quinta-feira, 14 de abril de 2016

Book review #3

Normalmente, quando faço esta rubrica, tento falar-vos de 3 livros. No entanto, hoje, trago-vos apenas um, mas que vale por muitos: "Os bebés de Auschwitz".

Gosto de História e o período da Segunda Guerra Mundial é uma época que me "fascina" particularmente, sobretudo, a parte social da coisa. Porque Hitler não teria sido Hitler e não teria feito o que fez, se não tivesse sido apoiado (e muito apoiado). Gostava de entender o porquê, o que é que levou aquelas pessoas, naquela altura, a fazerem aquelas coisas. E na minha eterna busca do "porquê", livros sobre este tema (verídicos, de preferência) são uma grande tentação para mim.

Já estou há algum tempo para fazer a review deste livro, mas faltavam-me as palavras certas. Ainda não as encontrei, mas decidi fazê-la na mesma.

Este livro é uma biografia pura e dura: não há suspense, não há romances arrebatadores, não há Quidditch, nem ficção científica. Ainda por cima, é uma biografia que se começa a ler, sabendo-se já o fim da história. A edição que li (a primeira) é uma autêntica calamidade no que a erros diz respeito (confesso que chegava a um ponto em que se tornava deveras irritante) e a editora que a publicou tem mais é que ter vergonha porque nos meus 27 anos de vida, 22 dos quais enquanto leitora assídua, NUNCA li um livro com tantos erros. Mas, apesar disso, a história, o livro em si, vale mesmo muito a pena. 

O livro fala de 3 mulheres judias, oriundas de países diferentes, que sempre viveram vidas pacatas e felizes com as suas famílias, até terem sido apanhadas pela guerra e pela máquina da morte da Alemanha nazi. As 3 foram enviadas grávidas para os campos de concentração (tendo passado por vários dos piores, nomeadamente, Auschwitz e Mauthausen) e sobreviveram a tudo: fome, sede, doença, comboios da morte, marchas da morte e aos campos. Página atrás de página, dava por mim a pensar que por muitos documentários que tenha visto, por muito que tenha lido, nunca tinha lido nada tão gráfico como li neste livro. Palavras simples, sem floreados, nem grandes figuras de estilo e, mesmo assim, temos todo um horror que nos é transmitido e que nos deixa com pele de galinha. Por várias vezes, tive de fechar o livro para não chorar. Perguntei muitas vezes a mim mesma "como é que foi possível?". Continuo sem saber como, só sei que foi possível. Imaginam-se a ter tanta sede que tentam comer flocos de neve? Ou tanta fome que se resignem a comer cascas de árvores (sob o risco de espancamento, se fossem apanhados, claro)? Imaginam ver os vossos avós automaticamente enviados para morrer porque já não podem trabalhar? 

Fiquei a saber de coisas que não sabia. Por exemplo, sempre achei que nos campos, os prisioneiros tinham aquela espécie de pijama às riscas que se vê nos filmes. Pois fiquei a saber que em Auschwitz, depois de passarem por todo um processo de "selecção" extremamente humilhante, davam-lhes roupa ao acaso, que tinha sido confiscada a outros judeus, e era só aquilo que iam ter, dia e noite, para trabalharem horas infindáveis e sobreviverem a invernos impossíveis, ano após ano. Havia pessoas que recebiam vestidos de cocktail e sapatos de saltos altos. Havia quem não recebesse calçado nenhum (o que, para andar na neve, deve dar imenso jeito), havia quem recebesse roupa que não lhes servia, enfim, o que calhava. 

Também nunca achei que a morte nas câmaras de gás envolvesse o grau de sofrimento físico que envolvia. Descrições sobre gritos e murros às portas, bocas a espumar e sangue a escorrer dos ouvidos deram-me pesadelos durante uns tempos.

Outra coisa que achei interessante foi a descrição da atitude das pessoas nos locais por onde elas passavam. Se em países como a República Checa, os habitantes locais punham a sua própria vida em risco para tentarem ajudar os prisioneiros de todas as maneiras que conseguiam, em lugares como a Áustria cuspiam-lhes em cima ou viravam a cara e não era nada com eles. 

Mas, as três protagonistas grávidas conseguem sobreviver a tudo isto e a muito mais, conseguem ter os seus bebés, contra todas as expectativas, e os três bebés de Auschwitz acabam por viver vidas longas e felizes, sendo que se reencontram todos, já adultos. É bom saber que, apesar de todo o mal, há sempre coisas boas que ninguém, por mais que tente, consegue destruir. Acho muito importante que histórias como estas continuem a ser partilhadas, para ver se aprendemos alguma coisa com os erros do passado e para que esses erros fiquem onde pertencem: no passado.




24 comentários:

  1. Esse período da História também desperta imenso a minha curiosidade. Mas não sei se conseguiria ler esse livro, embora gostasse muito. Fiquei com vontade mas, ao mesmo tempo, sei que me deixaria doente.
    Na minha lista tenho o "Se Isto é um Homem". Vou começar por aí e ver como corre.

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    1. É verdade que é uma leitura que exige algum sangue frio... mas lê, não te vais arrepender

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  2. Dado a atualidade eu consigo perceber porque chegou Hitler ao poder. Alias, estamos a observar uma ascensao da extrema-direita, que eu considero extremamnete preocupante, porque parece que a historia vai-se repetir novamente. O Hitler tinha aquele discurso nacionalista, do "vamos voltar aos velhos tempos de gloria", numa altura em que o mundo andava enterrado numa crise profunda. Enfim.. eu estou a escrever um mini resumo sobre esta parte da história do seculo XX na Hungria e a tentar encontrar alguns videos de discurso de população da época.

    porondeandaasofia.blogspot.com

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    1. Eu não consigo. Não consigo mesmo. Apesar de sim, estarmos a ver uma ascensão da extrema-direita que não deixa de ser preocupante, eu continuo sem perceber o porquê de as pessoas fazerem essa escolha. Porque as respostas que recebo parecem-me ocas e não justificam em nada estes extremismos. É por isso que partilhar estas histórias é importante, para as pessoas verem que não leva a nada. Não se resolvem crises, não se solucionam problemas. Só se criam mais sofrimento e histórias de terror...

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  3. Vai para a lista! Parece, de facto, fascinante. É tão triste o que essas pessoas passaram... um terror!

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  4. Os erros são mesmo algo que devemos deixar lá trás! Sem dúvida!!
    Fiquei curiosa com a tua sugestão :)
    Beijinhos

    Blog Denise de Assis
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  5. omg eu vi a reportagem sobre este livro e fiquei cheia de arrepios... e agora depois da tua review fiquei mesmo curiosa!

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  6. Fiquei curiosa. Vou ver se o apanho na minha livraria habitual e ler as primeiras páginas para ver se me cativa.

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  7. Não conhecia mas fiquei curiosa, adoro sempre ler sobre livros dentro desta temática!

    http://venus-fleurs.blogspot.pt/

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  8. Este livro deve ser incrível. Já está na minha lista há imenso tempo, mas ainda não tive oportunidade de ler.

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  9. Quero imenso ler esse livro!
    beijinhos
    http://direitoporlinhastortas-id.blogspot.pt/

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  10. Deve ser um bom livro mas eu desde que li o Diário de Anne Frank da preparatória nunca mais quis ler mais nada sobre esse assunto, deixa-me mesmo muito triste não consigo! Nem filmes sobre isso gosto de ver, o Único que vi foi A Vida é Bela que é um grande filme também e com muitos momentos mais cómicos à mistura mas mesmo assim toca-me mesmo muito esse tema :)
    Bj S

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    1. A Vida é Bela é um filme fantástico e que nos ensina muita coisa! No entanto, dá uma ideia muito mais soft dos campos de concentração do que aquilo que eram na realidade. Compreendo o que dizes, estas coisas são mesmo muito difíceis de ler/ver para qualquer pessoa com um bocadinho de coração e consciência e se não te sentes bem, estás no teu direito de as evitares (;

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  11. É um livro bem poderoso. Vi há uns tempos uma reportagem sobre o livro e resolvi ler- É cru e duro e faz-nos pensar muitas vezes na actualidade de certas atitudes...

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    1. Sim, é verdade que há coisas que se conseguem transpor para os dias de hoje. Parece que a Humanidade está destinada a repetir sempre os mesmos erros

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  12. Depois de uma review tão mágica e bem escrita, tenho que ir comprar o livro! :)

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  13. Este livro marcou-me imenso, toda a crueldade que mostra...e fez-me muito pensar nos dias de hoje e na situação dos refugiados, especialmente porque tal como muitos deles, as mulheres do livro tinham vidas "normais", eram pessoas "normais" e algumas até com dinheiro e de repente, tudo se foi, especialmente a dignidade...

    Another Lovely Blog!, http://letrad.blogspot.pt/

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