Aviso: este texto foi escrito num estado de espírito assim a puxar para o melancólico-depressivo, que de vez em quando é uma coisa que também nos faz uma certa falta. Toca a sacar do Kleenex (ou do lenço de papel do Continente, para os mais poupadinhos) que isto vai ser de puxar à lágrima e, consequentemente, ao ranho. Ou então não, estou a exagerar.
Ora, então, cá vai:
Quando emigrei, senti que estava a pôr a minha vida em modo pausa. Mas não há pausas, pois não? O tempo não pára de correr. De correr? De voar, seria mais exacto. Parece que foi ontem e já lá vai mais de um ano. Sinto que perdi tanto. Mas também sei que se estivesse em casa não ia estar a aproveitar coisa nenhuma, por não ter meios, tempo ou, simplesmente, cabeça para isso. Tenho saudades de tudo. Literalmente, de tudo. É uma saudade que nem se consegue pôr por palavras, daí terem arranjado a palavra "saudade", tão portuguesa, para resumir um sentimento que não pode ser descrito, quanto mais resumido. Não posso dizer que ande aqui a chorar pelos cantos, sofrer torna-se parte da rotina e uma pessoa acaba por já nem se dar conta de que não está bem. O silêncio torna-se um companheiro fiel e os dias vão desfilando, uns a seguir aos outros, sem grandes tumultos. O tempo vai passando e a vida vai-se vivendo, confortavelmente. Mas, de vez em quando, e por muito agradável que seja a nossa existência cá fora (que, vamos ser sinceros, até é) é inevitável questionar tudo.
Faltam menos de duas semanas para sentar o meu rabo no banco dum avião da TAP rumo a casa (estou a avisar, TAP, que se alguma coisa corre mal, mesmo que sejam só 5 minutos de atraso, o aeroporto vem abaixo) e não consigo deixar de me sentir frustrada. É muito giro viver num país que não é o nosso, "ah é uma experiência nova, vais conhecer novos costumes e vai ser fixe e cenas". Sim, visto por esse prisma até é interessante. Mas, depois, há o outro lado da moeda. Uma coisa era estar a viver no estrangeiro porque "olha, hoje acordei com os pés de fora e apetece-me", mas saber que a qualquer momento podia voltar. Outra coisa, e completamente diferente, é estar aqui, ter vontade de estar lá e não poder. Poder, podia. Mas para viver que vida? Não poder pagar uma renda, como tanta gente? Não saber se no dia seguinte ia continuar a ter trabalho? Ter medo de pedir uma folga, quanto mais umas férias? Às vezes, sinto-me como o tolinho no meio da ponte. Não estou bem aqui porque me falta tanta coisa. Falta-me o meu amor, a minha família, os meus amigos, os meus lugares e as minhas coisas, as minhas comidas, falta-me tudo o que alguma vez conheci. E aí penso "bem, às tantas era melhor voltar". Mas voltar para fazer o quê? Voltar para trabalhar horas que nunca acabam a troco de pouco ou de nada? Ou não trabalhar de todo, como tanta gente, e já mais perto dos 30 que dos 20 ter que voltar a pedir dinheiro aos meus pais para poder ir tomar um café? Trocar o trabalho e o salário que tenho aqui, a estabilidade financeira, a oportunidade de viajar, de realmente ter uma vida, de juntar dinheiro, para voltar para um país sem futuro, sem presente, sem porcaria nenhuma? E nem me vou alongar mais, que se a conversa vira para os recibos verdes ou para os estágios profissionais, vou estar aqui a escrever até ser Agosto.
Vou acabar isto a dizer que quando leio as notícias, nem sei se hei-de rir ou de chorar. Tanta areia que nos atiram para os olhos, senhores, tanta areia. Tanta produtividade, tanto emprego, tantos estágios, tanto empreendedorismo (a minha palavra preferida). Dinheiro é que é só para as carteiras de meia dúzia. A maior parte sobrevive "à rasca" e o país continua líder, mas é na exportação de gente. Verdadeiro terceiro mundo.
E isto é tudo tão frustrante! Porquê, porque é que não havemos de poder ter boas condições de vida no país onde queremos estar? Se o país onde querem estar não for o vosso então, parabéns, ser português é, efectivamente, a nacionalidade certa para vocês. Acho que as crianças deviam tirar o cartão de cliente frequente da TAP juntamente com o cartão de cidadão, que é para se começarem a habituar à coisa. Mas, para nós, que dávamos um rim pela oportunidade de termos uma boa vida em casa, isto é tudo uma grande merda porcaria.