quinta-feira, 7 de abril de 2016

Assim vai o mundo

Algo de muito errado tem que se passar, quando se lêem notícias como esta. Já foi há alguns meses que dei com ela, mas nunca me apeteceu debater muito o assunto, porque é tão deprimente que me faltavam as forças. Mas, ultimamente, tenho andado num estado de espírito de "estou farta desta merda toda", portanto aqui vai.

Na notícia de que falo, podemos ler que, pela primeira vez, a riqueza de 1% da população mundial equivale à mesma dos 99% restantes. Sim, leram bem, a proporção é mesmo esta. E estamos longe de poder dizer que é surpreendente, porque não é.

Basta pegar no exemplo de Portugal: um país em que a desigualdade se agrava de dia para dia. Um país em que "trabalho é trabalho" e ninguém se importa de trabalhar horas a mais que nunca vão ser pagas, de nunca ter férias, de nunca ter estabilidade. Mas ninguém faz nada e a coisa vai andando assim: a malta vai para os cafés queixar-se, mas depois a única coisa que importa é que dê para "desenrascar". Para isso e para pagar o iPhone em prestações, mas isso já é tema para outro texto.

Em Portugal, somos demasiado brandos para o nosso próprio bem. Vejam os franceses: não que tenha uma particular admiração por eles (que não tenho), mas lá protestar sabem eles - e bem! Não há cá dramas televisivos porque "ai, meu Deus que os polícias subiram a escadaria da Assembleia da República, ai os doidos". Se é para haver drama televisivo, é porque houve efectivamente um drama na vida real. Em França também há crise, e ela nota-se bem, mas duvido que algum dia eles se rebaixem ao ponto a que nós nos rebaixámos. A minha própria assistente disse-me "mas porque é que vocês emigram? Deviam ficar e lutar pelo que têm direito". Pois é. Devíamos. Mas acho que já estamos num ponto em que perdemos toda a fé, toda a esperança. Sabemos muito que somos governados por crápulas arrogantes, gananciosos, corruptos e, o pior de tudo, incompetentes. Mas já não temos esperança de que isso algum dia mude, o que leva muita gente a lembrar-se do Salazar com uma certa nostalgia.

Uma pessoa tem a sensação de que anda tudo atrás do mesmo, que é ganhar dinheiro, seja como for. E isso faz-nos perder a esperança nos patrões e nos políticos. Faz-nos perder a esperança no país e, se formos a ver bem, no mundo. Porque não, não somos só nós. Seremos um dos piores exemplos, mas não estamos sozinhos. Não deixa de ser triste ouvir dizer Europa fora que quem queira enriquecer honestamente, não pode ir para Portugal. Isso, quando sabem sequer o que é Portugal e onde fica, o que nem sempre é garantido. 

Já não sei qual será a solução. Já não sei, sequer, se haverá solução. Quero acreditar que sim. Mas, para isso ser possível, é preciso começar a mudar a mentalidade de quem manda e de quem é mandado.

Para terminar, deixo-vos com um texto do Ricardo Araújo Pereira que acho que retrata muitíssimo bem aquilo que eu própria penso sobre uma das piores coisas que existe no mercado de trabalho português: o estágio profissional.

15 comentários:

  1. Tens toda a razão, somos mesmo "demasiado brandos para o nosso bem"

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  2. É verdade, concordo em absoluto com os comentários, afinal nós deveríamos proporcionar uma mudança, mas como?

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  3. Mais do mesmo, os ricos ficam cada vez mais ricos ..

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  4. É muito triste esta realidade que cada vez mais se instala de forma permanente. Cada dia que passa é mais um dia em que tudo continua e às vezes até piora. O texto do Ricardo é brutal, em todos os sentidos que esta pequena palavra possa ter.

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    1. É, não é? Eu achei-o genial, mesmo. A maneira como ele descreve todo o ridículo com aquele sentido de humor, mas a dizer a verdade do que se passa ao mesmo tempo

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  5. O tempo passa, mas as desigualdades só se acentuam. Entendo a tua revolta e subscrevo completamente este post!

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    1. Tenho para mim que ainda se hão-de acentuar muito mais antes de alguém fazer alguma coisa em relação a isso

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  6. Num país de descobridores, num país que fez o 25 de Abril é estranho como nos tornámos acomodados e nos contentemos com o pouco que temos, acho que deixámos de ser um país de grandes causas, temos medo...

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  7. Infelizmente é mesmo assim... é mais fácil emgirar do que ficar e lutar porque chega a um ponto parece que estás a remar contra a maré, a travar uma batalha que à partida está condenada para o teu lado.... parte-me o coração porque Portugal tem uma lista de coisas maravilhosas mas condições de bosta mesmo.

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    1. Não é mais fácil emigrar. É melhor do que ficar. Mas não é mais fácil.

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