Eu tenho uma amiga, é verdade. Não, a verdade é que até tenho mais que uma, mas tenho uma em particular que ontem ao fim da tarde marchou (sentada num autocarro da Rede Expresso, entenda-se) até este fim do mundo gelado para me fazer companhia durante o fim-de-semana. Vamos chamar-lhe a minha Amiga Gestora (sim, eu tenho amizades importantes). Pois bem, gostei muito de ter cá a minha Amiga Gestora. Foi um fim-de-semana calminho porque, além de estar muito frio (para a próxima traz roupa para a neve), hoje começou a chover desalmadamente. Mas conseguimos ver umas lojas (foi só mesmo ver, que isto de ser pobre é muito complicado), comemos porcarias no sábado à noite, vimos uns filmes e umas séries (fragmentos, porque além de pobres somos pessoas que padecem de cansaço), pusemos a conversa em dia. Soube-me maravilhosamente bem ter alguém com quem falar.
Eu sou uma pessoa, assim, vá... fria, mas não sou um pedaço de pedra sem sentimentos. Só não estou muito confortável com a ideia de os espalhar assim por esse mundo fora, são os meus sentimentos e ninguém tem nada a ver com isso. Mas, no que diz respeito à minha Amiga Gestora, às vezes tenho que dar a mão à palmatória e deixar chegar a lágrima ao canto do olho. Porque somos melhores amigas há mais de 10 anos (sim, já lá vão mais de 10 anos) sem nunca nos termos zangado. Sobrevivemos a tudo: a namorados desastrosos, ao colégio elitista, à faculdade, às noitadas, às bebedeiras e às ressacas, às idas às compras, aos dramas familiares, sobrevivemos ao mundo e à vida. A nossa amizade é simples e livre de dramas.
Não há mais ninguém no mundo que fosse passar a noite comigo no hospital depois de eu ter sido operada, mais ninguém que deixasse o trabalho para me levar a ter uma "conversa" com uma ex-patroa maquiavélica, que me deixasse ficar em sua casa quando a minha família se tornava demasiado insuportável, que fosse capaz de tudo para me defender..
Eu sei que ela largava tudo e dava a volta ao mundo a qualquer momento para me ajudar, mesmo que não nos falássemos há semanas (não por estarmos zangadas, mas porque somos assim) e acho que às vezes não mostro o suficiente que eu também dava a volta ao mundo por ela, a qualquer momento.
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