quarta-feira, 5 de março de 2014

La cage dorée

Ontem vi o filme A Gaiola Dourada. Finalmente. Já andava para o ver há muito tempo, mas finalmente ontem decidi-me a vê-lo (o facto de estar a morrer de tédio a olhar para o meu namorado enquanto ele escrevia um artigo é capaz de ter influenciado um pouco). Gostei muito. Ao contrário do que a maior parte das pessoas diz, não acho que prejudique a imagem dos portugueses. Acho, sim, que prejudica a imagem dos franceses. Mas, adiante com isso que não quero chamar para aqui polémicas.
Deu para rir e deu para me emocionar e deu para agora estar com uma crise de ansiedade daquelas que só eu sou capaz. Sim, porque ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, eu não sou uma pessoa calma e ponderada. Eu sou uma pilha de nervos ambulante, mas que ao longo dos anos desenvolveu uma grande capacidade de auto-controlo (quando o auto-controlo vai para as urtigas, normalmente, é aconselhável fugir). Eu sofro por antecipação. Eu sofro com a antecipação da antecipação. Agora só consigo pensar em coisas como "e se os meus filhos vierem a crescer com vergonha de serem portugueses? E se se recusarem a falar português? Ter um filho avec era a pior coisinha que me podia acontecer. E se eles nunca quiserem voltar? Eu quero voltar! Um dia. Um dia distante. Um dia distante em que não precise dum patrão português explorador". Já me estou a imaginar daqui a 15 anos a entrar em pânico com as imberbes das minhas crianças e a mandá-las para um colégio interno em Portugal, com instruções precisas para serem obrigadas a ir à missa todos os dias e a rezar o terço de cada vez que disserem "bonjour". É claro que eu não vou ter filhos agora. Nem nos próximos anos. Demasiados irmãos mais novos fazem isto a uma pessoa. Nem sequer estou a pensar casar tão cedo. Não que uma coisa seja implicativa da outra, mas se for para acontecer, que seja como manda a tradição. Mas, percebem o tipo de ansiedade de que estou a falar? E se estou assim por causa de coisas que nem sequer sei se vão acontecer, imaginem como eu estou por causa das coisas que vão mesmo acontecer e num futuro próximo. Como deixar para trás toda a gente que conheço, ir para um país diferente com costumes diferentes, uma língua diferente, tudo diferente e eu sozinha. Bem, não sozinha, que felizmente vou para perto duma grande amiga, mas ainda assim, é bastante assustador. E estou a começar a perder o sono.

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