quarta-feira, 5 de abril de 2017

La Vie en France | Os mais belos contos de uma lavandaria

Os meus 3 anos em França davam para escrever um livro. Não, minto. Os meus 3 anos em França davam para escrever uma enciclopédia de 12 volumes com direito a edição de capa dura.

Vamos a mais uma história? Vamos, pois.

Há muito pouco tempo, numa sexta-feira nada longínqua, aqui o ser humano saiu do trabalho, tarde, como sempre e, munida de muita força de vontade, arrastou-se até à lavandaria self-service para tratar da roupa e adiantar serviço que, de outra forma, ficaria para o fim-de-semana. Se há coisa pela qual estou ansiosa com a mudança, é por deixar de ir à lavandaria e poder lavar a roupa em casa. Eu podia ter investido numa máquina mas, como não sabia quanto tempo ia viver em Troyes, acabei por não o fazer e ainda bem, que agora era mais uma tralha da qual teria de me livrar.

Pois bem, já estava a roupa lavadinha e seca e estava eu a tirá-la da máquina de secar para a guardar quando ouço, atrás de mim, a porta a abrir-se e alguém entra. Aqui em França, de cada vez que se entra ou sai de algum lado tem que se cumprimentar as pessoas que lá estão, portanto, não fiquei nada admirada quando me disseram boa noite e continuei na minha vida de dobrar meias.

"Será que podemos conversar 2 minutos?", foi a pergunta que o senhor indivíduo me fez logo a seguir. Virei-me para o encarar e dou de frente com um homem, de 30 e poucos anos, que a julgar pelo aspecto e pelo sotaque devia ser croata ou albanês, ou qualquer coisa por ali. 

"Conversar? Eu estou com um bocado de pressa", disse eu.

Senhor indivíduo não se dá por vencido e continua "são só mesmo 2 minutos. Eu só queria conversar um bocadinho contigo, porque agora, sabes como é, uma pessoa tem de tentar conversar antes de perguntar a uma rapariga se quer fazer aquilo que... aquilo que se faz, sabes, para fazer crianças."

* Pausa para a Sofia interiorizar aquilo que tinha acabado de ouvir e fazer o ar mais chocado da história da sua vida. Perante o ar completamente confuso - e chocado - o senhor decide explicar-se ainda melhor.*

"Percebeste? Percebeste? Fazer bebés?" e a esta afirmação junta-se o gesto com as mãos a imitar a barriga das grávidas. 

Há uns anos atrás, isto teria sido o suficiente para me deixar em pânico e, quiçá, à beira das lágrimas mas, desta vez, só me deu vontade de rir às gargalhadas, reflexo contra o qual lutei com todas as minhas forças, não fosse ele levar a mal e partir para a agressão. Assim sendo, disse só que se o assunto da conversa era esse, então não ia haver conversa nenhuma, arrumei as coisas todas o mais depressa que pude e saí. Sei que ele ainda me seguiu durante um bocado mas, como havia bastante gente na rua, acabou por desistir ao fim de uns minutos e seguiu com a vida dele, deixando-me livre para seguir com a minha. Não posso dizer que tenha tido medo, havia mesmo muita gente na rua e em momento nenhum ele se tentou aproximar demasiado, mas pronto, não deixou de ser uma situação caricata e que espero que não se repita num futuro próximo. Nem distante, a bem dizer.

17 comentários:

  1. Vou ter saudades destas crónicas sobre os franceses, eram dos meus posts favoritos! Ainda me lembro da sem abrigo com uma ratazana de estimação, a higiene francesa não falha.
    Espero que continues esta "rubrica", desta feita com os ingleses!

    Bjs,
    Ana

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    1. Não te preocupes, que vão haver crónicas sobre os ingleses, de certeza! (=

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  2. Bem!!! Eu ficava para morrer!!! Ainda bem que estava montes de gente na rua se não... my God, há com cada coisa xDD

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    1. Eu tinha uma cadeira mesmo ao meu lado, já me estava a imaginar a dar-lhe com ela na cabeça e a largar a correr =p

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  3. Pahahah, mas o que é isso?! Que medo. Imagino só a tua cara. Oh, senhores. O que passará pela cabeça dessa gente?! :P

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    1. Eu acho que não lhes passa absolutamente nada pela cabeça e que é esse o problema =p

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  4. Sei que levaste a situação na desportiva mas não posso com esse tipo de comportamentos. A falta de noção de algumas pessoas é chocante! Felizmente não te aconteceu nada. Que venham mais crónicas :)

    Ricardo, The Ghostly Walker.

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    1. Acho que este tipo de situações faz parte da vida de todas as mulheres, infelizmente. Quando era mais nova entrava em pânico, cheguei a casa a chorar várias vezes e dava por mim a pensar sempre duas vezes no que ia vestir antes de sair de casa. Agora, já não quero saber, sinceramente. Mantenho a calma e tenho a resposta sempre na ponta da língua.

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  5. Se há coisa que me tira do sério são esse tipo de abordagens e pior ainda te seguir. Já me aconteceu algo parecido e fiz o maior escândalo porque me senti mesmo intimidada.

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    1. Eu não me senti realmente intimidada, mas óbvio que se me tivesse sentido a minha reação teria sido outra (;

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  6. OMG! Que pânico!
    Há coragem para tudo realmente...

    Blogdiariodeumafamilianormal.blogspot.pt

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  7. Medo, Sofia! :O mas é como tu dizes, o mundo tem tanta bosta que chega uma altura que mais vale rir à gargalhada...

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