terça-feira, 9 de junho de 2015

Revoltas e coisas que tais

Ser português, às vezes, é muito difícil.
É difícil viver no nosso país, por razões várias e extremamente conhecidas por todos, mas também é difícil viver noutro país. O estatuto de imigrante dá-nos logo direito a sermos considerados como seres menos inteligentes que os demais, pessoas que pronto, coitadinhas, ficam contentes com qualquer coisinha que se lhes dê. Falam-nos mais alto (senhores, eu sou portuguesa, não surda) e, pior, é quando usam o tom de "eu sou muito melhor que tu, é tudo uma questão de nacionalidade e a tua é uma merda". Ainda para mais, França continua a ver Portugal como o cantinho do terceiro mundo, onde todos somos roliços e temos bigode e andamos a saltitar pelos campos, quais animais selvagens, com fome, mas felizes. Continuam a existir pessoas que ficam admiradas quando respondemos "é óbvio que em Portugal temos autoestradas", partem todos do pressuposto que estou a trabalhar como porteira (excepto quando me conhecem em contexto de trabalho e, nesse caso, ficam simplesmente admiradíssimos por eu ser portuguesa) e que só como bacalhau (até comia e de bom grado, se nesta terra, por vezes maldita, se conseguisse encontrar um bacalhau decente).

Pois que, hoje tive que ir fazer uma radiografia. Nunca fui tão mal tratada na minha vida como naquela clínica. Desde as secretárias a revirarem os olhos umas para as outras (além de surda, também não sou cega), ao tom com que me falaram e à "amabilidade" da técnica, foi tudo espectacular. Em vez de esperar meia hora pelo resultado, como toda a gente, tive que esperar 50 minutos mas, pronto, às tantas eram mesmo precisos os 50 minutos e não quero estar aqui a ser mete nojo. 
Quando acontecem estas coisas, a minha vontade é, por momentos, de chegar a casa, fazer as malas e voltar para Portugal. Apetece-me gritar "QUERO LÁ SABER" e apanhar o próximo avião. Mas, obviamente, que isto dura apenas uns segundos e depois caio na real. Ora, achei por bem ir comprar um pain au chocolat, que é uma coisa da qual gosto imenso e vir para casa comê-lo descansadinha da vida. Ora, mais uma vez, a vida de um português torna-se extremamente difícil. Nós estamos habituados a uma ASAE que até com colheres de pau implica, portanto, há coisas que, por muito que repitamos mentalmente "inspira...expira", não nos caem bem no goto e ponto final, que não há nada a fazer. Foi com horror que, mais uma vez, vi a funcionária a pegar no meu querido pain au chocolat com as mãos. Não é a primeira vez que isto me acontece (e não vai ser a última, definitivamente), mas hoje estava decidida a não deitar fora uma coisa pela qual paguei só por ter vergonha e não querer ser implicativa. Fiz o meu maior sorriso e perguntei à senhora se tinha lavado as mãos. Juro que fui o mais educada que uma pessoa pode ser ao fazer este tipo de pergunta. E, para espanto da minha alma, ela responde-me que não e ainda fica ofendida. Ainda pensei "queres ver que afinal sou mesmo surda? De certeza que para me estar a falar assim, é porque me respondeu que sim". Mas não. E a dita cuja ainda acrescentou: "Então não viu que eu estava a falar ao telefone quando chegou? É óbvio que tenho as mãos limpas!".
Epah, pára tudo, que eu peço já desculpa, não fazia ideia que os telefones em França são assim tão à frente! É que o meu, coitado, dá para fazer chamadas, mandar mensagens, tirar fotos, ir à net... mas desinfectante incorporado ainda não tem! Falha minha. Claro que não fui capaz de lhe responder isto, só engoli em seco e fiz um sorriso amarelo.
E não é que a criatura ainda respinga: "De qualquer maneira, como é que quer que eu faça???".
Aí, vi-me na obrigação de lhe responder e apresentei-lhe todo um leque variado de opções, que são conhecidas nesse país (dito atrasado!) que é Portugal. Mesmo assim, ela ainda arranjou coragem para me responder "Pois, mas olhe, aqui somos obrigados a fazer assim" e eu só tive pena que em França não exista o bendito do livro de reclamações (tentem fazer uma reclamação em França, desafio-vos. Seja no serviço que for, dou um prémio a quem conseguir, mas isso vão ser conversas para outro texto, que este já vai longo).

14 comentários:

  1. Não quero acreditar...a sério!? Mas que grande falta de noção!!!

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  2. Credo!!! Ai os franceses não primam nada pela simpatia nem pela higiene... Ainda bem que no nosso "atrasado" Portugal não somos assim tão "à frente" nesses aspectos!
    beijinhos
    http://direitoporlinhastortas-id.blogspot.pt/

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  3. Credo que horror, mas infelizmente isso é assim em todo o lado .
    http://doubletrouble-blog.blogspot.pt/
    beijinhos

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  4. Ai que vontade de dar chapada em pessoas assim. É que depois ainda acham que têm razão. Além de falta de higiene ainda tinha falta de noção.
    Beijinhos

    http://thesunnysideoflifeblog.blogspot.pt/

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  5. Portanto, em França não existem luvas de qualquer tipo?...:O

    (qual foi o leque variado de opções que lhe apresentaste, já agora? :P pensei que isso se resolvesse com uma simples luva, ou qualquer coisa limpa que servisse de barreira entre a nossa mão e o alimento)

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    1. Eu disse-lhe que podia usar uma tenaz, uma luva, o próprio do saquinho onde se põem as coisas ou até um simples guardanapo.

      E sim, em França existem luvas, o que não existem são boas maneiras e bons hábitos de higiene... (diz que no sul é diferente, mas ainda não fui lá ver)

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  6. Não existe livro de reclamações em França?

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    1. Não =p falarei sobre o drama de fazer uma reclamação em breve, prometo.

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  7. quando tive em paris houve um problema com a nossa subida ao arco de triunfo e quem nos atendeu foi uma portuguesa!

    www.pinkie-love-forever.blogspot.com

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    1. Não sei qual foi o problema, mas acredita que se tivesse sido uma francesa, teria sido pior =P

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    1. E um paninho (ou uma toalha de praia) para a embrulhar

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  9. r: também já apaguei vários comentários sem querer haha acontece-me sempre que tento publicá-los no telemóvel. Nunca acerto no sítio :)

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