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sexta-feira, 17 de junho de 2016

Eu, vocês e o blogue

Comecei este blogue já nem sei muito bem porquê, mas creio que terá sido sugestão de alguém, que achou que eu teria muitas coisa a dizer ao mundo. Muitas coisas a dizer, não tenho. Pelo menos, não todos os dias, mas de vez em quando lá acho bem partilhar o que se me vai na alma.

A altura em que comecei o blogue coincidiu com a época em que andava em preparativos para vir para França e nunca tive pretensão nenhuma em relação ao blogue e à blogosfera, era um passatempo e para o qual eu nem sequer tinha muito tempo. No início, ele foi completamente negligenciado porque (e vamos dizer as coisas como elas são) eu tinha mais que fazer.

No entanto, os dias foram passando, a vida estabilizou e eu fui ganhando um carinho e um gosto cada vez maior por este meu estaminé, onde conto as minhas aventuras e desventuras (e vocês não sabem nem da missa a metade, que eu sou pessoa que gosta de manter algum mistério). De repente, e para meu espanto, aparecem mais e mais pessoas que realmente se interessam em perder uns minutos dos seus dias a ler as baboseiras que eu escrevo, as poucas receitas que partilho, as fotos da minhas viagens. E essa sensação é tão boa. É como se, de um momento para o outro, eu tivesse ganho a minha claque pessoal. De cada vez que estou em baixo, venho ao blogue desabafar e recebo mensagens de encorajamento e de solidariedade e essa é uma sensação tão boa, especialmente, estando longe. Quando me sinto sozinha, só preciso de vir ao blogue e a solidão diminui um bocadinho a cada comentário simpático que recebo.

Por tudo isto, a conclusão a que chego é que estou contente por ter tomado a decisão de criar o blogue. Continuo sem nenhum "objectivo" para o blogue. A minha profissão não é esta, é outra e é uma da qual gosto bastante e na qual me quero manter. Isto é um passatempo. Mas, graças a vocês, é um passatempo cada vez mais agradável. Por isso, obrigada a todos e espero que continuem a acompanhar-me, esteja eu onde estiver (=


quinta-feira, 7 de abril de 2016

Assim vai o mundo

Algo de muito errado tem que se passar, quando se lêem notícias como esta. Já foi há alguns meses que dei com ela, mas nunca me apeteceu debater muito o assunto, porque é tão deprimente que me faltavam as forças. Mas, ultimamente, tenho andado num estado de espírito de "estou farta desta merda toda", portanto aqui vai.

Na notícia de que falo, podemos ler que, pela primeira vez, a riqueza de 1% da população mundial equivale à mesma dos 99% restantes. Sim, leram bem, a proporção é mesmo esta. E estamos longe de poder dizer que é surpreendente, porque não é.

Basta pegar no exemplo de Portugal: um país em que a desigualdade se agrava de dia para dia. Um país em que "trabalho é trabalho" e ninguém se importa de trabalhar horas a mais que nunca vão ser pagas, de nunca ter férias, de nunca ter estabilidade. Mas ninguém faz nada e a coisa vai andando assim: a malta vai para os cafés queixar-se, mas depois a única coisa que importa é que dê para "desenrascar". Para isso e para pagar o iPhone em prestações, mas isso já é tema para outro texto.

Em Portugal, somos demasiado brandos para o nosso próprio bem. Vejam os franceses: não que tenha uma particular admiração por eles (que não tenho), mas lá protestar sabem eles - e bem! Não há cá dramas televisivos porque "ai, meu Deus que os polícias subiram a escadaria da Assembleia da República, ai os doidos". Se é para haver drama televisivo, é porque houve efectivamente um drama na vida real. Em França também há crise, e ela nota-se bem, mas duvido que algum dia eles se rebaixem ao ponto a que nós nos rebaixámos. A minha própria assistente disse-me "mas porque é que vocês emigram? Deviam ficar e lutar pelo que têm direito". Pois é. Devíamos. Mas acho que já estamos num ponto em que perdemos toda a fé, toda a esperança. Sabemos muito que somos governados por crápulas arrogantes, gananciosos, corruptos e, o pior de tudo, incompetentes. Mas já não temos esperança de que isso algum dia mude, o que leva muita gente a lembrar-se do Salazar com uma certa nostalgia.

Uma pessoa tem a sensação de que anda tudo atrás do mesmo, que é ganhar dinheiro, seja como for. E isso faz-nos perder a esperança nos patrões e nos políticos. Faz-nos perder a esperança no país e, se formos a ver bem, no mundo. Porque não, não somos só nós. Seremos um dos piores exemplos, mas não estamos sozinhos. Não deixa de ser triste ouvir dizer Europa fora que quem queira enriquecer honestamente, não pode ir para Portugal. Isso, quando sabem sequer o que é Portugal e onde fica, o que nem sempre é garantido. 

Já não sei qual será a solução. Já não sei, sequer, se haverá solução. Quero acreditar que sim. Mas, para isso ser possível, é preciso começar a mudar a mentalidade de quem manda e de quem é mandado.

Para terminar, deixo-vos com um texto do Ricardo Araújo Pereira que acho que retrata muitíssimo bem aquilo que eu própria penso sobre uma das piores coisas que existe no mercado de trabalho português: o estágio profissional.

terça-feira, 5 de abril de 2016

Mais um "até já"

Estou de volta a Troyes, para mais uma temporada. 

As viagens de ida e volta a Portugal são cansativas, sobretudo, quando são estadias de poucos dias (como são quase sempre). São cansativas física e emocionalmente. Mas são o que me dá mais força para me aguentar aqui. Voltar para França já com o bilhete de ida para passado um ou dois meses dá-me todo um outro ânimo e a vida por cá fica mais fácil.

Desta vez, vir embora foi mais triste. Em Portugal, foi um fim-de-semana de festa, com a minha mãe e a minha avó a fazerem anos. Além delas, este mês ainda fazem anos uma das minhas irmãs, uma prima (a designer que renovou o blog), o meu pai e um avô. Sim, a minha família tem uma grande panca pelo mês de Abril, mas adiante. 

Este fim-de-semana soube-me a pouco. A muito, muito pouco. Hoje, custou-me mais do que o costume ver as pessoas a despedirem-se no aeroporto (acontecimento ao qual uma pessoa acaba por se habituar) e fui acometida pela dúvida. 99% do tempo, sinto que tomei a decisão acertada por sair de Portugal. Mas, no 1% que resta... lá vem o "E se?". Imagino que mais gente tenha estes momentos, em relação a várias coisas da vida. E, digam lá, não é do piorio? 

Continuo a ver Portugal como um buraco sem fundo. Toda a gente diz que não pode ficar pior - mas pode sempre ficar pior. Sobretudo, quando uma grande parte da camada jovem, formada ou não, continua a escolher emigrar. Quando os que ficam se resignam, não batem o pé. Baixam a cabeça e vivem o dia-a-dia com as migalhas que lhes são atiradas. Quando tanta coisa está mal e não se vê ninguém com capacidade para resolver os problemas, que são imensos. Até quando? 

Enfim, hoje tive a certeza (já tinha, mas foi renovada) de que gostava de voltar. Só não vejo maneira de isso poder acontecer.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Coisas desta vida

Ser mulher é uma coisa muito complicada.

Todos os meses nos transformamos em criaturas insuportáveis por um breve (mas doloroso e intenso) período de tempo. Cabe-nos a nós carregar crianças durante 9 meses, deitá-las cá para fora e, depois, criá-las (tudo isto ao mesmo tempo em que, muito provavelmente, ainda temos que criar aturar um homem). E como se não bastasse, ainda temos que lidar com as revistas femininas. Que, supostamente, existem para nos ajudar. Para nos guiar nos caminhos tortuosos da feminilidade, uma luz ao fundo do túnel para nos ajudar a equilibrar tudo aquilo que nos é exigido: sermos lindas, magras, andarmos bem vestidas, termos uma vida profissional activa, ao mesmo tempo que somos fadas do lar e namoradas/mulheres/mães exemplares, tudo isto sempre com a manicure impecável, que ninguém gosta de olhar para unhas mal tratadas.

Mas o que é que as revistas femininas fazem por nós, na realidade? Nada, a não ser deixar-nos confusas e miseráveis. Num artigo estão a dizer-nos que não nos devemos preocupar com o nosso peso e que devemos aprender a aceitar o nosso corpo como ele é, para umas páginas mais à frente nos virem com um plano fantástico para perdermos 5kg numa semana e, no fim da revista, acabarem em beleza com uma receita de qualquer coisa extremamente calórica. Falam-nos nas maravilhas de ser uma mulher independente, para depois nos virem debitar "10 maneiras de conquistar o homem dos teus sonhos". 

Queridos editores destas revistas: eu só quero ficar a par das tendências da próxima estação, não quero ter uma crise existencial. Obrigada.







sábado, 9 de janeiro de 2016

"Quando voltar é um erro"

O título está entre aspas porque é uma frase que li algures (mas não me lembro onde) e que fez todo o sentido para mim. 

Quase 2 anos depois de ter emigrado, começo a ouvir muitas vezes coisas como "e porque é que não voltas?", "de certeza que arranjavas qualquer coisa aqui" e, a minha preferida, "o dinheiro não é tudo".

Não, o dinheiro não é tudo. Precisamente por não ser tudo, se eu fizer uma lista de todas as razões pelas quais emigrei, "dinheiro" vai aparecer em último. Felizmente, o que ganhava em Portugal já dava para ser independente e fazer a minha vida, ao contrário do que poderão dizer muitos dos meus colegas, mas precisamente por dinheiro não ser tudo, isso não chegou para me fazer ficar. Eu queria ter um horário de trabalho decente, queria ter fins-de-semana ou umas folgas de vez em quando, queria ter direito a tirar férias (direito que eu tinha, em teoria, mas do qual nunca me foi permitido gozar. Não tive um único dia de férias durante os anos que trabalhei em Portugal). Queria estabilidade. Queria saber o que era poder andar relaxada, sem medo que o meu patrão acordasse mal disposto ou precisasse do meu posto para algum "afilhado" e me mandasse para o olho da rua. Queria saber que, mesmo que fosse para o desemprego, ia ter direito a alguma coisa (que não tinha). Queria mais respeito, também.

E assim decidi fazer as malas e vir embora. Se, no início, ponderei muitas vezes largar tudo e voltar, agora fico contente por não o ter feito. Agora já sei qual é a sensação de ser respeitada no meu local de trabalho. Agora sei o que é ter um horário concebido para meros mortais, como eu, e não para uma qualquer espécie com super poderes que consegue viver a trabalhar incessantemente. Agora tenho férias. Agora faço viagens. Agora tenho (verdadeiramente) estabilidade financeira. Agora sei que voltar para Portugal ia ser o derradeiro suicídio profissional. Não é uma hipótese que esteja completamente posta de parte, mas está adiada. Não quero voltar. Não quero voltar para o país em que só tinha deveres e não tinha direitos. "Mas podias estar com a tua família", também ouço muitas vezes. Nos meus últimos meses a viver em Portugal, não trabalhei na cidade de onde sou e posso dizer que, apesar de estar à distância de 1 hora e meia de carro, a minha família me via menos do que me vê agora que estou em França.

É com alguma surpresa que vejo as pessoas que em tempos me encorajaram a emigrar, a dizerem-me agora que devia voltar. "Porque quem é que te vai ajudar com os filhos?". Errrr... quais filhos? Sabes de alguma coisa que eu não saiba? E quem é que me ia ajudar em Portugal? Os meus pais ainda têm muitos anos de trabalho pela frente e eu não ia ter possibilidades nem tempo para ter filhos. 

Não tenho arrependimentos da minha decisão de vir embora. Foi a melhor coisa que podia ter feito por mim. Não estou a planear ficar aqui para sempre, não sei o que o futuro me reserva, mas sei que o meu futuro próximo não passa por Portugal. Por isso, deixem-me estar tranquila onde estou. Cada um faz as suas escolhas. Há quem escolha ficar e seja feliz (e ainda bem!). Eu escolhi sair. E agora escolho não voltar. Pelo menos, não agora.







quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Resumo de um ano

É impressão minha ou isto cada vez passa mais depressa? Ainda ontem me estava a mudar para França e agora lá já vão quase 2 anos.

Este ano que agora está a chegar ao fim passou melhor e mais depressa que o anterior. 2014 foi um ano muito turbulento, de grandes mudanças, grandes provas (e grandes superações), muitos medos e muitas emoções em geral. 2015 foi mais calmo. Já tinha a minha rotina, a minha vida mais estabilizada em termos profissionais... Foi um ano duro, mas muito bom. Ainda tenho muitos objectivos a atingir (não são assim tantos, mas vamos fazer de conta que sim, porque isto de ser ambicioso parece que está na moda), muitas viagens para fazer, muitas mudanças que quero trazer para a minha vida. 2016 vai ser isso mesmo: mudança. 

2015 trouxe-me muita coisa. Conheci mais sítios novos, tive mais tempo e mais oportunidades para estar com as pessoas de quem gosto e que me fazem tanta falta, consegui superar-me em todos os níveis: desde o campo profissional até às corridas, foi um ano muito positivo. Teve muita coisa má: a minha malfadada mononucleose, o Verão mais quente que tenho memória de ter vivido (foi preciso vir para o Norte de França... e esta, hã?) durante o qual pensei que ia enlouquecer, as saudades, enfim. Mas, apesar de tudo, foi um ano que gostei de viver e que me vai deixar saudades, disso não tenho a menor dúvida. 

A poucos meses do fim deste ano recebi uma péssima notícia: a Isabel vai embora de Troyes. Para quem não sabe (mau, mau, não andam atentos), a Isabel é o meu pilar aqui nesta cidade. Melhores amigas desde 2006, foi ela que me ajudou a vir para aqui e foi muito graças a ela que suportei estar aqui. Quando tinha um dia de merda, sabia que lhe podia ligar mal saísse do trabalho. Quando estava triste, sabia que tinha a companhia dela para ir devorar Ben & Jerry's (peanut butter cup, para quem estiver curioso). Quando não me apetecia estar enfiada em casa ao domingo, podíamos ir ao sushi. Quando a preguiça falava mais alto, sabia que ela me ia obrigar a calçar as sapatilhas e a ir correr. E agora, vai embora. Estou muito feliz por ela, porque sei que vai ser uma grande mudança e, tenho a certeza, para melhor. Mas vai fazer-me falta. Tenho a certeza que a amizade não vai mudar, mas vai ser estranho não a ter aqui por perto. Sei que a vou voltar a ver (e muitas vezes), mas também sei que vou chorar baba e ranho quando a vir de malas feitas. Ao mesmo tempo que ela vai embora, as dúvidas instalam-se. Vou aguentar continuar aqui? Espero que sim. Por outro lado, o meu namorado continua em Portugal e estamos a chegar a um ponto em que se impõe uma mudança. Um dos dois vai ter que sair de onde está. Muito provavelmente, vamos ter os dois de sair de onde estamos. Mas para onde? Muito sinceramente, eu vou para o meio da selva, se for preciso, mas não quero voltar para Portugal. Voltar parece-me o derradeiro suicídio profissional. Não quero. Não quero voltar a trabalhar horas infinitas, a recibos verdes, a pagar impostos e segurança social como se andasse a trabalhar só para isso, sem estabilidade, sem férias, sem folgas, sem saber o dia de amanhã... e muito menos quero ser dependente de outra pessoa. Por muito que goste do meu namorado, que gosto, a única pessoa com quem pude contar incondicionalmente a minha vida toda, foi comigo. E não sou capaz de me pôr numa situação em que esteja dependente de alguém, a menos que me veja obrigada a isso. 

Estou perdida. Perdida e confusa. Eu sei que alguma coisa vai ter que mudar, e vai ter que ser algures durante os próximos 12 meses. Mas o que é que vai mudar, exactamente?

Acho que quando começar a contagem decrescente, durante os últimos segundos de 2015, vou tapar os ouvidos e fazer como as crianças "la la la la la! Não estou a ouvir nada!". 

Sê bem-vindo, 2016. Espero que não sejas tão mau quanto eu estou a antecipar.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Virar a página

 Olá!

Bem, isto anda difícil por estes lados, a inspiração para escrever não tem sido muita. Há alturas assim, em que está tudo simplesmente bem (ou mal) e achamos que não temos nada para dizer ao mundo. Hoje, resolvi que ia aproveitar a folga (a única desta semana... *snif*) e escrever. Não sei o que vai sair daqui, acho que vou limitar-me a divagar e só espero não vos aborrecer demasiado.


Já há ligeiramente mais de quatro anos que deixei de ser estudante. No entanto, Setembro continua a ser, para mim, o início dum novo ano (eu sei que estamos em Outubro, mas não sejam picuinhas, está bem?). Ainda por cima, coincide com o meu aniversário e isso é, efectivamente, o fim de mais um ano e o início do seguinte (palmas para mim pela conclusão brilhante). 

Resolvi que estava, portanto, em boa altura de fazer um ponto da situação. 

Os meus 26 anos foram passados em França. Já vivia cá quando os atingi e por cá continuo agora que acabaram. Apesar de tudo o que isso possa ter de difícil e de triste, acho que foi um ano muito positivo. Foi um ano que marcou uma grande mudança a nível profissional, com o ritmo de trabalho a aumentar (se calhar agora até está demais, mas pronto, não nos vamos queixar porque a conta bancária agradece), em que consegui melhorar e estabilizar a minha situação financeira e em que praticamente tudo se desenrolou tranquilamente. Fiz algumas viagens (Praga, Londres, Bruxelas, Paris e Madeira) das quais guardo muito boas recordações e sinto que não sou a mesma pessoa que era há um ano atrás, sinto-me mais de bem com a vida.

Nem tudo foi um mar de rosas, no entanto. Comecei o ano com uma mononucleose que me deixou KO durante meses, com vontade de me enrolar no chão a um canto e morrer (quanto mais não fosse de auto-comiseração). Apesar de estar doente e de me sentir constantemente exausta, continuei a ir trabalhar (até porque só ao fim de sensivelmente 3 meses depois de ter ficado doente, é que tive direito a um diagnóstico), às vezes com muito esforço para arrastar os pés, às vezes depois de ter passado uma noite acordada a vomitar e às vezes com a sensação de ter sido atropelada por um camião. Podia ter metido baixa? Podia. E devia. Mas só pensava na confusão que ia ser para a clínica se eu não aparecesse. Maldito amor à camisola. Lá para Maio vi-me, finalmente, livre deste problema. Mas, mesmo saudável, todos os dias continuaram a ser uma batalha emocional entre o que tenho aqui e o que deixei para trás. 

No final de contas, pesando tudo o que foi bom e tudo o que foi mau, a conclusão a que chego é que foi um ano muito positivo. Reflectir (não, ainda não aderi ao novo acordo ortográfico) em tudo isto resultou que ando numa fase muito boa, cheia de motivação para mais um ano e que espero que seja só tão bom como o que passou. Não preciso que seja melhor. Só igual.




Troyes. Ainda era uma recém-chegada quando tirei esta foto.

Hmmm... não me estou a lembrar de onde tirei tirado esta foto. Talvez Torre Eiffel, em Paris?

Não, não estou a segurar um balão vermelho.

Praga by night.

Eu, em Praga, feliz da vida.


Londres seria a cidade perfeita, se não tivesse um clima de merda porcaria.

O Big Ben, tão fofinho.

Bruxelas. A cidade com mais gauffres e chocolates por metro quadrado.

Fui feliz em Bruxelas (e não voltei diabética porque foram só três dias).

Madeira!


Porto Santo! Quero muito voltar!

E mais Madeira (=

sábado, 3 de outubro de 2015

27!

Dia 28 de Setembro fiz anos (palmas para mim!). 27 anos, para ser mais exacta. 
27 anos já me começa a parecer uma idade de pessoa adulta, o que me faz uma certa comichão mas, a julgar pela quantidade de facturas que pago todos os meses, acho que é oficial: sou adulta. Quando é que isto aconteceu? E pior, como é que eu não dei conta? Ainda ontem estava na escola a contar os minutos que faltavam para o intervalo (e como eles passavam devagar, uma autêntica violência) e na segunda-feira tive que ouvir a minha ginecologista a dizer "se estiver a pensar ter filhos, o momento ideal é agora" (tenha lá calma, senhora, não nos vamos entusiasmar).

Fiquei particularmente nostálgica neste meu aniversário. Tive saudades das minhas festinhas de anos, em que a minha mãe fazia comida suficiente para alimentar um exército durante 1 mês, com cubinhos de gelatina em formas de papel, mousse de chocolate, pães de leite com fiambre e queijo e tigelas com batatas fritas (tudo super saudável, portanto).Tive saudades de não saber o que era ter responsabilidades que fossem para além da escola e das regras de boa educação. Mas pronto, parece que isto do tempo é assim que funciona: o estupor passa sem nos pedir licença. 

Fora estes meus devaneios, posso dizer que foi um aniversário muito calminho, as prendas foram poucas e boas e os bolos foram muitos e bons. Além disso, só tenho a acrescentar que fiquei ligeiramente demente depois de ter atingido os 27 anos e que ando numa fase em que me esqueço de tudo e mais um par de botas, a começar pelas chaves da clínica que ficaram em Portugal (o que dá imenso jeito, tendo em conta que a clínica é em França). Já fui à farmácia hoje comprar vitaminas, que diz quem percebe do assunto que isto é só cansaço.



domingo, 20 de setembro de 2015

Book review #1

Um dos meus maiores vícios é ler. Nem sempre sou uma leitora tão assídua quanto gostaria mas, ultimamente, tenho andado a portar-me relativamente bem. Sempre que vou a Portugal aproveito para completar a minha colecção de livros e estas férias não foram excepção.

Portanto, e sem mais demoras, vou falar-vos dos últimos livros que li.

"O problema não és tu, sou eu" da Ana Garcia Martins (aka A Pipoca Mais Doce)

Não é propriamente uma obra literária épica, mas acho que esse também não era o objectivo da autora. Este é um daqueles livros leves, para dar umas gargalhadas, onde são abordadas várias questões sobre relacionamentos amorosos, sempre com muito sentido de humor. Não é um livro que tenha como objectivo ensinar, ou mostrar como devemos fazer as coisas, é simplesmente um conjunto de opiniões bem escritas. Gostei, ri-me muito e li-o em dois dias.


"Resgate" da Danielle Steel

O primeiro livro que alguma vez li da Danielle Steel foi, como o de tanta gente, o "P.S. - Eu amo-te". Gostei imenso (do livro, já do filme nem tanto). Já li outros livros da autora e têm sido uma sucessão de desilusões, umas maiores que outras. Por isso mesmo, não estava com grandes expectativas para este. Comprei-o mais para fazer a vontade ao funcionário da Bertrand, que parecia aflito para me fazer comprar mais qualquer coisa. Não sei se foi por estar com as expectativas tão em baixo ou se o livro é realmente genial, mas adorei-o. Fiquei completamente agarrada e não descansei enquanto não cheguei à última linha. A história tem como tema principal um rapto, mas visto do ponto de vista das várias personagens principais: uma dona de casa, um criminoso com escrúpulos, um criminoso sem escrúpulos e um polícia. A maneira como a escritora conseguiu ligar todas as personagens, criar todo um enredo, fazer-nos ver e sentir as coisas sob o prisma de cada uma das personagens foi, simplesmente, brilhante. Aconselho mesmo muito a leitura deste livro.

"Os muitos nomes do amor" da Dorothy Koomson

Basta ler um livro da Dorothy Koomson para se ficar a conhecer, automaticamente, todas as personagens principais de todos os seus livros. É verdade que ela não se arrisca muito, a trama muda, mas o tipo de personagens é sempre igual mas, já dizia o outro, em equipa vencedora não se mexe. Pois, a questão aqui é precisamente que, apesar de nunca fugir do mesmo registo, escreve sempre livros que eu adoro. Consegue explorar os sentimentos das personagens duma forma mesmo muito complexa, consegue fazer-nos pensar, ficar ansiosos, contentes ou angustiados à medida que nos dá a conhecer as personagens e as suas histórias. Este livro é sobre uma mulher adoptada que, apesar de querer conhecer a sua família biológica, acaba por descobri-la acidentalmente. Entre a nova relação com a sua família biológica e a relação com os pais adoptivos, ela encontra-se dividida, sem saber onde pertence realmente. Além disso, enfrenta outros problemas, tem fantasmas do passado que a perseguem e é ao longo das páginas do livro que os vai enfrentar, assim como a si própria. 
Não vou entrar em muitos detalhes sobre a história, leiam o livro que vale muuuuuito a pena!

terça-feira, 15 de setembro de 2015

La vie en France #8

Hoje vamos falar de coisas sérias. De coisas sérias que se passam pelo mundo fora, não só em França, mas este episódio fantástico, infelizmente, passou-se aqui e em pleno século XXI.

Ontem à noite, estava eu descansada da vida no sofá, depois dum dia de trabalho e duma corrida ao final da tarde que me soube pela vida, quando passa na televisão uma notícia sobre duas feministas que interromperam uma conferência muçulmana que estava a decorrer em Paris. A notícia foi acompanhada de filmagens que registaram o momento e lá aparecem as duas em topless, muito revoltadas e a interromperem a dita cuja da conferência, onde o tema da discussão era "bater ou não nas mulheres". PÁRA TUDO. 

Fiquei tão doente com esta notícia que quase que se me dava uma coisinha má, meus senhores. Já toda a gente sabe que a violência contra as mulheres existe e que, obviamente, não são só os muçulmanos que a praticam. Agora, que eu saiba. essa mesma violência é crime. Pelo menos, aqui em França (e em Portugal também, assim como em muitos outros países, mas vamos manter-nos dentro do tópico). A minha pergunta é: como é que é possível que se faça uma conferência para debater se se deve ou não praticar um crime? Mas anda toda a gente parva ou quê? Quais vão ser os tópicos das próximas conferências? Assim de repente, ocorrem-me alguns temas engraçados:

  • Deixar ou não deixar os idosos morrerem à fome
  • Violar ou não violar crianças e adolescentes
  • Matar para roubar ou roubar sem matar

Enfim, há todo um rol de possibilidades extremamente interessantes e pedagógicas. E, já agora, em vez da pastinha de qualidade dúbia com os folhetos publicitários, o bloco de notas e a esferográfica que normalmente se oferecem nas conferências, sugiro que ofereçam um rolo da massa e uma chibata, que se é para bater, ao menos que o façam em grande. Ah, pensando bem, o rolo da massa é capaz de não ser boa ideia, não é muito másculo.

Este mundo entristece-me. E revolta-me. 

Ainda no domingo tinha estado à conversa com amigas e das 5 que estávamos presentes, todas tínhamos pelo menos um episódio na nossa vida em que tínhamos tido medo de alguém, sempre um homem, que nos fez sentir medo simplesmente por sermos mulheres e termo-nos cruzado com ele no dia errado à hora errada. Um episódio? Só eu, de repente, consigo lembrar-me de vários. Claro que, felizmente, nunca chegou a acontecer nada a nenhuma de nós (já outras não têm a mesma sorte), mas continua a ser horrível uma pessoa sujeitar-se aos comentários e aos avanços e às perseguições só porque nascemos como seres do sexo feminino. E, como nós, todas as mulheres por esse mundo fora hão-de ter uma história para contar, muitas delas sem final feliz. As nossas mães (a minha quando era mais nova enfiou um estalo a um parvalhão na paragem de autocarro, só por causa das coisas), as nossas amigas, as nossas conhecidas. E penso que um dia as minhas irmãs também vão passar pelo mesmo. Quem sabe, um dia, se não terei filhas e elas também passarão pelo mesmo, porque é inevitável, porque o mundo em que vivemos é assim, e sofro por antecipação. Felizmente, vivemos numa sociedade que ainda consegue ser minimamente civilizada (às vezes são níveis mesmo muito mínimos), mas há quem não tenha a mesma sorte. Há quem seja atacada com ácido por recusar um pedido de casamento, há mutilações genitais, há espancamentos e violações que não são puníveis pela lei. Tudo castigos pelo crime de ser mulher.

E pronto, a conclusão da notícia de ontem foi, como seria de esperar, as duas raparigas atiradas ao chão e a serem pontapeadas por alguns dos homens que lá estavam. Parabéns, meus senhores, uma salva de palmas à vossa mediocridade.

domingo, 13 de setembro de 2015

Hoping for monday

Hoje dei por mim ansiosa pela segunda-feira. Não porque o dia tenha sido mal passado, que não foi, mas porque está a tornar-se muito mais fácil trabalhar do que fazer outra coisa qualquer.
No trabalho não tenho tempo para pensar nos meus problemas. No trabalho não tenho, sequer, tempo para ter problemas. No trabalho, os problemas não são meus, são dos pacientes e eu tenho os meios de que preciso para os poder resolver, que é bem mais do que posso dizer sobre os meus próprios problemas. No trabalho, não tenho ninguém que me possa desiludir (tenho pacientes que, às vezes, me irritam solenemente, mas não posso dizer que me desiludam).

Quando penso em mim, sou obrigada a dizer que fui uma criança muito feliz. Até ao dia em que dei por mim no meio duma guerra que não me dizia respeito e da qual não queria fazer parte. Dei por mim a tentar fazer malabarismos entre o meu próprio sofrimento e o sofrimento em que via outras pessoas, a tentar fazer os possíveis para não desagradar a ninguém enquanto tentava continuar a ser uma criança e, depois disso, uma adolescente. Sim, porque não há nada de que uma adolescente sensível com as hormonas ao rubro precise mais do que dramas familiares em relação aos quais não pode fazer nada, senão assistir e rezar para que tudo acabe depressa. Inevitavelmente, cheguei à idade em que me começou a ser permitido decidir o que queria. E os dramas continuavam, alguns diferentes, alguns iguais, mas todos continuavam a não me dizer respeito. O problema de ter idade para decidir o que queria é que eu não fazia a mínima ideia do que queria, só do que não queria. Fiz muita gente zangar-se, imagino que os tenha magoado também, mas quem não aguentava mais ser magoada era eu e, a bem da verdade, não tinha sido eu a começar isto. Tive que ser egoísta, mas foi uma altura muito decisiva na minha vida: ou virava às costas, ou nunca mais ia conseguir sair do buraco negro em que vivia. Hoje estou contente por ter virado as costas. Com o tempo, os ânimos acalmaram-se, as relações restabeleceram-se, nunca mais seriam as mesmas, mas ao menos não estavam perdidas. Consegui deixar o que era mau para trás das costas, mas tudo deixa marcas.

Hoje, considero-me uma pessoa feliz. Tenho as minhas pancas, mas ora bolas, quem é que não tem? Aprendi muita coisa ao longo dos meus 26 (quase 27!) anos e tenho muito mais experiência de vida do que alguém com a minha idade deveria ter. Mas tenho-a e não me é inútil. Mas aqui entra a parte que me faz rezar para que seja segunda-feira. Aqui entra a parte em que as várias partes do meu cérebro andam à luta umas com as outras, o que resulta em dores de cabeça monumentais. Dum lado, tenho a pessoa minimamente normal que considero ser e que gostava de um dia assentar arraiais e ter a sua própria família, com direito a casa, cão, putos ranhosos e tudo. Do outro lado, tenho a pessoa que viveu a minha vida e que acha que eu estou louca, que nem sequer sei o que é ter uma família, como é que vou ser capaz de criar a minha, por amor aos santinhos, que me deixe de ideias malucas que já há demasiadas crianças traumatizadas no mundo, não preciso de arranjar mais umas.

Será que conseguimos ser diferentes do que os exemplos que tivemos toda a vida? Gosto de acreditar que sim, mas continuo a ter as minhas sérias dúvidas. 

E é para deixar de pensar em tudo isto que quero desesperadamente que seja segunda-feira.

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

La vie en France #7

Ah, que saudades que eu tinha desta rubrica. Que saudades que eu tinha de falar mal criticar respeitosamente e de vos trazes mais um ensinamento sobre algumas particularidades da vida duma pessoa em França. Continuo à espera que, a qualquer momento, me ponham daqui para fora mas, enquanto não o fizerem, há que aproveitar porque, por muito que a minha vida tenha melhorado com a emigração, há coisas em que, claramente, piorou.

Pois então, o que tenho para vos contar hoje, estão vocês a pensar (se não estão, deviam).

Hoje, fui dissuadida pelas minhas colegas a ir almoçar fora com elas. Bem lá no fundo, eu sabia que não devia ir. Eu sabia que o mais sensato era ir pegar no tupperware de massa com frango que tinha no frigorífico, aquecê-lo dois minutos no microondas e dar-me por contente. Mas não. Lá cedi ao "ai, que está sol e temos que aproveitar" e ao "oh, anda lá, é só uma vez" e fui. 

Foi um almoço muito bem passado, não posso dizer que não. Estava um solzinho maravilhoso, a comida estava boa e a conversa também. Então e o que é que correu mal no meio deste cenário tão perfeito? Passo a explicar. Já todas tínhamos acabado de comer, as mais gulosas estavam a acabar as sobremesas (felizmente, não fui suficientemente ingénua para alinhar nos doces), pedimos a conta porque tínhamos que voltar ao trabalho e a excelentíssima da senhora que nos serviu, no momento em que pousou o recibo na mesa, brindou-nos com um suspiro e o seguinte queixume:

"Ai, o cozinheiro hoje não está bem. Cá para mim, está mas é com uma gastroenterite. Então não é que está desde manhã com vontade de vomitar?".

Silêncio na mesa. Os meus olhos colaram no prato meio vazio que ainda tinha à frente e pensei "Olha que grande porra, ainda bem que não comi tudo, mas com a sorte que eu tenho amanhã já não saio da casa-de-banho".

Portanto, meus amigos, é isto. Tenho para mim que a ASAE ganhava milhões (quanto mais não fosse, milhões de apoplexias e AVC's) se abrisse aqui uma filial.

E agora, vou só ali deitar-me no sofá e lamentar-me do pequeno enjoo que já estou a sentir.

terça-feira, 28 de julho de 2015

Esboço de esperança

Quero ser optimista. 
Quero acreditar que tudo acontece por uma razão, por uma qualquer força maior que em nada depende da nossa vontade. Quero acreditar que tudo nos leva a algo, mesmo aquilo que parece que não nos leva a lado nenhum. Quero acreditar que todas as desgraças que nos apoquentam não são mais do que uma pequena pedra nessa estrada que se chama felicidade. Quero acreditar que depois da tempestade, vem a bonança.
Quero acreditar em tempos melhores. Quero sonhar com dias de mais união, de mais garra e força de vontade, de capacidade de mudar as coisas. Quero acreditar que as coisas vão mudar. Porque têm que mudar, é a única solução. 
Quero acreditar que somos capazes de aprender com os erros.
Quero acreditar que juntos vamos ser capazes de lutar para mudar. Mudar muito, talvez tudo. Mudar de vez.


sexta-feira, 24 de julho de 2015

Saudades em forma de desabafo

Aviso: este texto foi escrito num estado de espírito assim a puxar para o melancólico-depressivo, que de vez em quando é uma coisa que também nos faz uma certa falta. Toca a sacar do Kleenex (ou do lenço de papel do Continente, para os mais poupadinhos) que isto vai ser de puxar à lágrima e, consequentemente, ao ranho. Ou então não, estou a exagerar. 

Ora, então, cá vai:

Quando emigrei, senti que estava a pôr a minha vida em modo pausa. Mas não há pausas, pois não? O tempo não pára de correr. De correr? De voar, seria mais exacto. Parece que foi ontem e já lá vai mais de um ano. Sinto que perdi tanto. Mas também sei que se estivesse em casa não ia estar a aproveitar coisa nenhuma, por não ter meios, tempo ou, simplesmente, cabeça para isso. Tenho saudades de tudo. Literalmente, de tudo. É uma saudade que nem se consegue pôr por palavras, daí terem arranjado a palavra "saudade", tão portuguesa, para resumir um sentimento que não pode ser descrito, quanto mais resumido. Não posso dizer que ande aqui a chorar pelos cantos, sofrer torna-se parte da rotina e uma pessoa acaba por já nem se dar conta de que não está bem. O silêncio torna-se um companheiro fiel e os dias vão desfilando, uns a seguir aos outros, sem grandes tumultos. O tempo vai passando e a vida vai-se vivendo, confortavelmente. Mas, de vez em quando, e por muito agradável que seja a nossa existência cá fora (que, vamos ser sinceros, até é) é inevitável questionar tudo.

Faltam menos de duas semanas para sentar o meu rabo no banco dum avião da TAP rumo a casa (estou a avisar, TAP, que se alguma coisa corre mal, mesmo que sejam só 5 minutos de atraso, o aeroporto vem abaixo) e não consigo deixar de me sentir frustrada. É muito giro viver num país que não é o nosso, "ah é uma experiência nova, vais conhecer novos costumes e vai ser fixe e cenas". Sim, visto por esse prisma até é interessante. Mas, depois, há o outro lado da moeda. Uma coisa era estar a viver no estrangeiro porque "olha, hoje acordei com os pés de fora e apetece-me", mas saber que a qualquer momento podia voltar. Outra coisa, e completamente diferente, é estar aqui, ter vontade de estar lá e não poder. Poder, podia. Mas para viver que vida? Não poder pagar uma renda, como tanta gente? Não saber se no dia seguinte ia continuar a ter trabalho? Ter medo de pedir uma folga, quanto mais umas férias?  Às vezes, sinto-me como o tolinho no meio da ponte. Não estou bem aqui porque me falta tanta coisa. Falta-me o meu amor, a minha família, os meus amigos, os meus lugares e as minhas coisas, as minhas comidas, falta-me tudo o que alguma vez conheci. E aí penso "bem, às tantas era melhor voltar". Mas voltar para fazer o quê? Voltar para trabalhar horas que nunca acabam a troco de pouco ou de nada? Ou não trabalhar de todo, como tanta gente, e já mais perto dos 30 que dos 20 ter que voltar a pedir dinheiro aos meus pais para poder ir tomar um café? Trocar o trabalho e o salário que tenho aqui, a estabilidade financeira, a oportunidade de viajar, de realmente ter uma vida, de juntar dinheiro, para voltar para um país sem futuro, sem presente, sem porcaria nenhuma? E nem me vou alongar mais, que se a conversa vira para os recibos verdes ou para os estágios profissionais, vou estar aqui a escrever até ser Agosto.

Vou acabar isto a dizer que quando leio as notícias, nem sei se hei-de rir ou de chorar. Tanta areia que nos atiram para os olhos, senhores, tanta areia. Tanta produtividade, tanto emprego, tantos estágios, tanto empreendedorismo (a minha palavra preferida). Dinheiro é que é só para as carteiras de meia dúzia. A maior parte sobrevive "à rasca" e o país continua líder, mas é na exportação de gente. Verdadeiro terceiro mundo.

E isto é tudo tão frustrante! Porquê, porque é que não havemos de poder ter boas condições de vida no país onde queremos estar? Se o país onde querem estar não for o vosso então, parabéns, ser português é, efectivamente, a nacionalidade certa para vocês. Acho que as crianças deviam tirar o cartão de cliente frequente da TAP juntamente com o cartão de cidadão, que é para se começarem a habituar à coisa. Mas, para nós, que dávamos um rim pela oportunidade de termos uma boa vida em casa, isto é tudo uma grande merda porcaria.


quinta-feira, 23 de julho de 2015

What is privilege?

Huffington Post publicou este vídeo, super simples e super interessante, sobre "privilégio". Acho que vale mesmo a pena "perderem" dois  minutos do vosso tempo para o verem e, quem sabe, ganharem uma nova perspectiva sobre o assunto. Não é super emocionante, nem vai mudar a vossa vida, mas vale a pena.

Aproveito para relembrar que o blog agora tem uma página de facebook (palminhas!!!). Vá, toca a ir fazer like e, quem sabe, haverá uma surpresa.



domingo, 5 de julho de 2015

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Coisas que não entendo

Nos meus (quase) 27 anos de vida, sempre tive tendência a ter mais amigos rapazes do que raparigas. Não sou de andar aos abracinhos e aos guinchos nem de ir com companhia para a casa de banho, portanto, a coisa sempre foi funcionando assim. Neste momento, já tenho um bom grupo de amigas do sexo feminino, que fui seleccionando e acumulando ao longo dos anos e os amigos homens lá foram ficando para trás (verdade seja que, às vezes, também são difíceis de aturar).
Isto tudo para dizer que há uma coisa que não entendo. É ponto assente que a maior parte dos homens gosta de se gabar, desde tenra idade, que andou com esta e com aquela e que ainda teve tempo de dar umas voltas com a vizinha do andar de baixo. Tudo muito bem, cada um faz o que quer, não estou aqui a julgar ninguém. Mas, depois, quando se fala em casar ou, pelo menos, em assentar arraiais, querem uma virgem. Ora beeeem... sou só que noto aqui uma ligeira, pequenina, incompatibilidade? Se todas as mulheres esperassem virgens até ao casamento, primeiro arriscavam-se a uma vida de infelicidade porque vai daí que o gajo não faz a mínima ideia do que está a fazer? Depois do papel assinado, não é impossível voltar atrás, mas vai-se ter muito trabalho que poderia, facilmente, ter sido evitado. Segundo, ia ser um bocado difícil aos homens andarem com esta e com aquela porque esta e aquela iam estar a guardar-se para o casamento. Hipocrisia? No mínimo. Isto de querer o melhor dos dois mundos, às vezes, é complicado. 

Outra coisa que não entendo, é que todos gostam de olhar para o mulherio com quem se cruzam e tecer comentários, uns mais elogiosos que outros. Mas ai do gajo que fizer isso à irmã mais nova ou, pior ainda, a uma filha! Pois, tenho uma novidade para vocês: não há irmã mais nova, namorada, esposa, mãe, prima ou filha que escape a uns olhares mais atenciosos de vez em quando e a um ou outro comentário (e coisas piores, de vez em quando, mas não estou a tentar provocar um AVC a ninguém). Aprendam a viver com isso. Enquanto os homens gostarem de assediar, as mulheres vão ser assediadas. Nós já fizemos as pazes com o assunto, mas parece-me que os homens não. 

Não estou, de maneira nenhuma, a defender a promiscuidade (masculina ou feminina), mas acho essencial existir um meio termo. Quando me dizem "quando for a tua irmã mais nova, vais perceber" posso dizer, sinceramente, que não, não vou perceber. Espero, do fundo do coração, que nenhuma das minhas irmãs mais novas case com o primeiro pamonha que encontrar, porque isso tira a piada toda à coisa e não lhes vai dar oportunidade de descobrirem o que realmente querem e gostam. E digo o mesmo em relação aos meus irmãos mais novos (sim, somos uma grande família). Ao mesmo tempo, não fazia sentido querer que os meus irmãos, porque são rapazes, andassem com meio mundo e ficar à espera que as minhas irmãs se fechassem em casa a sete chaves, porque são meninas e parece mal. Se elas quiserem e forem felizes assim, isso já é outra história, mas quero que elas pensem pela cabeça delas e que não sejam influenciadas pelos preconceitos de uma sociedade extremamente desigual. Igualdade é podermos ter todos direito às mesmas escolhas sem sermos julgados de maneira diferente, com base no nosso género. E tudo começa em casa, quando nos parece bem que o nosso filho tenha 5 namoradas diferentes ao mesmo tempo, mas a nossa filha não pode sair de mini-saia à rua.

terça-feira, 2 de junho de 2015

Mais um texto sobre as licenciaturas em Portugal...

Agora chamam-se "mestrados integrados", mas toda a gente sabe que vai dar ao mesmo. E vamos falar sobre isto porquê? Porque acho que é uma temática que ainda não foi debatida o suficiente (é favor ler esta frase com uma entoação irónica).
Apesar de ser um assunto mais conhecido que o tremoço, continua a não levantar tanto interesse como o campeonato de futebol ou os vestidos dos Globos de Ouro mas, fazer o quê, as coisas são mesmo assim. E é pena. É pena que sejamos uma geração que se indigna tanto e, por outro lado, tão pouco.

Ultimamente ouve-se muita gente dizer que Portugal tem licenciados a mais e, logo a seguir, muita gente a responder que não, que nunca podem ser a mais.

O que é que eu acho? 

Primeiro, acho que em Portugal há, claramente, a cultura do diploma e do "sô dotor" e do "sô engenheiro". Toda a gente acha que tem que tirar um curso. Um curso qualquer, pouco importa se gosta, se tem jeito, se vai ter emprego, o que importa é ter o curso, o diploma e um título. Continuamos a ser um país em que se dá mais valor a alguém com um curso superior que a uma empregada das limpezas. Esse é o primeiro ponto em que estamos tão estrondosamente errados. Todas as pessoas valem o mesmo como seres humanos, independentemente do que fazem para ganhar a vida (desde que não andem a roubar ou a matar, vamos manter-nos dentro da legalidade, vá). Não vai servir de muito um país cheio de doutores se depois não vamos conseguir encontrar ninguém que seja capaz de nos explicar porque é o carro está a fazer um barulho estranho ou substituir os azulejos da casa de banho. Toda a gente devia ter o direito a poder ter uma boa qualidade de vida, independentemente do que faz (ao contrário do que temos agora, em que, independentemente do que façamos, estamos sempre na merda e para não estarmos ou temos que ter cunhas, ou primos ou saber do segredo de alguém). Eram precisos salários mais justos, impostos mais baixos, era preciso darem pernas às pessoas e às famílias para elas poderem andar. Era preciso acabar com a cultura instalada dos estágios, essa praga, que não passa duma valente treta para nos dar a ilusão de que estamos a diminuir o desemprego. Era preciso acabar com a mentalidade de que "o que é bom é ter trabalhinho, mesmo que trabalhes 10 horas por dia, 6 dias por semana, para teres 500€ na conta ao fim do mês, porque mais vale isso do que estar em casa!". Nós queremos trabalho, não escravatura. Porque é que a senhora que nos limpa a casa não pode ter direito a ir passar uns dias ao Algarve com a família? Não trabalhou o ano inteiro? Pois então, tem tanto direito a descansar como qualquer outro. 

Segundo, Portugal tem, de facto, licenciados a mais. Mas também tem licenciados a menos. Passo a explicar. Na hora de decidir quantas vagas vão ser abertas para que cursos, é preciso ter em consideração as necessidades do país, no presente e no futuro, ou então dá cagada (como está a dar). Não se podem formar dentistas, enfermeiros, psicólogos, designers, entre tantos outros, aos pontapés, como se tem feito. Nem se podem continuar a deixar os médicos que trabalham no serviço nacional de saúde completamente sobrecarregados, como estão. É preciso fazer as coisas conscientemente. Portugal tem, neste momento, tantos licenciados a serem formados em algumas áreas que até para os mercados de trabalho estrangeiros começam a ser demais e as portas estão a fechar-se, cada vez fazem mais exigências e querem mais anos de experiência. É preciso reduzir drasticamente o número de vagas em muitas áreas e aumentar noutras. Lá está, é preciso fazer as coisas com cabeça e não aos pontapés e ao melhor estilo de República das Bananas, no qual somos verdadeiros especialistas.
Não tarda muito vamos ser o país onde se vai poder fazer uma sessão de psicoterapia enquanto se pagam as compras no hipermercado porque a menina da caixa vai ter uma licenciatura (mestrado integrado, desculpem!) em psicologia e depois vamos querer encontrar um serralheiro e vamos correr o país duma ponta a outra sem sermos capazes de encontrar nenhum que faça a mínima ideia do que está a fazer.