram, o senhor da cadeira de rodas na rampa, o senhor da recepção a segurar a cadeira de rodas e um segundo funcionário a segurar o desgraçado do recepcionista - dava para rir, se não fosse tão triste. Com os degraus molhados, foi uma sorte não se terem pregado aos tombos por ali abaixo.

Finalmente, chegou a altura do recepcionista se ocupar de nós. Perguntou ao que vínhamos, eu disse que era para a inscrição consular, e já conseguia sentir o homem a espumar de raiva atrás de mim quando se apercebeu que o recepcionista não falava bem português. Numa tentativa de evitar homicídios num dia que já estava aa ser bastante mau, eu mantive o meu melhor sorriso amarelo e tentei ser eu a conduzir sempre a conversa. Quando o senhor me diz que o serviço tinha fechado e que tínhamos de voltar às 14h, fui eu que quase o matei. Não podiam ter dito isso antes de nos fazerem subir as escadas com o carrinho ao colo? Mas enfim. Voltámos a descer, enquanto eu rezava a Nossa Sra de Fátima para não caírmos com a bebé, e fomos almoçar.

Às 14h, lá estávamos outra vez à porta (desta vez disseram-nos que não precisávamos de voltar para o fim da fila, que era ainda maior que de manhã). Estávamos mais calmos, de barriga cheia, a Leonor incluída (felizmente ela adora andar na rua, pelo que dormiu pacificamente este tempo todo) e voltámos a explicar ao que vínhamos. 

Ainda consigo ver a cara do desgraçado do recepcionista a dizer-me "o serviço não vai abrir mais hoje, vão ter voltar noutro dia". Pronto, foi a gota de água para mim e disse que com certeza, mas que antes de me ir embora, queria o livro de reclamações. 

Como eu pedi o livro de reclamações, lá nos deixaram entrar no edifício e, pasmem-se, disseram-me que tinha de esperar porque estava outra senhora a escrever uma reclamação. O nosso consulado funciona tão bem que até para usar o livro de reclamações há fila de espera! Bravo, senhores, uma salva de palmas para vocês. Mas eu esperei, que sou um poço sem fundo de paciência (not), e escrevi a minha reclamação. Quando fui devolver o livro, o homem decidiu perguntar qual era o melhor dia para irmos fazer a inscrição consular, ao que o funcionário nos responde "Inscrição consular? Isso podem fazer já, é só entregarem-me o formulário e os documentos". COMO ASSIM, podemos fazer, se o seu colega nos mandou embora e disse que tínhamos de voltar outro dia? "Ah, deve ter percebido mal. ". Claro que percebeu mal, puseram-me um caramelo à porta que não fala nem bem português, nem bem inglês, como é que ele não ia perceber mal? Ainda bem que eu pedi para reclamar e ainda bem que o homem decidiu ir perguntar como era para a inscrição, ou tínhamos mesmo vindo embora porque alguém "percebeu mal" o que nós queríamos. Adiante.

Inscrição consular feita, consegui também o que queria: que me explicassem como registar a minha filha. Explicaram-me que tinha de agendar no site, agendamento esse que tem de ser feito entre as 16h e as 17h (não me perguntem porquê, mas foi o que me disseram) e que já só há vagas para daqui a 3 meses, mas que se tivermos uma prova de viagem em como precisamos de ir a Portugal mais cedo e a enviarmos por email, nos tentavam atender com mais urgência.

Lá viemos para casa, mais contentes por saber o que fazer (e óbvio que vamos mandar a prova de viagem, só quero registar a minha filha e pedir o documento único para poder viajar com ela e a tirar deste país - os documentos vamos fazer em Portugal, que ninguém merece ter de lidar com este consulado para mais que o estritamente necessário). 

Pois que, chegadas as 16h do dia seguinte, lá fomos para o site, eu em casa e o homem no trabalho, tentar fazer o agendamento. Passámos a hora toda a fazer refresh à página e o resultado era sempre o mesmo "não há vagas disponíveis, por favor tente mais tarde". Mais tarde quando, minhas almas, se só se pode tentar até às 17h??? Enfim. 

E nisto cá estamos, a entupir a caixa de entrada do email do Consulado a ver se alguém nos ajuda - porque telefonar para lá não serve de nada e não me apetece ir a Londres outra vez sem o agendamento feito. Entretanto, decidi pedir ajuda num grupo de facebook de portuguesas no UK e choveram comentários. Houve pessoas que só conseguiram os documentos dos filhos mais de 1 ano depois de eles terem nascido! Mas disseram-me para tentar mandar mensagem ao consulado pelo facebook - aparentemente eles por lá respondem. Não percebo esta dualidade de critério - há tempo para responder a mensagens de facebook, mas levantar o auscultador do telefone é demasiado?

Posto isto, estamos longe de termos o nosso problema resolvido. Fiquem por aí para os próximos episódios, que cheira-me que ainda hão-de rolar cabeças!

5 comentários:

  1. txi. que filme. meu deus. odeio serviços que envolvam burocracias em qualquer parte de mundo.
    boa sorte!
    TheNotSoGirlyGirl // Instagram // Facebook

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  2. Beeemmmm, parece que o consulado em Uk funciona ainda pior que o da Irlanda. Não que eu tenha razões de queixa, as poucas vezes que tive de lá ir, fui bem atendida e consegui marcação com pouco tempo de antecedência mas há quem fale mal. E pelo menos as pessoas que me apareciam à frente, falavam todas português correcto.

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  3. Medo! Aqui em Estocolmo também é uma desgraça, da última vez que lá fui perdi meio dia de trabalho em vão porque só fazem marcações a horas mirabolantes e porque não se dignaram a dar-me a informação necessária apesar de contacto anterior via email. Não trabalham, nem deixam os outros trabalhar...
    Boa sorte com esse filme!

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  4. Se toda esta situação não fosse tão surreal, até podia ter graça! Realmente, não há limites para a incompetência :o

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