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terça-feira, 20 de setembro de 2016

My Little Troyes

Para quem não sabe (aka, quem anda a dormir ou é novo por aqui), há alguns anos atrás mudei-me para Troyes. Cidadezinha caricata que me calhou na rifa, muito agridoce, com a qual tenho uma relação assumida de amor-ódio. O clima é uma merda porcaria, nunca está bom. Nunca. Muito frio, muito calor, muita chuva, muito vento, é sempre "muito" alguma coisa. Os passeios são escorregadios (o que faz todo o sentido numa cidade onde neva), algumas pessoas são antipáticas a um nível que nunca antes tinha imaginado possível e tudo está fechado ao domingo. Mas, apesar de todos estes defeitos, é uma cidade bonita, acolhedora e que me vai deixar muitas saudades, se um dia daqui sair.

Digam-me lá se o raça da cidade não é fotogénica!











quarta-feira, 13 de julho de 2016

La Vie en France #18

De cada vez que eu penso que não haverá muito mais a partilhar convosco sobre a vida em França, eis que surge sempre mais qualquer coisinha caricata para vos contar. 

Hoje não vos trago nada de novo, vamos voltar à questão dos bons hábitos de higiene. Um assunto já deveras debatido aqui por mim, mas não quis deixar de partilhar convosco mais um de muitos momentos gloriosos. Afinal de contas, se ao fim de mais de dois anos eu continuo a conseguir surpreender-me, então é porque merece ser contado.

Pois que, como sabem (se não sabem é porque não andam atentos) fui passar uns dias a Paris e voltei ontem para casa. Como de costume, tinha que apanhar o comboio na Gare de l´Est e decidi que ia almoçar por lá, num restaurantezinho da gare, onde já comi algumas vezes. Entrei, peguei no meu tabuleiro, pus-me na fila e pedi uma lasanha. Enquanto esperava que a dita cuja fosse aquecida, mandaram-me avançar para a caixa e eu, que sou uma pessoa muito obediente, avancei. Já estava a conta paga quando me trouxeram o meu pedido. Eu pego na caixinha da lasanha e, mal baixo os olhos, vi que tinha um cabelo. Pronto, são coisas que acontecem, não me ia chatear com ninguém por causa daquilo. Chamei a menina que estava na caixa e mostrei-lhe a lasanha, crente de que tudo seria muito fácil de resolver. Era só darem-me outra e eu ia embora, contente. Pois, só que não. A menina da caixa solta um aborrecido suspiro e enfia os dedos (aqueles dedos cheios de lixo de andarem a mexer em dinheiro e cartões multibanco) na minha lasanha, tira os cabelos e dá-ma de volta. Até se me arrepiou a espinha. Completamente em choque (sim, eu ainda fico em choque com estas coisas, vá-se lá perceber) disse-lhe (ainda a tentar manter-me educada) que tivesse paciência, mas que eu não ia comer aquilo. Ao fim de alguns segundos a olhar para mim com um olhar assassino (por momentos, cheguei a pensar que ela estava à espera que eu entrasse em combustão espontânea), lá me trocou o prato, mas sempre a protestar e a bufar por todos os lados. Sim, porque francês que é francês gosta tanto de protestar como não gosta de se lavar.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Bom dia, alegria

Os dois últimos dias foram dias de folga. Sabe-me pela vida ter folgas a meio da semana, um luxo ao qual nunca tive direito quando trabalhava em Portugal e pelo qual, mais de dois anos depois de ter emigrado, ainda me sinto extremamente agradecida, especialmente, tendo em conta o ritmo de trabalho louco que tenho.

Os dias por aqui têm andado bem cinzentos, a chuva não nos larga, o calor não chega e confesso que há momentos em que dou por mim a perguntar se não estarei a começar a sofrer de depressão sazonal. Mas, há que combater o cinzento (embora até seja uma das minhas cores preferidas!) e aproveitar todos os raios de sol a que temos direito, ainda que escassos.

Da última vez que partilhei fotos de Troyes, fiquei com a impressão de que gostaram. Por isso, hoje deixo-vos mais um bocadinho da minha cidade: o coração (literalmente), que fica ao lado do canal e onde ontem fomos aproveitar um bocadinho do bom tempo, que faz tão bem.

Boa quinta-feira!








terça-feira, 26 de abril de 2016

Rain, rain, go away...

... come again another day. De preferência, um dia em Outubro, daqui a 6 meses, e deixa-nos aproveitar a primavera, por favor. 

A primavera chegou há um mês e houve ali uma altura em que eu ate já estava a ficar animada e mais bem disposta e com vontade de ir às compras e de pensar nas minhas férias. Pois que este fim-de-semana voltou a chover, arrefeceu imenso e eu, que já me estava a preparar para lavar e guardar o meu edredão de inverno, voltei a deparar-me com noites em que os termómetros chegam aos 0ºC e, não só tive que deixar o edredão no sítio, como tive que ir buscar os pijamas de inverno. Toda uma tristeza!

E eu não preciso de tristezas nesta fase da minha vida, que já anda triste por si só. A Isabel (uma das minhas melhores amigas, que vivia em Troyes e é a razão pela qual eu vim para cá trabalhar) foi embora no início do ano e está a começar a ser difícil estar aqui. Nos fins-de-semana acabo sempre por ir a casa de alguém ou ter alguém a vir a minha casa, mas o problema tem sido o dia-a-dia. Acordar, ir trabalhar, sair do trabalho e voltar para casa. Para o silêncio das minhas quatro paredes. Todos os dias. Ando numa fase de desmotivação profunda e isso tem-se notado no blog, peço desde já desculpa. Só me apetece fazer as malas e ir embora. Mas ir embora para onde? Portugal continua a estar um bocado fora de questão, o desemprego não me apela minimamente e ser explorada apela-me ainda menos. E depois há outra questão, já há quase 2 anos que estou aqui, já me habituei ao meu trabalho e às minhas colegas, sobretudo à minha assistente, e não me apetece deixar estas pessoas todas para trás. Mas, depois dou por mim a passar o dia inteiro em pijama e odeio esta sensação de nada para fazer, literalmente, nada. E sei que tenho que mudar. Não sei para onde, não sei quando, não sei como. Mas dei a mim mesma até ao fim do ano para me decidir. 

Se dependesse só de mim, pegava já nas coisas e ia para uma ilha tropical trabalhar em frente à praia (Martinica, me aguarda). Mas não depende só de mim, tenho um namorado em Portugal, que não está nada decidido a sair de lá. Decisões, decisões. Ser adulto é espectacular, toda a fase da minha vida em que os meus pais tinham o direito de decidir por mim foi horrível. Bem, não toda, fui uma criança muito feliz, mas lá pelos 11 anos, com o divórcio e todo o circo que veio atrelado, foi horrível. E agora não é horrível, agora é perfeito. Mas é difícil na mesma. 

Bem, sol, espero que apareças em breve, porque tenho a certeza que me vou sentir muito melhor!

quinta-feira, 21 de abril de 2016

La vie en France #16

Ontem, no auge das minhas pesquisas pelo vasto mundo da Internet, dei de caras com este artigo

Se estão com preguiça de o irem ler, eu faço-vos um resumo: basicamente, a Universidade de York fez um estudo e chegou à conclusão de que a solidão pode ser tão má para o coração como o tabaco, sendo que as pessoas solitárias (especificamente, por uma questão de distância) têm 32% de probabilidade de virem a sofrer dum enfarte. Quer dizer, eu não fumo, não bebo, faço exercício e tenho uma alimentação relativamente saudável e, txanam!, como moro a 1000 km de casa, estou tramada na mesma. Ainda de notar que, a solidão pode ter efeitos directos no sistema imunitário, pormenor que achei extremamente curioso porque a verdade é que, desde que vim para França, estou constantemente doente. Palavra de honra que já não me lembro de passar 6 ou 7 meses seguidos sem ficar doente com alguma coisa.

Pois não é que, ainda hoje de manhã estive a contar à minha assistente estas minhas recentes descobertas e, à hora de almoço, noto que tenho um gânglio inchado no pescoço. Disse logo uma carrada de palavrões (para mim mesma, que os franceses não sabem onde é Portugal, mas digam-lhes "caral***" e sabem todos que é asneira). Mais alguns sintomas depois, percebi que estou doente outra vez. Para ter a certeza de que não estava a alucinar, fui confirmar com duas das minhas colegas (uma das quais, é a minha médica) e, é oficial, estou doente. Desta vez, é uma virose e há-de passar sozinha, mas raisparta o número da sorte. Acho que é caso para dizer que França me deixa doente (literalmente). 

Ainda mais trágico é concluir que, a ser verdade o estudo da Universidade de York, o nosso país não só nos empurra para a emigração, como para toda uma vida de maleitas várias. Obrigada, Portugal! (É favor ler este último parágrafo com ironia qb). 

terça-feira, 12 de abril de 2016

La vie en France #15

França é um país caricato, cheio de pessoas caricatas. Normalmente, venho para esta rubrica queixar-me do facto de que grande parte dessas pessoas caricatas cheiram bastante mal ("bastante mal", ah ah ah, eu e os meus eufemismos), mas hoje resolvi ser simpática e vou tecer-lhes um elogio.

Faz-me imensa impressão ir a Portugal e ver animais abandonados por todo o lado. Ainda somos um país com uma mentalidade relativamente atrasada em relação a este tema, mesmo quem tem animais, muitas vezes, considera-os seres vivos de segunda categoria. Ora, por aqui, isso não acontece. Não há animais abandonados na rua, e toda a gente que conheço e/ou vejo com animais de estimação, duma maneira geral, tratam-nos bastante bem. 

Palminhas aos franceses, que neste aspecto são bem melhores que nós, portugueses.

Depois, claro, há os exageros. Porque França não seria França e os franceses não seriam franceses, se não houvesse o exagero. E por exagero refiro-me, especificamente, à maluca desdentada que se passeia no autocarro com uma ratazana pousada em cima do ombro. Sim, leram bem: uma ratazana. Um bicho enorme, com uma cauda enorme (e que consegue ter melhor aspecto que a dona) e que se passeia alegremente a subir e a descer pelos braços da dita cuja. É ver o autocarro a passar, com a maluca sentada à janela e o seu bichinho de estimação peludo pousado num ombro, qual papagaio dum pirata. Continuo convicta de que o filme Ratatouille foi inspirado em factos reais. Adiante. Temos, ainda, por cá, uma outra criaturinha muito engraçada que gosta de passear os seus três furões numa trela, pelo centro da cidade. Mas pronto, esses acabam por ser fofos. A ratazana é que não.

terça-feira, 22 de março de 2016

Reims

Os fins-de-semana em França, sobretudo quando não se tem cá ninguém, rapidamente se tornam aborrecidos. Especialmente ao domingo, quando tudo está fechado. Ora, neste que passou, decidimos pegar em nós (e no carro da Cláudia) e fomos até Reims.

Reims não fica muito longe de Troyes, a cidade onde eu estou a viver (e da qual nunca partilhei grande coisa convosco, tenho que mudar isso). É uma cidade consideravelmente maior, mas não chega aos calcanhares de Paris (há alguma que chegue?). Não há demasiada confusão nas ruas (nem demasiado lixo) mas já se tem a sensação de que se está numa cidade digna desse nome. 

Metemo-nos no carro ao fim da manhã, chegámos a Reims à hora de almoço e depois passámos lá a tarde. Esteve sempre um frio de rachar e super cinzento (yay, primavera!) , acho que nem chegámos a ver o sol... mas, mesmo assim, foi um dia bem passado.

Querem ver?





Cristiano Ronaldo a espalhar charme pelas ruas de França

A Ópera



As Galerias Lafayette de Reims (que estavam abertas!) 





Eu, a morrer de frio à porta da Catedral (lá dentro estava igualmente frio)

Pormenor da entrada





O altar foi dos pormenores do interior da catedral que achei mais bonitos

A Capela de Joana D'Arc

Parte lateral da catedral vista do exterior










Ruínas romanas




Igreja de Santa Clotilde

terça-feira, 1 de março de 2016

La vie en France #14

Não me interpretem mal: eu adoro a minha vida em França e estou eternamente grata a esta país por me ter recebido e me ter dado condições de vida que o meu próprio país nunca me deu. No entanto, há uma coisa à qual eu não me consigo habituar. Uma pessoa quase que pensa que sim, que já não se incomoda mais com isso, mas não, afinal incomoda-se (e muito).

Sinto que já falei disto imensas vezes aqui, mas o caso é tão dramático, que tenho que o trazer à baila mais uma vez, isto é gira o disco e toca o mesmo: a falta de higiene e o consequente mau cheiro. Porquê, pessoas, porquê? Qual é a necessidade, a sério?

Eu até tentei compreender (não consegui, mas a sério que tentei) que, no pino do verão, esta gente fedesse mais que um par de meias sujas cozinhadas em molho de cebolada e alho. Continuo a achar que um bocado de água e sabão resolvia grande parte do problema e que um desodorizante seria um óptimo investimento para muita gente mas, ao menos tinham a desculpa de que estavam 40º C e uma pessoa passava o dia (e a noite) a destilar suor. Agora, alguém me explique, como é que se consegue cheirar a transpiração de 15 dias em pleno inverno? A sério, por favor, alguém que me elucide. É que eu nem consigo imaginar, com este meu cérebro inocente de pessoa limpa, o que é que será preciso fazer para se cheirar tão mal. E a roupa? Como é que a trazem sempre tão suja? Já cheguei a pensar se França não terá uma espécie de epidemia de casos graves de daltonismo, porque algumas nódoas são tão visíveis que das duas, três: ou não distinguem as cores, ou é alguma espécie de fashion statement (já imagino o título da próxima edição especial de moda da Vogue Paris: Dirty is the new black) ou então são só mesmo muito porcos. 

Ainda me lembro de pensar "é mesmo pena não haver um shoping nesta cidade, dava jeito para ir às compras quando está a chover ou frio". No outro dia, entrei nos correios e fez-se luz: não pode existir um shoping. Quanto menos espaços fechados existirem, melhor, porque são um atentado à saúde pública. O pior de tudo são os comboios, onde já chegámos a ver carraças (e já nem me vou dar ao trabalho de falar do metro em Paris, porque para esse acho que a única solução é incinerarem as carruagens e porem tudo novo).

Será que foi só em Portugal que crescemos ao som de frases inspiradoras como "Branco mais branco, não há" ou "O algodão não engana"? A verdade é que saímos de Portugal muito mal habituados. Tão mal habituados que passamos muitas vezes por uns "exagerados" no que diz respeito à higiene, o que não deixa de ser irónico: eles não são porcos, nós é que somos muito limpos. Yeah, right.



sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

La Vie en France #13

Já esta semana tinha aqui escrito que estava doente. Pois que, na minha inocência, eu achava que era só uma constipação. A cada dia que saía da cama a sentir-me como se tivesse passado a noite a ser repetidamente atropelada por um camião, pensava "isto passa". Não passou. 

Não só não passou como foi ficando cada vez pior. Na quarta-feira dei por mim a pensar se ia ser capaz de aguentar trabalhar o dia todo. Aguentei. Aguentei, sobretudo, porque estou sempre a ouvir que os estrangeiros abusam e que querem é vir para cá para não fazer nada e não queria que dissessem isso de mim. Ontem é que, como se costuma dizer, foi o fim da picada. Saí da cama a rastejar, tudo me doía, tinha dormido extremamente mal, não suportava a luz nos olhos e mal me aguentava de pé. Não sei como é que aguentei a caminhada até ao trabalho, ainda por cima com temperaturas negativas. Soube que estava mesmo mal quando cheguei à clínica e, em vez de ouvir "Bonjour!", como todos os dias, ouvi "oh la la!". Estava mais branca que a minha bata, com os olhos vermelhos, o nariz a pingar, mal podia falar e sentia a cabeça a andar à roda... A minha sorte é que a minha médica trabalha na porta em frente ao meu gabinete e me atendeu assim que pôde. Ainda trabalhei de manhã, mas acabei por ter que dizer que realmente não aguentava mais e vim para casa de baixa, onde continuo, enfiada na cama, de onde só saio para três coisas: ir à casa-de-banho, comer ou tomar os medicamentos. 

França tem sido um verdadeiro desafio para mim, a nível de saúde. Eu, que sempre fui uma gaja saudável, desde que aqui cheguei parece que estou constantemente doente. Desta vez, é uma sinusite aguda. Que não precisava de ter chegado a este ponto se eu não tivesse sido teimosa e tivesse ido à médica logo na segunda-feira. Agora estou a antibióticos (que me estão a deixar muito mal do estômago). A cabeça continua a andar à roda mas, lentamente, começo a ter menos dores a respirar melhor. Agora é dar tempo ao tempo e continuar a ligar à minha mãe e à minha avó de cada vez que preciso de mimo. 

Fico revoltada comigo mesma por me ter deixado chegar a este ponto. Ainda por cima, trabalhando na área da saúde... I should have known better. Mas, também sei que foi, em grande parte, por não querer fazer papel de coitadinha, por não querer que pensassem que me estava a fazer de vítima ou a aproveitar-me das circunstâncias, como tantos outros estrangeiros fazem. E, apesar de me estar a sentir um autêntico farrapo, também sinto algum alívio por saber que toda a gente constatou, com os seus próprios olhos, o quão mal eu estava e que precisava mesmo de vir para casa curar-me. É triste, mas às vezes é assim a vida de emigrante. 

E por aí, como está a correr a vossa semana? Melhor que a minha, espero. 

(Reparei agora que esta edição da rubrica "La vie en France" é o número 13. Nem de propósito isto teria corrido tão bem).




quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

La Vie en France #12

Ah, que saudades que tinha desta rubrica. Verdade seja que, ultimamente, tem andado adormecida porque, para meu espanto, não tem havido nenhum episódio caricato, digno de ser partilhado convosco. 

Até ontem.

Já nem se pode dizer que seja caricato porque, como eu costumo dizer, "em França, tudo o que pode correr mal, corre mal" e, assim sendo, caricato é quando algo nos sai bem à primeira. Uma coisa com a qual ainda não tinha tido problemas aqui são as encomendas online. Regra geral, com quanto menos pessoas tiverem que interagir para conseguirem fazer alguma coisa, melhor ela vai correr. Pois que, no passado fim-de-semana fiz uma encomenda no site da My Protein francês, onde já tinha feito encomendas antes, sem problemas, e paguei a entrega ao domicílio. Na terça-feira, recebi um e-mail da empresa transportadora a dizer "recebemos a sua encomenda, que lhe será entregue quarta-feira, 20/01/2016, entre as 8h e as 18h". Adorei o intervalo de horário que me deram, umas meras 10 horas, mas estava de folga, por isso, podia ficar em casa. Além disso, no próprio dia costumam enviar uma sms de manhã a dar um horário de passagem mais preciso.

Na quarta-feira, ontem, acordei cedo (vai que se lembravam de chegar mesmo às 8h da manhã e eu ia ter que descer as escadas de pijama e com as marcas da almofada na cara?), tomei o pequeno-almoço, pus a dar a série "Call the Midwife" e fiquei à espera... continuei à espera... e ainda esperei mais um bocadinho. 

"Bem, se calhar aproveitava e aspirava a casa". Aspirei. E continuei à espera. 

"Hmm, já estou a ficar com fome, vou fazer qualquer coisa para o almoço". E fiz. E almocei. E continuei à espera.

A tarde passou-se, vagarosamente, entre canecas de chá e episódios de "Call the Midwife", com pausas para xixi, que não há bexiga que aguente tanto chá, e nem sinais da minha encomenda. Às 17h30 pensei "filhos da mãe, vão fazer-me esperar mesmo até à última". Só que a "última" chegou e a minha encomenda não. Tentei manter a calma, tanto quanto possível, depois do dia perdido que tinha sido e liguei para a transportadora. 20 minutos com a chamada em espera, para ser atendida por uma imberbe que, depois de eu explicar o meu problema e após ter ido averiguar o que se tinha passado, me diz, descontraidamente:

"Ah sim, a sua encomenda continua aqui connosco. Não faço ideia do que se terá passado. Mas pode passar aqui para a vir buscar, se quiser."

Hmmm... Não, não quero. Para ir aí buscá-la, não tinha feito o pagamento da entrega ao domicílio. 

"Ah, bem, então vamos ter que reprogramar a entrega. Era só para evitar fazê-la perder mais um dia em casa."

Ao que eu respondi que se me faziam "perder mais um dia em casa" se iam arrepender amargamente e ela sugeriu, então, deixarem-me a encomenda no posto de correios mais próximo de minha casa, só "por via das dúvidas" e eu ia levantá-la quando quisesse. Por esta altura, já eu estava a deitar fumo pelas orelhas. Não é o facto de a entrega não ter sido feita, toda a gente erra e podia ter acontecido em qualquer lado. Mas só aqui é que se encontram estas personagens, perfeitamente à vontade com a sua própria incompetência, como se serem maus no seu trabalho fosse um direito que lhes assistisse e gozar com a cara das pessoas uma das suas funções.

Já dizia a minha avó: Deus me dê paciência e um paninho para a embrulhar. 




domingo, 17 de janeiro de 2016

Entre mantas e chás quentes

Pois que a malta andava toda a comentar que este inverno andava muito ameno e eis que o frio decidiu dar uns ares de sua graça.
Pessoalmente, não sou nada dada a frio. Quando começam a soprar as primeiras brisas mais frescas no Outono é ver-me logo a desencantar cachecóis, pijamas polares, mantas de pêlo e a pensar quando é que será socialmente aceitável ligar o aquecimento. Apesar de não ser pessoa de frio, no último verão sofri tanto com o calor aqui em Troyes que, estranhamente, até me sinto agradecida pelo tempo fresco. De cada vez que me lembro de que passei semanas quase sem conseguir dormir nesta cidade do demo, que não está minimamente preparada para o tempo quente, até me sinto a desfalecer. Aqui não há piscinas ao ar livre (nem praia, logicamente, mas isso já uma questão geográfica), não há parques, não há jardins... não há sequer uma porcaria dum banco que fique debaixo duma árvore. Aliás, nem sequer há árvores, pelo menos, não no centro da cidade, onde eu vivo. Há umas amostras raquíticas de árvores aqui ou ali, mas que não servem para dar sombra a nada maior que um caracol. Foram meses de terror. 

Assim sendo, recebi o outono com bastante mais alegria que o habitual e, agora que o inverno (finalmente) chegou, sinto até algum alívio. Apesar de me custar sair de casa às 7h30 da manhã para ir a pé para o trabalho, há algo de reconfortante nas camadas de roupa, nas camisolas grossas e nos cachecóis. Sabe bem estar em casa de pantufas, com uma camisola polar ou de pijama e roupão fofinho, com uma caneca de chá a ferver, uma vela aromática acesa, enquanto vejo um filme. Claro que ajuda imenso o facto de as casas serem altamente aquecidas. Em Portugal, apesar de não estar tanto frio como aqui, acho muito mais desagradável estar em casa, porque são raras as que têm aquecimento central e, para mim, não há nada pior que a sensação de estar dentro da própria casa com frio que, ainda por cima, no Porto é um frio húmido e extremamente desagradável, do qual não há roupa suficiente que me salve. Mas pronto, aqui por Troyes vou-me consolando com canecas de cappuccino e papas de aveia com banana e canela. 




terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Quase de volta a casa e devaneios vários

E quem bate palmas está exausto (clap, clap!), está exausto (clap, clap!), está exaustoooo!

Pois, é isto, gente, estou exausta, daí esta minha introdução espectacular. Gostaram? Óptimo.

Quinta-feira de manhã vou entrar no avião com destino a Portugal e não vejo a hora de aterrar em território lusitano, mas até lá ainda me restam dias muito intensos pela frente. Trabalho, trabalho, trabalho... fazer a mala, fazer as últimas compras de Natal (como chego no dia 24, tenho que levar tudo daqui)... as minhas enxaquecas voltaram a atacar e em grande, só tenho vontade de estar no escuro, de olhos fechados, a sentir o latejar da minha pulsação dentro da cabeça (não porque isso me agrade, mas porque é o que me acontece). Brufen, como eu gosto de ti.

Adiante. 

O meu calendário do advento da Kinder está quase no fim e, a cada chocolate que como, fico mais ansiosa porque é menos um dia que falta para ir embora (e para ser diabética). Estou mesmo com muita vontade de ir para casa. Às vezes dou por mim a pensar que já não sei o que é a minha casa. Que nunca soube. Decididamente, não é Troyes. Não deixo de ver esta cidade como um lugar onde estou de passagem. Uma passagem que já dura há quase dois anos mas, ainda assim, uma passagem. Não sei para onde irei a seguir, mas para Portugal também não vai ser, quase de certeza, porque não há nada lá para mim, exceptuando o bacalhau e as rabanadas que vou enfardar daqui a uns dias. E pão-de-ló. E queijo da serra. Já sinto o colesterol a entupir-me as artérias e ainda nem comecei a comer. Em Janeiro o ginásio cá estará à minha espera! Por agora, o que me espera é o meu país. O meu país que, apesar de em alguns momentos chegar a acreditar no contrário, continua a ser a minha casa. 


terça-feira, 1 de dezembro de 2015

La vie en France #12

Bem, parece que ultimamente só tenho feito posts sobre este tema, mas a verdade é que é um assunto sobre o qual há sempre alguma coisinha a dizer.

Hoje trago-vos mais um exemplo da boa eficiência francesa, que eu adoro e que me inspira todos os dias da minha vida (só que não).

Aqui em França, quem vive numa casa alugada tem que pagar um imposto de habitação. A cartinha chega pelo correio, com um destacável que se pode assinar e mandar de volta, também, pelo correio, num envelope próprio, que eles também fornecem. Até aqui, tudo parece muito simples. Pois que, eu enviei o meu pagamento e 15 dias depois ainda não tinha sido debitado. Liguei para lá e disseram-me, muito tranquilamente, para ter calma porque com isto dos atentados tinham alargado os prazos. Hoje, uma semana mais tarde, continuam a não ter debitado o dinheiro. Tentei ligar, mas só tive direito a ouvir o atendedor de chamadas automático, pelo que peguei em mim e me dirigi pessoalmente à repartição das finanças. Quando, finalmente, chegou a minha vez de ser atendida, expliquei o meu problema e a funcionária limitou-se a olhar para mim, impávida e serena e a encolher os ombros. Ficámos ali a olhar uma para outra durante uns segundos, em silêncio, durante os quais apenas pestanejámos e, quando eu já me estava a perguntar se ela sofreria de algum tipo de autismo, eis que ela decide falar:

"3 semanas realmente já é algum tempo. Mas espere mais uma semana e, se continuar igual, passa aqui e deixa-nos um cheque."

Ok, até aqui tudo bem. Mas, uma vez que tinha o meu livro de cheques comigo, perguntei se não podia deixar já um cheque e ficar descansada, sendo que a resposta que tive foi mais um encolher de ombros, mais um suspiro e um muito aborrecido "Se você quiser". Sim, eu queria. Eu queria pagar a porcaria dos impostos e não ter que pensar mais no assunto. Passei o cheque e, quando lho dei para a mão, perguntei "Não vão descontar o dinheiro duas vezes, pois não?". Pois que, senhora criatura de Deus sorri e diz (com mais um encolher de ombros, pois claro): "É assim, pelo seu bem, espero que não!". Como assim, espera que não? Se eu deixar aqui o cheque não fica logo registado que está pago? Não anula o outro pagamento que mandei por correio e que anda só-Deus-sabe-onde? "Não". Aparentemente, os computadores e a Internet ainda não chegaram às finanças francesas.

Moral da história: vim embora com o cheque e vou esperar mais uma semana. Sendo que, a julgar pelo discurso de hoje, daqui a uma semana arrisco-me na mesma a pagar duas vezes o mesmo imposto. 

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

La vie en france #11

Nos últimos dois dias estive em Paris para um congresso. Não fazia grande questão de ir, mas lá fui meter-me na confusão e tentar aprender alguma coisa de novo.

Foram dois dias muito animados e extremamente cansativos (mas ponham extremamente nisso), acho que preciso de dormir uma semana inteira só para recuperar. 

Foi por estarmos tão cansados ontem ao fim do dia, que decidimos que merecíamos apanhar um táxi para ir do Palácio dos Congressos até à gare. Calhava bem haver uma praça de táxis mesmo perto do palácio, nós estávamos carregados com malas, carteiras e sacos e mais sacos da exposição e lá fomos nós, contentes da vida porque não íamos passar, mais uma vez, pela agonia que é andar no metro de Paris. A coisa começou bem assim que saímos do Palácio: um vendaval com rajadas a 200km/h (estou a exagerar, mas é para perceberem que estava mesmo muito vento), chuva, frio. Nos 40 metros que separavam a porta do Palácio da porta do táxi, deu-se lugar a toda uma epopeia digna duma cena de filme: guarda-chuvas a partir, cachecóis contra a cara, saias pelos ares, qual Marilyn Monroe, qual quê. Lá entramos no táxi. Ufa.

Senhor Taxista arranca. Já sabíamos que íamos perder o comboio das 18h12, mas talvez desse para apanhar o das 18h42. Senhor Taxista diz que vai ser difícil, porque está muito trânsito. Primeira coisa que se deve saber sobre o trânsito em Paris: ninguém respeita ninguém. Segunda coisa que se deve saber sobre o trânsito em Paris: ninguém apita para vos chamar a atenção duma asneira que tenham feito; as pessoas apitam para vos avisarem de que vão fazer uma transgressão e precisam de espaço, do género "arreda-te para onde puderes que está vermelho, mas eu quero andar". Senhor Taxista resolveu que nos ia "comer em molho de cebolada" (expressão muito bem aplicada pela Cláudia) e ganhar uns trocos extra para um café e andou a fazer um passeio turístico pela cidade, em vez de nos levar directos. Como se não bastasse, senhor taxista deve ter obtido a carta de condução na caixa dos Chocapic, pois parecia nunca ter ouvido falar de regras de trânsito. Está vermelho? Não faz mal, é para andar. Ah, mas está verde para os outros carros? Azar, eles que passem por cima. Estão peões a atravessar a rua? Contornem o carro, que se têm perninhas é para andar. A dada altura, senti-me como se estivesse numa cena do "The Walking Dead", quando uma multidão de gente que queria atravessar a rua avança furiosamente em direcção ao táxi que, por sua vez, quase conseguia atropelar dois ou três. Foi aqui que a Cláudia decidiu fechar a janela, pois mais valia aguentar os 27 graus que estavam dentro do carro do que levar um banano dum transeunte enraivecido. 

Finalmente, começámos a aproximar-nos da gare. Senhor Taxista passa mais um semáforo vermelho. Desta feita, foi embater numa mota, atirando a dita cujo e o respectivo condutor ao chão. Senhor Taxista nem pestaneja. Depois do dia épico que estávamos a ter, eu vi o homem a cair e pensei "está morto" e tirei o cinto de segurança, a preparar-me para sair do carro, assim como outro dos meus colegas. Senhor Taxista lá pensou que seria boa ideia sair do carro e ir avaliar os estragos. Não houveram estragos. O homem estava bem e de saúde, sem nada partido. Senhor Taxista atirou as culpas para o autocarro que estava quieto e sossegado sem estorvar ninguém.

Chegámos à gare. Perdemos o comboio das 18h42, mas pudemos ir ao Starbucks beber um Gingerbread latte e começar a recuperar de toda esta emoção.


Gingerbread latte. Aconselho vivamente.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Pedaços de fim-de-semana #8

Sabe-me sempre bem recordar o fim-de-semana. 

Esta semana sabe-me ainda melhor, porque devia estar de folga terça e quarta e, na realidade, vou estar no congresso. Como se o congresso já não fosse suficientemente cansativo, foi por esta altura que, há um ano atrás, me roubaram a carteira no metro de Paris. Vamos pensar positivo: este ano há tanta polícia em Paris, que não me parece que os carteiristas consigam ter muita sorte. Vamos pensar negativo: há tanta polícia porque anda gente à solta que gosta de se explodir. Adiante.

Neste fim-de-semana, o frio chegou em força. As temperaturas negativas voltaram e eu já não vivo sem o aquecimento ligado. Toda uma tristeza. É o pior desta cidade: ou está muito frio, ou muito calor, ou muita chuva, ou muito vento, ou uma combinação de múltiplas destas variantes. No sábado, a única coisa que fiz, além de trabalhar de manhã, foi ir ao supermercado e, a seguir, enfiei-me em casa.



Almoço: massa com salmão, camarão, molho de coco e lima

Chazinho para aquecer depois das compras

Chá e bolachas de arroz com chocolate negro

Sábado sentia-me exausta, por isso tentei deitar-me cedo. No entanto, as estrelas não deviam estar alinhadas a meu favor (nem do meu sono) porque foi uma noite de insónia terrível, que resultou numa dor de cabeça gigantesca no domingo de manhã. Qual a melhor maneira de curar uma dor de cabeça ao domingo de manhã que uma caneca de leite com chocolate? Um brufen, poderão vocês dizer. E se não disserem, digo eu, até porque foi o que tomei. Mas, também houve espaço para o leitinho com chocolate, que tomei já de regresso à cama, com a minha série.

Nesquik, aka o meu melhor amigo para manhãs miseráveis

Estou a gostar muito desta série

Ao almoço, tive a companhia da Mariana, o que me obrigou a vestir qualquer coisa que não fosse o pijama e o roupão (mas pude guardar as pantufas!)

Coisas fofas

A nossa quiche. Tão boa que ficou!

Depois de almoço, ainda começámos a ver um filme. Quase que adormeci, mas entretanto decidimos sair e ir ao café, para aproveitar os raios de sol (enganadores, porque estava um frio de gelar).



Look de domingo
Quando voltei para casa, depois duma chávena de chocolate quente (que me soube pela vida), já estava com energia suficiente para fazer o meu treino (que tenho de fazer 5 vezes por semana). A seguir pude tomar o meu banho e voltar para o conforto do meu pijaminha.


A melhor máscara de cabelo que experimentei nos últimos tempos

E pronto, assim se passou mais um fim-de-semana: na preguiça total.


E o vosso fim-de-semana, como foi? Alguma coisa de excitante? Contem-me tudo (=