Não, não fui eu que fiz anos, mas sim a minha vinda para França. Não me lembro do dia exacto em que vim, com uma mala cheia de tralha e a cabeça cheia de medos e, ao mesmo tempo, de esperança, mas o meu contrato fez um ano no dia 2 de Maio, o que quer dizer que cerca de uma semana antes eu já cá estava.
Lembro-me de chegar e de ter medo de tudo: da língua, das pessoas, do trabalho. Mas, a decisão estava tomada e não me restava alternativa a não ser dar o meu melhor. E ainda bem que o fiz. A língua acabou por não se revelar um desafio assim tão grande, as pessoas acabaram por se revelar um desafio muito maior que a encomenda, mas nada que não se faça com uma boa dose de paciência e uma assistente espectacular.
Lembro-me do primeiro apartamento onde vivi aqui, um estúdio manhoso, emprestado pela empresa para me ajudarem nos primeiros meses. Horrível, sem luz, com um colchão tão velho e mole que uma pessoa mexia-se e tinha a impressão que ia cair da cama abaixo e, o pior de tudo, sem internet (e com baratas, que era para o caso de eu me sentir sozinha). Agora penso "mas como é que eu fui capaz de aguentar viver ali???", mas a verdade é que fui e durante quase 4 meses. Deu para começar a pôr algum dinheiro de lado, o que foi uma grande ajuda para depois alugar e decorar o meu apartamento, fofinho que só ele (não é para ser convencida, mas toda a gente que cá vem me diz que o apartamento é espectacular. Eu concordo, é a minha casa e só isso vale muito).
Lembro-me de ter recebido a carta a dizer que estava de urgência no dia 25 de Dezembro e de chorar como uma perdida mal cheguei a casa. Acabou por ser um Natal fofinho, porque o meu namorado veio passá-lo comigo. Mas não foi a mesma coisa. Será que alguma vez vai voltar a ser a mesma coisa?
Lembro-me de ir pela primeira vez ao supermercado e de ficar escandalizada com o preço da fruta, dos legumes e da carne. Agora, é quando vou a Portugal que fico confusa com o "pouco" (está entre aspas porque sei muito bem que para os salários portugueses continua a ser imenso) que pago nos cafés e restaurantes.
Entre o trabalho, o ginásio, as horas com os poucos amigos que aqui tenho, as horas sozinha, o tempo foi passando. Os dias transformaram-se em semanas, que passaram a meses e puf, enquanto o diabo coça um olho, já se foi um ano inteiro. O balanço? Para já, é positivo. Continua a ser doloroso, mas foi positivo. A nível profissional e financeiro, deram-me a possibilidade de evoluir que nunca me deram em Portugal, onde anda meio mundo a rebaixar-se por estágios, recibos verdes e situações profissionais que nunca hão-de levar a lado nenhum e o outro meio a aproveitar-se e a enriquecer com a situação. A nível pessoal, as dúvidas mantêm-se: será que fiz bem? Será que devia ter lá ficado? Assim como assim, tinha trabalho (a mais. E dinheiro a menos). Será que algum dia vou poder voltar para casa? Sim, porque um ano depois, continuo a dizer que a França não é a minha casa, nem nunca o será. É um lugar de passagem, onde estou bem, mas o meu coração não está aqui, está em Portugal. Com o tempo uma pessoa habitua-se, até porque acabamos por aprender aquilo que a minha Isabelinha me foi sempre dizendo ao longo deste ano: "Portugal está sempre lá para nós". E como é bom saber isso.
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