segunda-feira, 24 de março de 2014

Quem sai aos seus...

Na semana passada lia-se/ouvia-se por todo o lado "o meu pai é o melhor pai do mundo". Acho bonito, a sério. Mas tenho (quase) a certeza que se eu dissesse uma coisa dessas, o meu pai ia achar que eu estava a gozar. E o mais provável é que eu estivesse mesmo. O meu pai não é o melhor pai do mundo. Mas isso é bom, porque eu também estou bem longe de merecer o prémio de filha do ano. Se eu sou fria, o meu pai é a personificação de um iceberg. Mas as coisas funcionam, mesmo assim.
Cresci numa família complicada. Bem sei que todas as famílias o são, mas a minha é assim a roçar o disfuncional. A roçar, não. É completa e indubitavelmente disfuncional. Cresci no meio de gritos e de discussões tão complexas, que aposto que nem as pessoas que estavam a discutir sabiam ao certo como é que aquilo tinha começado. Para mim, divórcio é tão normal como respirar. Tribunais, advogados, regulações de poder paternal, são coisas sobre as quais já tenho bastante conhecimento. Bater com as portas, insultos cheios de rancor e com um significado muito mais profundo do que aquele que possa parecer, chantagem psicológica... o que vocês quiserem, eu conheço. E se, por um lado, tudo o que eu quero na vida é uma família, por outro lado tenho medo do que pode correr mal, porque sei em primeira mão o quão horrível tudo pode ser. Não observei só o divórcio dos meus pais (embora, logicamente, tenha sido o que mais me afectou), mas também de tios e avós. Não é uma coisa bonita e toda a gente perde com isso, mas já estamos a fugir do assunto.
O que eu queria dizer é que as coisas podem ser horríveis, mas por outro lado, as coisas boas que temos com uma família, nunca as temos com mais ninguém. Eu nunca vou conseguir afirmar que a minha família é a melhor do mundo (a menos que a minha vida dependa disso). Mas isso não significa que goste menos deles do que qualquer pessoa "normal" gosta da sua família. Fazia qualquer coisa pela minha família. Às vezes (muitas vezes, se é para sermos exactos) levam-me ao desespero. Dão-me raiva e já me fizeram sofrer como ninguém. Mas também estão sempre aqui, sempre e para sempre de porta aberta e isso é a coisa mais maravilhosa sobre a família: podemos fazer a maior atrocidade, que vai haver sempre um familiar compreensivo e disposto a ajudar, só porque somos família. Só Deus sabe quantas vezes eu já pensei "vou embora e nunca mais ninguém me põe a vista em cima" (e só mesmo Deus é que sabe, porque eu já perdi a conta), mas eu nunca seria capaz. É a minha família, sangue do sangue e todas essas tretas bonitas e maravilhosamente profundas, mas que são verdade. Eu amo os meus pais, os meus irmãos, a minha família e não trocava nenhum deles. Trocava muitos acontecimentos, mas não as pessoas porque sem eles, não faz sentido. Não ia ser quem sou, não ia ser uma pessoa arrogante e com um feitio de merda, que não dá abraços a menos que esteja com uns valentes copos em cima, mas também não ia ser uma pessoa com coragem de enfrentar os próprios pais, de lutar pelo que quer até às últimas consequências e que toma muito bem conta de si mesma. Tudo o que eu sou, tudo o que eu tenho e tudo o que eu consegui, devo-o à minha família e a alguns amigos que já são família, também. E, por isso, adoro-vos a todos (claro que sei que familiar nenhum vai ler isto, e ainda bem. Na minha família não se dão abraços, estão a imaginar a vergonha duma declaração destas?)

3 comentários:

  1. Gostei muito muito , de tudo o que escreveste ;)

    Sónia
    Taras e Manias

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  2. Subscrevo.
    Só não conheço um divórcio. Mas gostava de ter conhecido. Acho que teria feito bem a todos.
    De resto subscrevo a tudo. Todos os pontos e vírgulas.

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